O feriado de terça-feira em São Bernardo tumultuou ainda mais o trânsito em Santo André. Tumultuou de forma generalizada, não apenas nas áreas centrais. O caminho da roça de toda semana que faço ao Centro Velho foi infernal na terça-feira. Havia excesso de tudo nas ruas e nos estabelecimentos comerciais. Santo André é uma cidade-dormitório que simplesmente pararia de vez se além de São Bernardo, outros municípios da região e a Capital comemorassem aniversário de fundação ou de emancipação na mesma data.
Escrevi ainda recentemente (veja artigo no link) que provavelmente mais de 50% dos moradores de Santo André trabalham fora do Município. Assim como os de São Caetano. Estou convicto sobre isso depois da terça-feira que vivi no trânsito de Santo André. Uma cidade sem emprego capaz de atender à demanda da própria população, como no passado festejado no “viveiro de indústrias” do hino oficial, é uma cidade a caminho da desqualificação da cidadania.
Por essas e por outras fazem na política local muito mais que é suportável. Por exemplo? Essa história que corre nos tribunais de que o prefeito Carlos Grana virou prefeito mas do cargo de prefeito pode ser apeado pela Justiça Eleitoral porque teria acobertado, incentivado ou liderado uma tramoia tecnológica para botar uma declaração do então titular do Paço, Aidan Ravin, em telefonemas madrugada adentro no dia da disputa do segundo turno.
As redes sociais estão bombando sobre o assunto. Recebi um material detalhadíssimo sobre a movimentação das pedras judiciais. Não vou me estender em contar o que a maioria já sabe ou deveria saber. O que sei é que não duvido de nada. Carlos Grana fez acordos com os diabos para chegar ao Paço Municipal de Santo André, assim como seu antecessor fechou os olhos e se entregou de corpo e alma a todos os diabos da praça.
Raposas no comando
O que esperar de uma Santo André desfalecida economicamente e cujo esgarçamento como sociedade se materializa a cada dia com a evasão de trabalhadores em direção a outros endereços se a maioria dos mandachuvas que permanecem em suas fronteiras é composta de raposas na arte de conjecturar e promover controles orçamentários públicos que nem de longe estão direcionados a amenizar uma desindustrialização contínua e seus efeitos destruidores?
A relação histórica entre Santo André e São Bernardo sempre foi permeada pela rivalidade no campo político, econômico e esportivo. Era uma disputa com grau de positividades. Disputavam-se riquezas, conquistas, lideranças no sentido competitivo do conceito. É claro que passivos não deixavam de comprometer a equação, mas havia também polos ativos a contrabalançar.
Quando se observa hoje que um feriado do outro lado provoca uma nítida transformação ambiental saltam preocupações sobre os riscos desse desiquilíbrio. São Bernardo da Anchieta e da Imigrantes foi virando aos poucos um jogo dominado por Santo André da estrada de ferro e agora dá de lavada em todos os setores.
Na política, Carlos Grana tenta resistir mas é Luiz Marinho seu chefe. Tanto que o braço-direito do prefeito de São Bernardo, o advogado Luiz Fernando Teixeira, conduziu os bastidores para o financiamento da campanha do candidato que superou Aidan Ravin. Carlos Grana é um prefeito refém dos interesses de São Bernardo. Pensa que tem liberdade, mas todos sabem que há limites a obedecer.
No esporte, São Bernardo agora é dona da bola dos Jogos Abertos, poderio que Santo André perdera há muito tempo para São Caetano, e no futebol o time de Luiz Fernando Teixeira está atrasado no cronograma de liderar o espaço na região, mas investe forte para acelerar o ritmo e compensar as fundas deficiências que dinheiro não consegue comprar.
São Bernardo domina
Na economia, base de tudo, Santo André desintegrou-se no que reunia de mais precioso, um setor de pequenas e médias indústrias de base familiar que amoldou uma classe média que São Bernardo jamais teve ou terá com o mesmo perfil, e depende basicamente das montadoras vizinhas ou do polo petroquímico que divide com Mauá.
Se fosse possível traçar uma linha do tempo que definisse um placar circunstancial envolvendo o clássico Santo André e São Bernardo, considerando-se um coquetel de indicadores econômicos, sociais e esportivos tangíveis e intangíveis, certamente o resultado seria desalentador à primeira.
Santo André desabou ao longo dos anos na esteira da fragilização industrial e mesmo sem ter sido jamais exemplo de capital social, como os demais municípios locais, sofreu reveses e rebaixamento também na capacidade de reagir aos abusos dos donos do pedaço. São Bernardo já não é a mesma de tempos gloriosos mas, para efeitos internos, manda e desmanda na política, no esporte, na economia e na imensa possibilidade de repassar como valores absolutos o mundo estreitíssimo dos mandões públicos.
Que futuro tem um Município como Santo André que se esvazia no começo de cada manhã em cada rua e avenida em direção a vizinhos da Grande São Paulo e que recolhe no começo da noite essa massa cansada de um dia inteiro de trabalho, sem força física e sem interesse intelectual para ao menos tentar compreender o ambiente em que está metida?
Quando os gatos saem, os ratos fazem a festa.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!