Quando a chefia de uma corporação é incompetente mas é sustentada por conta de acordos, principalmente no setor público, os índices de idiossincrasias são intolerantes a quem tem um passado como testemunho de dedicação ao trabalho. Fosse o dinheiro público mais bem vigiado também na operacionalidade dos tentáculos que movem interesses circunstanciais, estariam em maus lençóis muitos engravatados que se articulam nos escaninhos do poder com reverência humilhante, embora se apresentem aos subordinados como todo-poderosos.
Há uma gama de servidores públicos que honram a camisa que vestem, mas grupelhos protegidíssimos por padrinhos e madrinhas de agremiações partidárias infestam o ambiente e comprometem a produtividade, quando não a ética e a moralidade.
Quanto mais próximo do poder político central um servidor público, mais se deve desconfiar do quanto incula de subalternidade e quanto é um facilitador de atividades muito abaixo dos pressupostos dos interesses sociais.
Soubessem os contribuintes quantos atravessadores estão a gerir os recursos amealhados de impostos, o movimento nas ruas de junho não teria fim. Essas ervas daninhas são selecionadas a dedo pelos poderosos de plantão e muitas das quais são especialistas em destrincharem todos os códigos de perpetuação no entorno do poder instalado ou a ser instalado. Os carreiristas da subjugação plena em nome de um cargo de destaque são geralmente gentes escoladas na arte de trair e se coçam todo quando desmascarados, mas seguem firmes e fortes porque guardam segredos que até Deus duvida dos superiores hierárquicos. Até segredos de alcova, se é que me entendem. Isso quando não participam de cambalachos regados a vinhos de cartas selecionadíssimas.
Se servidores públicos de carreira e mesmo comissionados que dedicam atenção ao trabalho pudessem contar com a discrição de alguma tecnologia indevassável à curiosidade de invasores os relatos sobre chefias indolentes que se prestam a lustrar as botas de vaidade e de sujeiras dos chefes que as mantém nos cargos seriam aterradores.
Campo muito fértil
O Poder Público é um campo sempre mais fértil que qualquer outro na propagação e na sistematização de delitos de chefias comprometidas com desígnios que passam ao largo de medidas republicanas. Os mandachuvas departamentais e institucionais estão sempre com a chibata da caneta ao alcance de um pedido de retaliação à mão.
No setor privado as camadas sobrepostas de esculacho da atividade profissional são menos tensas e menos suscetíveis a perseguições porque não existe uma fórmula mágica que produza recursos financeiros ante a escassez de talentos a superar a concorrência. Mais dia menos dia o acerto de contas virá.
No setor público há sempre muitas alternativas de incrementar receitas. Aumentar impostos sempre foi a mais democrática e demoníaca.
Os paus mandados do setor público mobilizam-se com a certeza de que jamais serão incomodados e o fazem com intensidade porque o período do mandato do poderoso da vez dosa a intensidade da fome de poder. Há um prazo de validade nem sempre renovado. Portanto, quando mais se extrai, melhor.
Trouxas juramentados são os leitores que acreditam na ladainha de todo começo de mandato de executivos públicos que anunciam moralização de costumes, ao propagarem demissão de levas de comissionados. Não demora nada nada para a substituição da tropa sem transparência alguma. Exércitos de comissionados, salvo as exceções de praxe, constituem a prática de uma ação coordenada em forma de mensalão duplo. A face do mensalão ganha a forma de cumprimento de promessa eleitoral. A contraface é o repasse de parte dos vencimentos ao titular do cargo. Há profusão de vereadores com adicionais múltiplos de vencimentos retirados dos holerites de cabos eleitorais travestidos de assessores.
Nem todo comissionado é sanguessuga, evidentemente. Há gente qualificada que sobrevive à mediocridade geral. São exceções à regra que incomodam porque o perfil de certa independência nem sempre é um bem a ser exposto.
Moedas de troca
Comissionados são uma das moedas de troca manipulados para manter sob o cabresto a rede de colaboradores de confiança. Ter informantes, mais que colaboradores, é um dos princípios do que se convencionou chamar de administrador pragmático. Ter colaboradores fieis aos princípios doutrinários do gestor público é a prova de maturidade administrativa. Princípios doutrinários não são o que se imagina que sejam, ou seja, o programa oficial de atividades do poderoso de plantão, mas as regras não escritas e não documentadas sobre como proceder ante as muitas situações do dia a dia ditado pelos humores e horrores da máquina pública. Qualquer semelhança com a etimologia subjetiva de laranja não é mera especulação.
É claro que político precavido também não abre mão de alguns comissionados de alto nível, contributivos, os quais dão roupagem de seriedade à administração. Essa é uma maneira engenhosa com que se pretende reduzir o grau de maledicência da corporação interna e irradiar credibilidade ao público externo.
Não faltam aos comissionados distantes de maracutaias obstáculos que se interpõem ao acesso à chefia, nem subterfúgios que lhes pareçam fazer parte de um time sério, quando, de fato, eles só integram atividades sem interesse à produção de riqueza paralela. Se é que me entendem.
A Província do Grande ABC está infestada de protegidos em postos chaves tanto na forma de ocupação de espaço hierárquico como também de ações informais que visam a encabrestar os profissionais de carreira invariavelmente dóceis e sempre temerosos de medidas que possam atrapalhar a aposentadoria que se avizinha, porque a máquina móvel dos servidores públicos, ou seja, os comissionados da vez, segue rigorosamente o princípio de elevar os poderosos de plantão a um patamar de inatingibilidade aos simples mortais.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!