Vou dar uma empolada na linguagem para vender no bom sentido o que em circunstâncias normais, de cidadania consolidada, deveria ser repassado sem alarde algum: embarque em novas estações editoriais da história da economia do Grande ABC que retratamos como nenhum outro veículo do País e curta o que sugerimos. São 17 matérias recuperadas nos acervos da revista LivreMercado (publicação que dirigi durante 19 anos) e também da newsletter Capital Social Online, predecessora deste site.
Fui aos arquivos digitais e separei cuidadosamente mais esse naco de conhecimentos que, ao ingressar no mundo da Internet, provavelmente se eternize. Nossa perspectiva é que não faltarão pesquisadores que, um dia (ou será que já estão em campo?) mergulharão para valer em investigações fora do roteiro suspeito do oficialesco.
Aliás, vão se dar mal jovens e adultos que, ao reconstruírem a história econômica do Grande ABC, se meterem na selva de imprecisões de instituições diversas, inclusive acadêmicas. A desertificação é tão chocante quanto o descompromisso. Aliás, uma coisa está ligada à outra.
O embarque nesse trem editorial começa com matéria publicada em março de 1990, primeiros tempos de LivreMercado. Tanto nesse caso como nos seguintes, vamos esquecer os títulos originais. A maioria foi adaptada por conta de afinidade gráfica deste site. Mas a essência é rigorosamente a mesma. Sob o título Esvaziamento industrial da região compromete poderio econômico, mostramos o que chamaria de tema-eixo da linha editorial que adotamos na então melhor revista regional do País. Apresentamos um apanhado da situação que se delineava para o Grande ABC do futuro. O tempo tratou de mostrar quem tinha razão.
A próxima parada é de dezembro de 1996, quando, sob o título Mão-de-obra tecnológica exige cruzada regional, ouvimos a pesquisadora do então Imes (Instituto de Ensino Superior de São Caetano), Maria do Carmo Romeiro. A especialista relacionava o futuro do Grande ABC aos próximos quatro anos, sobretudo no fortalecimento da educação voltada à profissionalização da mão-de-obra. Não é preciso medir o tamanho do prejuízo, depois de 14 anos.
Já na edição de fevereiro de 1997, a terceira parada, sob o título Indústria de Minas Gerais atropela Estado de São Paulo, antecipamos que os mineiros, destino preferencial das indústrias que deixaram a Região Metropolitana de São Paulo (Grande ABC incluído) transformaram-se no Estado que mais cresceu na Federação.
Em abril de 2000 escrevi uma análise inédita em cima de uma encenação ufanista que constava do chamado Caderno de Pesquisa da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, então sob os cuidados do cenarista João Batista Pamplona. Sob o título Muro de tecnologia separa pequenas e grandes empresas, denunciei que um preocupante Muro de Tecnologia dividia as indústrias do Grande ABC.
A quinta parada dessa volta ao mundo do Grande ABC foi publicada em julho de 2000 sob o título Como se preparar para não repetir erros do Grande ABC?. Faço abordagem relativamente ampla sobre o que empreendedores privados, administradores públicos e a comunidade do Interior do Estado poderiam aprender com o histórico de desenvolvimento econômico do Grande ABC. Houve quem me execrou por isso.
Menos de um ano depois, em abril de 2001, sob o título Por que paramos de crescer e não somos mais espelho?, demos um banho histórico sobre o comportamento do PIB do Grande ABC em relação a várias instâncias da Federação. A conclusão: entre 1970 e 1996 vivemos montanhas russas e nos demos mal.
A sétima parada para abastecimento data de 8 de agosto de 2003. A matéria foi publicada sob o título Pequenos negócios refletem declínio da classe média na edição da newsletter CapitalSocial Online. Denunciamos a queda da classe média do Grande ABC, em larga escala erigida durante a fase de implantação e consolidação do setor automobilístico.
Também tem como fonte CapitalSocial Online, de 25 de agosto de 2003, a oitava parada na estação de conhecimento da economia regional, sob o título “Governo federal fecha os olhos para o Grande ABC“. Escrevemos que os dois pulmões que fizeram o Grande ABC economicamente forte não estavam na alça de mira do governo federal que, após vários meses de discussões, definiu os setores que seriam beneficiados por uma política industrial voltada ao crescimento econômico sustentado.
A nona parada para embarque de novas informações com valor agregado se deu na edição de 26 de agosto de 2003 de CapitalSocial Online, sob o título “Mais chumbo grosso em nosso coração econômico“. A pauta era o setor automotivo do Grande ABC, vítima da descentralização misturada com destrambelhamento macroeconômico.
A décima parada foi impressa no CapitalSocial Online de 6 de outubro de 2003, sob o título “Nem São Caetano segue crescimento médio do País“. Revelamos que, segundo critérios e metodologia aplicados no IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) entre 1991 a 2000, nem São Caetano conseguiu melhorar a qualidade de vida dos habitantes no ritmo da média nacional. Era o peso dos anos 1990 sobre nossas cabeças.
Também em 2003, mais precisamente em 7 de outubro, CapitalSocial Online apresentava a 11ª parada sob o título “Grande ABC mais pobre, por isso menos desigual“, o que chamaria de uma paulada contra a disparatosa interpretação de informações de estudo do Instituto de Pesquisas do Imes (agora Centro Universitário de São Caetano). “Seria acintoso não fosse provocativo o conjunto de enunciados do trabalho da pesquisa do Imes” — escrevi, referindo-me à matéria do Diário do Grande ABC.
E o que dizer então da 12ª parada, que, sob o título Grande ABC sente abalos no epicentro da crise econômica, em matéria publicada na edição de junho de 2005 de LivreMercado, apresentava balanço da perda do PIB do Grande ABC no período de 1996 a 2003? A força desse trabalho jornalístico reside no fato de que sempre enfrentamos uma maré de industrializadores de mentiras.
A edição de janeiro de 2006 de LivreMercado reservou uma Reportagem de Capa sobre o novo balanço da queda do Produto Interno Bruto. Sob o título Nosso PIB segue ladeira abaixo. É hora de reagir, mostramos que a participação relativa do Grande ABC no bolo nacional sofreu queda de 46,39%. Os usurpadores da verdade ficaram estarrecidos, mas não deram o braço a torcer. Essa 13ª parada é de lascar.
Em agosto de 2006 o jornalista André Marcel de Lima escreveu a 14ª parada desta retrospectiva. Sob o título Grande São Paulo segue marcha batida de perdas, mostramos que ao comparar dados das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílio do IBGE entre 1992 e 2004, as receitas das regiões metropolitanas regrediram ou avançaram muito pouco em indicadores econômicos e sociais quando confrontadas com a média nacional.
Na edição de janeiro de 2007, escrevi para LivreMercado outra vez sobre a queda do PIB. Sob o título PIB do Grande ABC cai quase à metade desde 1970, revelava que a situação do Grande ABC seguia inalterada — entre 1970 e 2004, a participação relativa dos sete municípios no PIB brasileiro caiu praticamente à metade, ou 44,85%. Uma 15ª parada indigesta.
Como a 16ª parada, da edição de maio de 2007 de LivreMercado. Sob o título Grande ABC volta a ficar atrás do potencial mineiro, contamos que os sete municípios do Grande ABC foram novamente superados por Belo Horizonte no Índice de Potencial de Consumo preparado então pela Target Marketing. Potencial de Consumo é espécie de PIB de despesas das famílias brasileiras.
Por fim, na 17ª parada dessa retrospectiva imperdível para quem leva a sério viver no Grande ABC, reproduzimos matéria de maio de 2008 de LivreMercado. Sob o título Ganhamos mais ricos, menos pobres e ficamos em terceiro, revelamos que a economia regional começava a sair do atoleiro dos anos 1990: uma nova rodada de estudos da Target conferia pelo menos três boas notícias à região: ganhamos mais ricos, reduzimos o contingente de pobres e de miseráveis e retomamos o terceiro lugar no ranking nacional de Potencial de Consumo. Pena que, agora, neste 2010, caímos para o quinto lugar.
Todo o material estará disponível aos leitores a partir desta segunda-feira, 10 de maio.
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