Economia

Crise e recomposição

DANIEL LIMA - 05/04/1998

Em nenhum trecho do artigo ABC Paulista: crise ou recomposição?, desdobramento da matéria Que mentira que lorota boa da edição de março desta revista, o executivo da Fundação Seade justifica eventual equívoco desta publicação. A essência da matéria publicada por LivreMercado é uma análise detalhada e recheada de números sobre a afirmativa de Luiz Henrique Proença Soares de que não há  evasão industrial e consequentes perdas econômicas do Grande ABC.


 


Como sabem os leitores, evasão industrial é assunto de históricas avaliações desta publicação. Em nenhum trecho do artigo agora publicado está solidamente contestada aquela interpretação. Mais que isso: embora faça tentativas de minimizar a situação, o próprio executivo do Seade acaba por ceder à realidade, em vários trechos da peça que pretendera utilizar como instrumento de esclarecimento.


 


Convém ressaltar que o executivo da Fundação Seade foi solicitado a detalhar e justificar as estranhas declarações sobre o que chamou de mito da desindustrialização na região, publicadas originalmente no Diário do Grande ABC, mas por razões diversas não manteve contatos com esta publicação. Os contatos com sua assessoria foram claros e específicos, mencionando-se com detalhes a posição desta revista. Após a publicação da matéria, a própria assessoria do executivo solicitou a possibilidade de esclarecimentos. Em vez de reservar espaço na coluna específica para os leitores (LM Leitor), a direção de LIVRE MERCADO dispôs-se a algo mais minucioso, mais detalhado, de forma a ser utilizado como artigo que acabou ganhando a forma e o conteúdo da matéria ABC Paulista: crise ou recomposição?


 


Em realidade, o que se tem hoje no Grande ABC, e não é de hoje, é algo que se encaixa sob um título parecido ao criado pelo executivo da Fundação Seade. A diferença está no fato de que Luiz Henrique Proença Soares, certamente por não viver a realidade regional, coloca crise e recomposição como fatos excludentes, enquanto esta revista prefere crise e recomposição como realidades conectadas, interligadas, e que exigem todo um arrazoado, que não cabe necessariamente agora ser vasculhado, para tentar chegar à cronologia exata da origem de um e de outro. Algo parecido com o desafio de tentar responder o que veio antes: o ovo ou a galinha?


 


Como gelatina


 


Certo mesmo é que, embora tenha tentado restringir a coleta de dados econômicos a alguns períodos menos desfavoráveis à realidade de crise e de recomposição, fatores que resultaram no esvaziamento econômico regional, a argumentação do representante da Fundação Seade tem consistência semelhante à da gelatina. Basta reler a matéria publicada na edição de março, confrontá-la com a estóica tentativa de defesa do representante do Seade e constatar que provavelmente ele se encontra na mesma situação de desconforto do canibalesco Mike Tyson após a mordida que arrancou um tampo da orelha de Hollyfield.


 


De qualquer modo, restrições à parte, o artigo de Luiz Henrique Proença Soares demonstra que aquela instituição do governo do Estado tem em seu quadro de colaboradores profissionais preparados para desvendar muitos dos caminhos tortuosos que estes tempos de globalização criaram. Pena que, na busca de defender o indefensável, provavelmente porque soa politicamente correto inflar o ego do Grande ABC nestes tempos de dificuldades socioeconômicas, um desses profissionais tenha  cometido atentados a uma realidade quem nem o mais apaixonado dos moradores da região ousa mais contestar -- o evidente esvaziamento econômico provocado pela evasão industrial --, motivo, aliás, da usina de mobilização que se vive internamente em forma de Fórum da Cidadania, Consórcio Intermunicipal e Câmara Regional.


 


Uma pena que, disposto a colecionar argumentos para contestar o incontestável, o representante da Fundação Seade tenha até procurado relacionar as dezenas e dezenas de galpões industriais ociosos no Grande ABC como resultado de novos métodos organizacionais, não a evidentes deserções.


 


Uma olhadinha mais apurada em nova matéria sobre os aspectos fiscais e tributários que envolvem a região, na página 13, refresca a memória sobre as perdas regionais que a Fundação Seade há de comprovar e detalhar este ano, com pesquisas e estudos, nos trabalhos citados pelo executivo Luiz Proença. É disso que se precisa para que os faróis de milha de engajamento da sociedade regional na busca de soluções não percam o foco.


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