Sociedade

Picarelli garante autonomia da
OAB e quer Ouvidoria mais forte

DANIEL LIMA - 29/11/2013

O almoço de ontem com o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Santo André, Fábio Picarelli, foi uma ponte entre interrogações e definições. O dirigente não só procurou esclarecer pontos controversos que fermentaram um ambiente de suspeição na entidade como também assegurou que o processo de escolha do novo Ouvidor da Prefeitura de Santo André será intensamente preocupante para a classe dos advogados. Tanto que defende campanha pela extinção do organismo caso alterações viscerais não sejam aprovadas. Fábio Picarelli não ultrapassa os limites do comedimento em nenhum instante, mas quando se trata de Ouvidoria ele eleva um pouco o tom de voz para manifestar insatisfação pelo que chama de “subutilização” de um instrumento de cidadania.


 


A importância de Fábio Picarelli para a recuperação de uma parcela da institucionalidade geral que se esvaiu na Província do Grande ABC está na raiz do texto que publiquei nesta semana sobre as nuances do relacionamento dele com a Administração Carlos Grana.  Integrantes do Observatório da Cidadania, uma das 58 comissões estruturadas por Fábio Picarelli, estariam se sentindo abandonadas ou pouco prestigiadas pelo presidente da OAB. Picarelli rechaça com o cuidado de quem não quer indispor-se com as colaboradoras Heleni de Paiva e Solange Spertini. “Elas têm toda a autonomia do mundo para fazerem o que consideram mais importante. Não estou distante delas como se insinuou. Lido com elas da mesma forma que lido com as demais comissões, ou seja, dou total autonomia e apoio. Talvez haja uma compreensão diferente dessa postura, mas nada que não possa ser superado” – afirmou Picarelli.


 


O presidente da OAB de Santo André afirma que alguns problemas de ordem pessoal e profissional lhe reduziram a carga de atuação nas últimas semanas na OAB, mas nada que tenha atrapalhado o ritmo coletivo. “Organizamos de tal maneira a OAB que eventual presença menos constante não alteraria o rumo das coisas. Somos um time que joga junto” – afirma.


 


Modelo a disseminar


 


O modelo implantado na OAB de Santo André, que combina densidade de representantes da classe em dezenas de comissões e coordenação que não sufoca a liberdade dos grupos, é o modelo que Fábio Picarelli sonha transplantar para a sociedade de Santo André caso leve adiante o projeto de transformar-se em agente político. Embora contasse com mais de uma dezena de convites de agremiações que pretendiam tê-lo nas eleições proporcionais do ano que vem para a Assembleia Legislativa ou Câmara Federal, Fábio Picarelli optou pelo adiamento do projeto. Somente após deixar a presidência da OAB se sentirá à vontade para mergulhar na política partidária.


 


Trata-se de uma mudança de vida que ele avalia e reavalia permanentemente. Aos poucos sente os efeitos de lançar-se além-fronteiras corporativas. As adesões ao projeto se multiplicam, mas também brotam notícias de que adversários e concorrentes não lhe darão sossego. Não faltam informações sobre suposta aproximação da Administração Carlos Grana. Fábio Picarelli desdenha dos comentários. “Estou com o Grana onde ele acertar e estou contra o Grana onde ele errar”.


 


O lance que provavelmente estabelecerá para valer um divisor de águas entre o que Fábio Picarelli afirma e o que principalmente os petistas divulgam para comprometê-lo com a Administração Carlos Grana é o futuro próximo da Ouvidoria, com eleições programadas para o começo do ano. O dirigente da OAB prefere não multiplicar explicações nem adjetivos para sustentar a convicção de que a Ouvidoria está “subutilizada”. Aos poucos, entretanto, avança o sinal de cautela: ele quer ver um advogado no cargo, em escolha regulamentar de um colegiado com forte influência do Poder Público. Mais que a ocupação do cargo de Ouvidor por um representante da classe, Picarelli afirma que mudanças drásticas precisam ser efetivadas, sob pena de vir a público e defender a extinção do organismo.


 


Ênfase surpreendente


 


A arremetida verbal de Fábio Picarelli contra uma eventual inapetência operacional da Ouvidoria de Santo André surpreende este interlocutor e comensal porque fugiu completamente do tom ameno do diálogo. Picarelli não usou a expressão “extinção” com ênfase, porque desnecessária, mas ante a indagação quase incrédula de que estaria mesmo disposto a levar ao extremo possível insatisfação com a ferramenta de cidadania lançada por Celso Daniel, não demonstra a menor hesitação. “Sim, nesse caso iriamos defender a extinção”.


 


Quem imaginou que o presidente da OAB de Santo André já teria no bolso do colete de intervenção institucional a substituição da Ouvidoria pela Controladoria-Geral do Município nos moldes da implantada na Administração Fernando Haddad, na Capital, e que tantas dores de cabeça tem causado a auditores fiscais e empresários corruptos do setor imobiliário, vai ouvir uma resposta inesperada: “Não tenho informações suficientes sobre a estrutura e a operação da Controladoria-Geral de São Paulo para imaginar que possa ser transplantada a Santo André, mas vou estudar o assunto” – afirmou.


 


Fábio Picarelli sabe que estará cada vez mais exposto à desconfiança fundamentada ou plantada com a finalidade de minar a credibilidade acumulada à frente da OAB. Afirma que já começou a sentir o peso da agudeza idiossincrática de anunciar que pretende ingressar na política assim que deixar a presidência da OAB. Tem procurado amigos para aconselhamentos e reflexões. Mas não esconde que sonha com um grupo numeroso de colaboradores para preparar no devido tempo um plano de governo para Santo André. A experiência das comissões temáticas da OAB catapultaria Fábio Picarelli a um organograma que teria representantes sociais como peças de um imenso mosaico de iniciativas e propostas.


 


Transtornos com entorno


 


O fato de ter procurado este jornalista para esclarecer uma série de interrogações que CapitalSocial levantou nesta semana mostra que Fábio Picarelli não reza na cartilha de autoritarismo comum na Província do Grande ABC. Ele não deixou de lembrar que a matéria assinada por este jornalista lhe criou contratempos, pressões e contrapressões, mas que reconhece a importância do trabalho jornalístico. Aproveitou o almoço para me entregar um convite à sessão solene da próxima terça-feira no Legislativo de Santo André quando seu pai, Franco Picarelli, receberá o título de Cidadão Andreense, indicado pelo vereador petista Eduardo Leite. Picarelli assegura que a homenagem é o reconhecimento de um vereador amigo da família a um italiano que chegou a Santo André como tantos imigrantes e construiu uma história digna.


 


Sempre discreto, Fábio Picarelli é econômico nos comentários e nos adjetivos. Sabe que se propaga um suposto vínculo entre a homenagem ao pai e a gestão petista. Dá de ombros. Sequer considera publicamente a possibilidade de o PT ter articulado a homenagem para subjetivamente vinculá-lo como aliado informal da gestão de Carlos Grana.


 


O presidente da OAB de Santo André é cauteloso. Mede cada frase. E não pode ser chamado de ingênuo, por mais que sugira que seja um aprendiz em política. A decisão de colocar a Ouvidoria na marca de pênalti é uma forma de mandar um recado aos próprios petistas que estariam por trás da disseminação de suposta domesticação da única unidade da OAB da Província do Grande ABC decidida a sair do casulo corporativista. Um recado de que por mais que não queira brigar e por mais que pretende colaborar, haveria um respiradouro estrategicamente reservado à contestação mais dura se houver disposição de manter a Ouvidoria como está. Para Picarelli, “subutilizada”; para outros críticos, uma instância muito aquém da expectativa dos moradores de Santo André e dos princípios que levaram Celso Daniel a criá-la.


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