Em agosto do ano passado o advogado Calixto Antônio Júnior disse a este jornalista que teria um encontro com o promotor criminal Roberto Wilder Filho para contar tudo sobre o chamado escândalo do Semasa. Diria, como disse, que bastava uma devassa nos trâmites burocráticos das 40 maiores obras privadas em Santo André nos últimos anos para escarafunchar meandros da corrupção que tinha como chefe da operação o prefeito Aidan Ravin. Como se sabe, o prefeito não se reelegeu, novo prefeito chegou e nada, nadinha de nada de punir mercadores imobiliários e mercadores públicos. Enquanto isso, na Capital vizinha, o galo canta com o Ministério Público e a Polícia Civil botando muita gente graúda em sobressaltos.
O silêncio pós-denúncias da operação fraudulenta de empreendimentos imobiliários no coração administrativo do Semasa, autarquia de água e esgoto de Santo André, é mais que intrigante. A bandidagem que domina a Província do Grande ABC transmite a sensação de que é intocável. Há conversão a neutralizar qualquer efeito regenerador do tecido social da região.
Não existe praticamente nenhuma diferença entre o escândalo que estourou na Capital paulista e o que antecipadamente estourou em Santo André. Quem puxar o fio do novelo de falcatruas em Santo André vai chegar a outros endereços públicos na região. A máfia imobiliária dá aulas de regionalidade aos políticos e à sociedade que se enfurnam nos respectivos endereços municipais.
Chamem a Imprensa
Já passou da hora de Ministério Público e Polícia Civil de Santo André convocarem a Imprensa para prestar contas das investigações. Provas não faltam para que se deem nomes aos bois que mamam nas tetas da Administração Pública. Há abusos generalizados no setor imobiliário. O Residencial Ventura não foi apurado pelo MP por falta de gente e de material. A Cidade Pirelli foi enterrada depois de produzir ganhos ilícitos. Torres e torres de apartamentos subiram e ainda sobem à margem da legalidade de uso e ocupação do solo.
O advogado Calixto Antônio Júnior, denunciador do escândalo, circunscreveu o mapa da mina da corrupção a 40 empreendimentos, os maiores, mas o buraco é mais embaixo. A maioria das liberações está recheada de ilegalidades, como na Capital.
Cheguei até a pensar em preparar diariamente um placar temporal sobre o vácuo de penalidades que separa as denúncias no Semasa e as apurações do Ministério Público e da Polícia Civil. Desisti da ideia não porque pareceria provocativa, o que de fato seria, mas porque tenho muito a fazer.
Terreno minado
Cada vez mais reforço a convicção de que a Província do Grande ABC é um terreno. Não há espaço à seriedade e, em meio aos constrangimentos que brotam a cada novo escândalo, o jornalismo que se distancia dos poderosos de plantão é uma atividade estúpida, quando não autofágica não recomendável a estudantes de jornalismo iludidos com a generalização de premissas sobre liberdade de imprensa.
Quem imagina que a máfia imobiliária frequentadora assídua dos melhores endereços gastronômicos se sente ameaçada por instâncias legais não sabe da missa um terço. Há tanta certeza de impunidade que não se esgotaram os estoques de arremetidas irregulares. Como há gente séria do setor imobiliário, é sopa no mel contar com fontes de informações confiáveis para o aprofundamento das investigações e das constatações dos assaltos nos cofres públicos.
Lembrar que a máfia imobiliária dá o tom na Província do Grande ABC é sempre um risco, porque há ramificações delituosas ao longo da cadeia de produção, bem como em instâncias outras. Daí a importância de o Ministério Público e da Polícia Civil mostrarem a cara.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!