Sociedade

Deu a lógica: MP da Capital denuncia
MBigucci entre corruptos imobiliários

DANIEL LIMA - 10/12/2013

O resultado não poderia ser outro mesmo, e serve de lição às autoridades da Província do Grande ABC: a MBigucci do empresário Milton Bigucci, badaladíssimo e protegidíssimo pela mídia regional, integra a Máfia Imobiliária denunciada pelo Ministério Público da Capital. Em associação com agentes fiscais da Prefeitura, os mercadores imobiliários reduziram escandalosamente o pagamento do ISS (Imposto Sobre Serviços) aos cofres públicos. O propinoduto na Capital se assemelha ao caso Semasa, em Santo André. A diferença é que o escândalo na região está cercado de mistério e a Máfia Imobiliária regional continua impune, bem como servidores públicos e altas patentes políticas intermediários das irregularidades.


 


Esperar que a MBigucci não constasse da lista de corruptos da Capital seria demais. Quem acompanha CapitalSocial não se surpreende com o desenlace. Os jornais, as emissoras de TV e os sites informaram valores relativos a menos de dois anos de falcatruas. A extensão temporal e monetária das atividades dos agentes criminosos nos dois lados do balcão é muito maior.


 


Como poderia estar fora da relação de corruptos da Capital uma MBigucci que também atua na Capital, mesmo que em menor intensidade do que na Província do Grande ABC, onde seu presidente, Milton Bigucci, é personagem permanente nos corredores públicos?


 


Quem arrematou de forma fraudulenta, numa operação típica de quadrilha, o terreno onde constrói o empreendimento Marco Zero, caso que está sendo apurado pelo Ministério Público de São Bernardo, não agiu episodicamente. Até porque, no escândalo do Semasa há informações seguras de que também participou ativamente. Sem contar que as digitais de irresponsabilidade foram identificadas e registradas pelo Ministério Público do Consumidor de São Bernardo, que considera a MBigucci campeã de irregularidades no setor.


 


Longa ficha corrida


 


Com a ficha corrida da MBigucci nos tribunais e nas instâncias de proteção ao consumidor, e sabendo-se como se sabe que, como conselheiro do Secovi, o Sindicato da Habitação de São Paulo, o empresário participou da máfia que financiou a campanha eleitoral de vereadores paulistanos, nas eleições de 2008, denunciada pelo Ministério Público e penalizada por instâncias judiciárias, seria mesmo muita ingenuidade supor que a MBigucci e empresas coligadas não constariam da relação do escândalo do ISS. A MBigucci tem a corrupção entranhada em suas operações, como tantas outras empresas de um setor queridíssimo da mídia.


 


Milton Bigucci é autoritário o suficiente para acreditar que pode eliminar qualquer tipo de restrição às suas atividades como empresário e também como presidente eterno do Clube dos Construtores e Incorporadores do Grande ABC (a chamada Acigabc, associação do setor). Tanto que move todos os pauzinhos possíveis que a semântica proporciona para silenciar este jornalista. Seu poder econômico tem influenciado decisivamente as sentenças inacreditavelmente desfavoráveis a este jornalista.


 


Espertamente, Milton Bigucci divulga as decisões judiciais sem mencionar que nenhuma das quais está relacionada às denúncias de corrupção em que está envolvido. São algumas frases pinçadas ardilosamente e fora do contexto de cada artigo para induzir os magistrados a acreditar que este jornalista move perseguição pessoal a ele. Pura bobagem. CapitalSocial jamais se serviu a ataques pessoais contra quem quer que seja. O caso é que Milton Bigucci é mesmo quadrilheiro, como tenho cansado de afirmar e o Ministério Público da Capital, finalmente, acabou por confirmar. Agora só falta o MP de São Bernardo concluir o inquérito civil sobre o arremate do terreno em 2008, durante a gestão de William Dib. Uma ação mais que comprovada por documentos que atestam que a quadrilha liderada por Milton Bigucci subestimou a tal ponto a possibilidade de desmascaramento que deixou pegadas de ingenuidade infantil no pagamento das parcelas à Prefeitura de São Bernardo. 


 


O presidente do Clube dos Construtores e Incorporadores e comandante do conglomerado MBigucci é tratado com todo desvelo pela Imprensa regional porque distribui valores publicitários. Até recentemente mantinha proximidade umbilical com o Diário do Grande ABC, mas, desde que o jornal publicou em manchetíssima de primeira página que a MBigucci foi condenada por abusos contra a clientela, a relação azedou. Talvez o distanciamento tenha ocorrido antes da manchetíssima do jornal.


 


Lista é extensa


 


Milton Bigucci é apenas um entre os vários agentes corruptores do mercado imobiliário na Província do Grande ABC que estão na lista de distribuidores de propinas a fiscais municipais e altas patentes públicas denunciadas pelo advogado Calixto Antônio Júnior, então executivo do Semasa, autarquia da Prefeitura de Santo André que expedia licenças de aprovação de empreendimentos imobiliários.


 


Acredita-se que após os desdobramentos do escândalo na Capital, providências serão anunciadas por instâncias policiais e ministeriais que atuaram no escândalo do Semasa. Há um ambiente de inquietação sobretudo nos corredores da Prefeitura de Santo André. A Administração Carlos Grana foi negligente com o caso Semasa, porque assumiu o comando do Paço Municipal em janeiro e simplesmente ignorou as irregularidades.


 


Mais que isso: instalou no comando da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação um amigo de muitos anos do empresário Milton Bigucci, o também construtor Paulo Piagentini. A influência de Milton Bigucci nos bastidores do mercado imobiliário de Santo André é semelhante a de outros municípios. Principalmente em São Bernardo onde, de inimigo, virou parceiro da Administração Luiz Marinho.


 


Tanto que o escândalo do Marco Zero, do terreno surrupiado em licitação dominada por quadrilha comandada por Milton Bigucci, foi engavetado pelo petista. O mesmo petista que, juntamente com Gilberto Kassab, então prefeito de São Paulo, prefaciou um livro lançado por Milton Bigucci no ano passado. O título da obra prima de caradurismo é uma síntese do descaramento do dirigente e empresário: “Em Busca da Justiça Social”.


 


Provavelmente Milton Bigucci tenha conceito diferente do senso comum sobre justiça social. No caso dele, deve ser algo como os milionários se apropriarem de recursos públicos e aplicarem uma parcela ínfima na divulgação de conceitos restauradores da ética e, também, em entidades benemerentes. Tanto que Milton Bigucci faz do apoio a uma entidade assistencial de São Bernardo o carro-chefe do proselitismo de solidariedade. Com o dinheiro dos outros.


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