Sociedade

Será que finalmente vamos ter uma
organização cerebral na Província?

DANIEL LIMA - 19/03/2014

Tomara que os encaminhamentos tenham êxito: é possível que o organograma de regionalidade bastante deficitário desde que Celso Daniel se foi, ou mesmo antes de Celso Daniel ter ido, ganhará um espaço muito especial, porque independente. A constituição de uma entidade cerebral está sendo gestada ainda nos bastidores, tendo este jornalista como um dos responsáveis. Mas antes que cheguem a conclusões precipitadas, vou logo esclarecendo que não repetirei o erro do Diário do Grande ABC em meados dos anos 1990, quanto tutelou o Fórum da Cidadania e ficou encalacrado entre os desdobramentos do movimento e a obrigatoriedade de exercer críticas que contribuíssem para impedir a derrocada que se deu.


 


A ideia ainda está em fase inicial. Começou quase involuntariamente, quando propus aos integrantes do Conselhão Editorial desta publicação, há quase dois anos em regime de descanso, mobilização para encaixar um novo grupo de temas que nos afligem.


 


Pois não é que resolvi tomar outro caminho? O Conselhão Regional está vinculado a essa publicação e seguirá descansando por mais tempo. Quem sabe nem voltará mais à ativa. Tudo vai depender da participação de parte de seus representantes nessa entidade cerebral à qual me refiro. O espectro de atuação do Conselhão Regional estava vinculado a iluminar os caminhos editoriais de CapitalSocial, assim como iluminou anteriormente a revista LivreMercado. A entidade cerebral de que tanto carecemos nascerá e se articulará na comunidade.


 


Ainda não vou reapresentar uma agenda que considero indispensável à consecução de uma ação coordenada de representantes da sociedade. Vou deixar para outra ocasião o que pretendo apresentar pessoalmente num almoço de trabalho com voluntários defensores da instituição. O que mais me preocupa mesmo é ajudar a construir os caminhos que levariam à largada mais que tardia de um projeto que trate as questões prioritárias da região com especial dedicação.


 


Apenas um participante


 


Não quero, não posso e não pretendo ser mais que um participante ativo da entidade cerebral que se desenha, como o fui, aliás, no Fórum da Cidadania. Não vejo outra possibilidade de envolvimento de gente séria senão como uma divisão o mais próxima possível do equitativo. Salvadores da pátria e líderes pretensamente insubstituíveis darão gás durante determinado período, mas acabarão por cavoucar os buracos em que todos serão envolvidos se não houver descentralização organicamente centralizada de atividades.


 


É claro que seria hipocrisia acreditar que o começo dos trabalhos que se descortinam dispense lideranças. Sem que um grupo assuma responsabilidades não haverá força coletiva suficiente à decolagem sem sustos. Mas persistir na dependência dos lideres iniciais seria algo como preparar a aeronave da cidadania regional a um acidente de letalidade fatal. Foi assim, aliás, com o Fórum da Cidadania.


 


Sempre digo aos interlocutores que também sonham com uma entidade cerebral que a experiência do Fórum da Cidadania que vivi não pode ser subestimada em qualquer ação coletiva que pretenda retirar a Província do Grande ABC da pasmaceira institucional de mais de uma década. O período econômico mais fértil da região, desde a chegada de Lula da Silva ao governo federal, quando vivemos retumbantes produção automotiva estimulada por políticas consumistas, teve o contraponto da anomia social. Os melhores momentos do Fórum da Cidadania, em contraste, coincidiram com as consequências de políticas federais que açodaram nossa indústria automotiva.


 


O grande risco que se corre quando se mobiliza gente para dar formato coletivista a determinadas incursões é um tripé de perdição formado pelo gigantismo numérico dos integrantes, pela diversidade temática e pelo personalismo dos líderes. Daí concluir que uma das necessidades básicas da entidade que se pretende criar é fugir na prática, caso a estrutura legal insista em burocratizar a formulação da instituição, do regime presidencialista. Um grupo coordenador seria a melhor pedida à distribuição de tarefas e a divisão dos pesos, sempre tendo como instrumento facilitador um conjunto harmônico de diretrizes básicas.


 


Para pessoas físicas


 


Vou voltar a escrever sobre a entidade cerebral mais vezes, antes da consumação do primeiro encontro que se programa para a primeira quinzena de abril. O sentido será sempre colaborativo. CapitalSocial não participará do projeto que será exclusivamente de pessoas físicas. Diferentemente, portanto, do Fórum da Cidadania que se prendeu a pessoas jurídicas. Participarei como cidadão regional que, por acaso, é jornalista.


 


Reconheço os enormes entraves à conciliação de interesses difusos da sociedade, mas há certos princípios, conceitos e objetivos que eliminarão ou reduzirão grandemente as possibilidades de transtornos. Se não houver o encadeamento de um feixe de cláusulas pétreas a orientar as ações dos interessados em retirar a Província do estado de letargia, sem que as medidas pareçam qualquer coisa encomendada, a tendência é que a bancarrota se instalará em pouco tempo.


 


O grande desafio dos esperados participantes da entidade cerebral que está em gestação é definir uma agenda básica que não seja ampla nem simplória demais para aglutinar cabeças pensantes hoje à deriva, à espera do milagre da improvável combustão espontânea de medidas saneadoras neste território de 2,7 milhões de habitantes.


 


Quem viveu o sonho e o pesadelo do Fórum da Cidadania do Grande ABC não tem o direito de simplesmente acompanhar o circo pegar fogo. Que a entidade cerebral, portanto, tenha a cabeça no lugar e não se deixe cair na tentação de sensacionalismos que não resolvem nada e, muito menos, submeter-se a cooptações por forças articuladas que abominam qualquer proposta que ameace a boa vida que levam. O divisionismo improdutivo da Província do Grande ABC precisa ser combatido porque só interessa a quem parte e reparte e fica com toda a parte. 


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