O milionário Milton Bigucci, comandante de um império regional tão frondoso quanto a ficha corrida no Ministério Público, no qual desponta como campeão regional de abusos contra os consumidores, está em franca exposição midiática. Posar ao lado de autoridades políticas e judiciárias, casos do governador Geraldo Alckmin, do ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab e do titular do Tribunal de Justiça de São Paulo, Renato Nalini, faz parte do plano de recuperação da imagem manchadíssima por causa de série de lambanças.
O site corporativo da MBigucci, empresa nuclear do conjunto de organizações que tem o também presidente do inútil Clube dos Construtores e Incorporadores da Província do Grande ABC como principal vitrine, destaca dois eventos nos quais Milton Bigucci procura demonstrar a força de relacionamentos pessoais, institucionais e corporativos.
Sim, a tríplice dimensão, versão anacrônica de Pai, Filho e Espirito Santos de inteirações de Milton Bigucci com o mundo em que vive, é a marca registrada de quem não separa uma coisa da outra e muito menos outra coisa de muita coisa. Ações simultaneamente pessoais, institucionais e corporativas são comuns em Milton Bigucci. É claro que só age nesse sentido quando lhe interessa – e sempre lhe interessa, menos nas ações que move contra este jornalista. Espertamente, atribui perseguição exclusivamente pessoal aos textos de CapitalSocial para tirar da reta o conjunto da obra em que está metido.
Não sei nem quero saber as circunstâncias e os meios que levaram Milton Bigucci a participar dos festejos de 104 anos do Tribunal de Justiça de São Paulo. Sei que sei que aparecer ao lado do presidente daquela instância de poder não é para qualquer um. Talvez Renato Nalini não esteja bem informado sobre a folha corrida de Milton Bigucci nas esferas judicial, ministerial e da administrativa pública.
Insensatez ou justificativa?
Se um campeão regional de abusos contra a clientela do mercado imobiliário é recebido com todas as pompas no Tribunal de Justiça de São Paulo; se um envolvido nas denúncias de chefiar um conglomerado que dormiu nos mesmos lençóis de falcatruas da máfia dos fiscais descoberta pelo Controlador-Geral da gestão Fernando Haddad em ação conjunta com o Ministério Público e cuja extensão temporal atinge o ex-prefeito Gilberto Kassab, com quem Milton Bigucci também aparece em flagrante fotográfico; e, se, sem cerimônia, junta-se ao governador do Estado (acompanhado pela mulher) cuja gestão está sendo bombardeada por causa de multimilionários desvios no setor metroferroviário; se tudo isso não tem importância, talvez o mais sensato seja dizer que é possivelmente a justificativa da presença de Milton Bigucci na festa do TJSP.
O parágrafo anterior foi propositadamente longo. Recorri ao estilo porque era preciso transmitir em fôlego maratonista o encadeamento de um pensamento lógico de que a condição de convidado de Milton Bigucci no Tribunal de Justiça de São Paulo é algo mesmo de perder a respiração.
Sei lá se Milton Bigucci forçou a barra, meteu-se entre as autoridades e que, agindo como espécie de Beijoqueiro, aquela figura folclórica que nem ao Papa de então deu folga, procurou garantir flagrantes que, devidamente enquadrados por não sei quem, agora enfeitam publicações que lhe servem ao ego e abastecem o site de seus negócios.
Milton Bigucci é um intrépido empresário. O perfil também vale a atividades paralelas. Tem faro à notoriedade como poucos representantes do setor imobiliário, a maioria comedida, introspectiva, cautelosa. A exposição pública permanente de Milton Bigucci é tanto um direito constitucional quanto condição intrínseca a lubrificar eventuais análises de jornalistas independentes que cometem o desatino de registrar criticamente as falcatruas em que se meteu, além do vezo ditatorial à frente do pobre Clube dos Construtores e Incorporadores da Província.
Companhias marquetológicas
Milton Bigucci é um homem de trato difícil, segundo muitos daqueles que o conhecem mais de perto, mas isso não significa necessariamente que seja péssima companhia, porque cada um é cada um. Entretanto, quando se trata de farejar negócios, elevar o índice de ações interpessoais, cortejar quem imagina que lhe será bastante útil, e essa é uma marca do pragmatismo dos negócios, eis que se encontra um homem agradabilíssimo, atencioso, cerimonioso.
Convenhamos que aparecer ao lado do trio mencionado depois do turbilhão que o atingiu diretamente no escândalo da máfia imobiliária da Capital, que não é diferente da máfia imobiliária da Província do Grande ABC, na qual está metido até o pescoço segundo garante um ex-executivo do Semasa, autarquia da Prefeitura de Santo André que se tornou campo de operações fraudulentas que o Ministério Público está apurando, convenhamos que aparecer ao lado do trio, como dizia, é algo espetacular em termos de marketing pessoal.
A maioria dos leitores tem propensão a imunizar de suspeitas ou a reduzir a carga de desconfiança do noticiário que dá conta de irregularidades de determinadas pessoas conhecidas quando acompanhadas de gente graúda. Mesmo que gente graúda, uma ou outra, casos de Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab, frequente o noticiário político-administrativo mais vinculado a lodaçais porque assessores diretos andaram cometendo crimes contra o patrimônio público.
Ou seja: Milton Bigucci não perde a oportunidade de acreditar que é sempre vantajoso estar entre os poderosos. Mesmo que duas das autoridades com as quais dividiu espaços de lantejoulas no Tribunal de Contas de São Paulo estejam tensionadas politicamente por causa de irregularidades administrativas.
No caso de Gilberto Kassab, a amizade ou a proximidade com Milton Bigucci é mais antiga, ao que parece. O então prefeito de São Paulo prefaciou um dos livros (é assim que Bigucci se refere a seus escritos) sobre responsabilidade social. O outro prefaciador foi Luiz Marinho, parceiro muito próximo do detentor da maioria das ações da MBigucci. Tão parceiro que mandou engavetar documentos que comprovam a farsa do leilão do terreno público arrematado irregularmente pela MBigucci e que, em obras, dará lugar ao Marco Zero, um empreendimento a poucos metros do projetado traçado do monotrilho, entre a Avenida Senador Vergueiro e a Avenida Kennedy. Não se tem informação segura sobre a presença de Luiz Marinho no Tribunal de Justiça.
Ainda sobre a impetuosidade de Milton Bigucci em busca de permanente presença na mídia, lembro que em 2007, quando iniciamos a preparação editorial à segunda versão do livro “Nosso Século XXI”, que coordenei em associação com a jornalista Malu Marcoccia e que, lançado em dezembro de 2008 no Clube Atlético Aramaçan, reuniu 2,5 mil pessoas, o titular da MBigucci se autoconvidou a participar da relação de 36 articulistas de diversas atividades sociais e econômicas.
Não tinha motivos para dizer não porque, até então, o considerava acima de qualquer suspeita e o setor econômico que representava e representa é muito importante ao conjunto da sociedade.
Poucos textos enviados continham tantas dificuldades à compreensão quanto o assinado por Milton Bigucci. Malu Marcoccia e eu fizemos um total de pelo menos quatro copidescagens para tornar a versão inicial inteligível. Não haveria mal algum naquele texto remendado se, pouco tempo depois, surpreendentemente, Milton Bigucci não alardeasse integrar a Academia de Letras da Grande São Paulo.
Como é possível um homem que escreve mal e porcamente em termos gramaticais e reconhecidamente frágil em tessitura cultural ser guindado à Academia de Letras da Grande São Paulo? Milton Bigucci, como se observa, não é alguém que possa ser minimamente subestimado como produtor de milagres. Os milionários costumam dizer que compram o que quiserem. Alguns usam a frase no sentido metafórico, convictos de que qualquer tipo de relação interpessoal fica mais produtiva quando se tem dinheiro. Outros o fazem de forma literal, de que basta ter dinheiro para alcançar qualquer objetivo. Milton Bigucci tem tanto dinheiro quanto, inversamente, talento para escrever.
O que resta perguntar é como, diante tantos poderes nas esferas públicas, alguém como este jornalista pode sonhar com a possibilidade de a Justiça prevalecer nos casos que me envolvem diretamente com o empresário? A vantagem é que, quaisquer que já tenham sido os resultados em segunda instância, no TJSP de Renato Nalini, favoráveis ao milionário de influência econômica indiscutível no Judiciário, sempre e sempre valerá a pena enfrentá-lo. No mínimo, os embates me conferem atestado de idoneidade.
Estava esquecendo de citar o outro encontro no qual Milton Bigucci aparece em fotografias. Nesse caso, trata-se da posse da nova diretoria do Clube Atlético Ypiranga, organização social que, segundo informações, o comandante da MBigucci tem histórico que não seria incompatível com os pressupostos da agremiação, ou seja, é diametralmente oposto ao que se viu no Tribunal de Justiça de São Paulo.
Liberdade de expressão
Antes que o advogado de plantão de Milton Bigucci atenda ao telefonema de seu cliente para providenciar uma nova ação criminal contra este jornalista, porque Milton Bigucci é assim mesmo, não aceita que alguém lhe oponha restrições sendo ele um homem público, antes que o advogado, dizia, seja acionado, o dirigente do Clube dos Construtores deveria ler pelo menos um dos artigos publicados nesta final de semana pela chamada grande imprensa.
Antes também que algum leitor aliado de Milton Bigucci (ele tem alguns amiguinhos do peito que perdem a compostura ética para defender o chefe) condene este jornalista por suposto exagero, que tal ler na revista Época desta semana o texto de Guilherme Fiuza, jornalista dos bons? Reproduzo apenas um dos muitos parágrafos em que distribui catiripapos a gente graúda. Leiam:
Delúbio Soares não pôde comemorar com a tradicional feijoada de sábado na prisão a decisão final do Supremo Tribunal Federal (STF) – livrando a quadrilha do crime de formação de quadrilha. O juiz Bruno Silva Ribeiro, da Vara de Execuções Penais, advertiu o detento e cortou a feijoada. Espera-se que o juiz Bruno tenha outro emprego em vista, porque todos sabem o que acontece com quem mexe com alguém da ex-quadrilha. O vice-diretor do Centro de Progressão Penitenciária, que mandou Delúbio cumprir as regras e tirar a barba, foi encostado num depósito de veículos.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!