Imagine 30 expressões com fundo compromisso com cidadania regional. Agora, imagine os formadores de opinião que integram o movimento Defenda Grande ABC, ainda em fase de gestação, convidados a selecionar 10. Sabem o resultado? A mais votada, com 29 dos 36 apontamentos possíveis, é “Administradores comprometidos”. É claro que a escolha se refere aos homens públicos. A expressão, e todas as demais, ou seja, as 30 propostas, vão constar do manifesto que o Defenda Grande ABC lançará em data a se definir. O público-alvo é a população da região.
O documento constará dos acervos oficiais de criação do Defenda Grande ABC, ainda em fase de estudos pelos especialistas Elísio Peixoto, Conrado Orsati e Marcos Buim. O movimento terá todo o aporte de legalidade para representar a sociedade regional nas mais diferentes instâncias. “Administradores comprometidos” constará mais vezes do documento que as demais expressões, atendendo à decisão dos integrantes do movimento.
Não se tem notícia de metodologia semelhante. Ou seja: que os próprios representantes de organizações tenham sido chamados a escolher as linhas mestras que constarão de um documento-chave a nortear as ações que mobilizarão as propostas de reforma do modus operandi com que a Província do Grande ABC tem se apresentado ao longo dos anos.
O Defenda Grande ABC ainda não está materializado como instituição diferenciada e revolucionária da região. Poderá até ser bombardeado antes que se consolide legalmente, porque não lhe faltam e não lhe faltarão opositores, mas caminha para ganhar sentido de coerência e seriedade que as entidades convencionais cada vez mais atreladas dócil e permissivamente ao Poder Público descartam.
Basta pegar os exemplos da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André) e da subseção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) para se alcançar o nível médio de indolência institucional na Província quando do outro lado da linha estão as administrações municipais. O descaramento com que se apresentam é uma combinação audaciosa de caradurismo e arrogância, quando não de abusividade e onipotência.
Não à toa tanto na OAB quando na Acisa sobem os decibéis de opositores frustrados com a politização entreguista de dirigentes. Nas demais entidades da região o padrão de atuação é semelhante. A diferença é que a Acisa e a OAB de Santo André ocupam mais espaços na mídia. Sempre de forma unilateral, de ilusionismo informativo. O presidente da OAB, Fábio Picarelli, é visto como importante linha auxiliar do aparato político que domina a Prefeitura de Santo André. Bastou, em passado recente, bandear-se à frágil oposição para ser devidamente domesticado.
Os formadores de opinião do Defenda Grande ABC vão receber ainda hoje planilha completa que individualizará a preferência pelas expressões com que tiveram de se defrontar para definir o conteúdo editorial do manifesto a ser preparado e aprovado em reunião. Todos conhecerão a escolha de cada um. Transparência absoluta.
A preferência por “Administradores comprometidos” não pode ser subestimada. Não teria apostado nessa alternativa, que me parecia, em princípio, menos impactante do que outras concorrentes. A sensibilidade do conjunto de conselheiros do Defenda Grande ABC falou mais alto. “Administradores comprometidos” talvez sintetize com mais propriedade o desencanto, a amargura, a desconfiança, o escárnio e tantos outros sentimentos da sociedade em relação ao desempenho da classe politica. Não à toa, as mais recentes pesquisas de institutos respeitáveis comprovem que a política partidária e os políticos estão com o prestígio ao rés-do-chão.
Corrobora coma interpretação, a interpretação de que os conselheiros tiveram sensibilidade aguçadamente crítica o conjunto da obra de expressões colocado à votação. E, principalmente, as nove expressões subsequentes mais votadas. O segundo lugar coube a “Desenvolvimento Econômico”, o terceiro a “Desenvolvimento social”, o quarto a “Regionalismo vigoroso”, o quinto a “Agenda positiva”, o sexto a “Logística competitiva”, o sétimo a “Retomada desafiadora”, o oitavo a “Corporativismo nocivo”, o nono a “Sociedade desmobilizada” e o décimo a “Politicas erráticas”.
Alguém entre os leitores tem dúvida de que “Administradores comprometidos”, que ganhou por margem escassa esse prélio de conceitos, está ligada em profundidade à insatisfação dos formadores de opinião do Defenda Grande ABC?
Apenas para matar a curiosidade, listamos na sequência as demais expressões levadas à disputa dos conselheiros e que também foram muito bem votadas. Daí, não ser possível deixá-las no acostamento do manifesto de lançamento do Defenda Grande ABC. Vejam:
Institucionalidade em frangalhos
Metropolização insana
Reformismo calibrado
Mobilidade social
Comodismo de conveniência
Minimização do caos
Dependência automotiva
Insensibilidade social
Planejamento falacioso
Supremacia petroquímica
Ilusionismo estratégico
Escapismo semântico
Meritocracia solapada
Combate organizado
Governabilidade a todo custo
Governança a todo preço
Fraudadores da cidadania
Derrocada de investimentos
Supremacia da mediocridade
Amarras institucionais
Expressões obrigatórias
Agora respondam, caros leitores: em sã consciência, em nome de qualquer divindade que se avoque como protetora dos pobres e dos oprimidos, é possível retirar de um manifesto contestatório ao que estamos vivendo faz muito tempo na Província do Grande ABC, é possível, em sã consciência, retirar qualquer uma dessas expressões? Claro que não. Obvio que não.
Por isso “Administradores comprometidos” envolve carga de exigências que ultrapassam todos os limites imaginados antes que este jornalista desfilasse aqui a relação completa das expressões propostas aos conselheiros do Defenda Grande ABC. Pensando bem, “Administradores comprometidos” simboliza o conjunto da obra que deverá delinear cada parágrafo do manifesto público do movimento que está em fase de estruturação com amplas possibilidades de ultrapassar a terreno de conjecturas e ganhar corpo com iniciativas que provavelmente deixarão de cabelo em pé muita gente que usufrui do completo alheamento de instâncias empresariais e sociais mancomunadas ou não com os poderosos de plantão.
Por mais que o Defenda Grande ABC se apresente como farol de milha a iluminar a institucionalidade da Província do Grande ABC – e os conceitos que permeariam sua atuação estão delineados nas expressões expostas -- não escondo preocupação quanto à efetiva consolidação do movimento. Reunir no começo dessa caminhada quase 40 integrantes já é uma façanha, levando-se em conta que a origem desse exército era um grupo de 120 pessoas que atuaram de forma diferente, menos exposta, em períodos anteriores como conselheiros de publicações por mim dirigidas.
Façanha maior será sustentar esse contingente de voluntários e, mais que isso, elevar o efetivo a um total que não seja elástico demais a ponto de estimular a dispersão, mas que também não seja escasso demais a sugerir fragilidade.
Há pontas de lança de políticos da região à espreita, em nome de benfeitores e protetores, a propagandear malversações informativas como se estivessem prontos a uma guerra.
Antecipam uma disputa extracampo porque sabem que, por mais que o tom moderado com viés contestatório do Defenda Grande ABC seja prova de que não se objetiva a crítica pela crítica, por mais que isso seja verdade, a realidade dura e crua é que os governos instalados na região não querem nada vezes nada com algo que possa ser catalogado como problema institucional. Eles sonham continuar navegando em águas calmas, mesmo que turvas.
Para completar e apenas a título de informação para que não se comprem gatos de sugestões por lebres de aceitação: este jornalista está mais que feliz com o andar da carruagem do Defenda Grande ABC, e assegura publicamente que jamais lhe passou pela cabeça ocupar qualquer cargo na instituição, principalmente a aventada presidência.
Crítico contundente dos excessos do Diário do Grande ABC na configuração e na mobilização do Fórum da Cidadania, jamais poderia este jornalista cair em contradição, repetindo erros dos outros. Sou voluntário e incentivador do movimento, cumprindo a prerrogativa de profissional de comunicação. Tenho o Defenda Grande ABC como ferramenta social de grande importância a multiplicar o legado de inconformismo que exalo a cada dia sobre o mundanismo institucional da Província do Grande ABC. Entretanto, não posso, não devo, não quero e não aceito outro papel senão o de colaborador intenso, embora a proposta inicial de que me lançasse presidente tenha partido de um conselheiro respeitável, atuante e desprendido. Há várias alternativas de profissionais que dariam ao movimento consistente atuação.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!