A Folha de S. Paulo desta sexta-feira traz uma ótima notícia para quem entende que a Província do Grande ABC não pode ser tratada como espaço de terceira categoria pelo governo do Estado e também pelo governo Federal: o trambolho do monotrilho, que especuladores imobiliários chamam de metrô para promover golpe contra a economia popular, o trambolho do monotrilho terá de passar por nova licitação, porque a primeira tem fortes indícios de maracutaia.
Isso quer dizer que o cronograma da obra, por si só duvidoso como tudo que envolve governos, sofrerá atraso. Nada melhor. Quem sabe, aproveitando a ocasião, que também faz a razão, gestores públicos da região não caiam do andaime da simplicidade obtusa e decidam, em paralelo, contratar especialistas para, finalmente, desenharem o desenvolvimento econômico de que tanto precisamos?
De que adiantará a inserção do monotrilho na geografia regional senão a novas evasões, agora de mais cabeças, troncos e membros, se não oferecermos à sociedade a contrapartida de empregos de qualidade muito acima dos call-centers que inflam as estatísticas mas pouco acrescentam à mobilidade social já entorpecida?
Quando escrevi ainda recentemente que o monotrilho é um atentado à estética e, logo depois, que, como o trecho sul do Rodoanel, poderá complicar ainda mais nossa economia, em vez de fortalecê-la, não faltaram detratores de plantão, gente suspeitíssima de participar de acertos não contabilizados. Pois não é que a Folha de S. Paulo de hoje diz que o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, entre outras contraposições à obra, faz referências aos impactos urbanos causados pela modalidade, remetendo-os aos infortúnios do minhocão, na área central da Capital? Quando escrevi neste espaço que o monotrilho é um minhocão gigantesco e mais estreito, espécie de Lombrigão, disseram que exagerei. Esses caras de pau da indolência por conveniência não tomam jeito mesmo. Querem estigmatizar quem ousa contrariá-los.
Percentuais fraudadores
Afinal, por que o monotrilho terá de passar por novo processo licitatório? A Folha de S. Paulo informou que o TCE apontou que as regras foram alteradas após a publicação do edital. O instrumento legal mencionava a exigência de que o monotrilho deveria ter grau de nacionalização, ou seja, de peças produzidas no Brasil, entre 40% e 60% do valor total. Três semanas após o prazo final para a apresentação de propostas, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) fixou os índices de nacionalização entre 30% e 40%. Com menos peças nacionais o preço do monotrilho deve cair, segundo a denúncia de Roque Citadini, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.
Quem conhece o setor público sabe que nada é por acaso, que coisas desse tipo não obedecem a rituais metafísicos. Não se erra por conta de fatalidades. O monotrilho que pretende se espalhar pelo território regional começa na estação Tamanduateí, zona sul de São Paulo, e alcança a região do Paço Municipal de São Bernardo. A PPP (Parceria Público-Privada) consumiria R$ 11,8 bilhões.
O monotrilho da Província, também conhecido por linha-bronze, é chumbo grosso em vulnerabilidades legais. Antes da nova decisão de Roque Citadini a concorrência havia sido suspensa pelo próprio conselheiro do TCE, ao acatar questionamentos de dois empresários. Eles apontaram indícios de direcionamento no edital. As especificações técnicas beneficiariam a Bombardier, única empresa que produz monotrilho no Brasil.
A Bombardier não é desconhecida na praça. Está envolvidíssima nas denúncias de fraudes nas licitações do metrô e da CPTM, entre 1998 e 2008, naquilo que se convencionou chamar de escândalo metroferroviário dos governos tucanos em São Paulo, embora a democracia da corrupção sobretrilhos tenha se espalhado por vários territórios nacionais e por distintos partidos políticos.
Aplausos gerais
Os jornais da região têm por hábito aprovar tudo que se origina dos governos, sejam quais forem os governos, principalmente governos generosos em cotas de publicidade. O monotrilho já esquadrinhado pelo mercado imobiliário regional como traçado a ser amplamente explorado, uma Serra Pelada urbana, não conta com qualquer voz de oposição ou no mínimo de precaução, de reflexão, caso do exercício que fazemos nesta revista digital.
Não se produzem contraditórios que alimentem o estoque de informações relevantes a avaliações críticas sobretudo quanto às repercussões econômicas e sociais que a obra carrega em seu ventre logístico. Tudo é tratado com extraordinária subserviência. Como o foi o trecho sul do Rodoanel, serpentina que mais extrai do que acrescenta riqueza à região, conforme provam e comprovam dados estatísticos já consolidados.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!