Sociedade

Lula e JK poderiam conviver muito
bem num museu automobilístico

DANIEL LIMA - 23/05/2014

Escrevi em outubro do ano passado sobre o Museu do Trabalho e do Trabalhador que a Administração Luiz Marinho está construindo em São Bernardo com recursos quase exclusivos do governo federal, ou seja, dos contribuintes. O texto pode saltar à tela do computador no link abaixo. Volto ao assunto porque encontrei uma matéria que produzi para a revista LivreMercado em setembro de 2006. Uma coisa tem a ver com a outra e com o título deste texto.


 


Tem a ver porque, não fosse por questão partidária, cegamente ideológica, a gestão petista de São Bernardo poderia conciliar uma homenagem tanto ao ex-sindicalista e ex-presidente Lula da Silva, o qual monopolizará aquele espaço, quanto a Juscelino Kubitschek, o introdutor da indústria automobilística no País, exatamente na Capital Econômica da Província do Grande ABC.


 


A obra do Museu do Trabalho e do Trabalhador está na relação das propostas de Luiz Marinho que alçamos ao Observatório de Promessas e Lorotas. O dinheiro federal e o prestígio de Luiz Marinho ante determinados grupos do poder não estão lá essas coisas, por mais que tenha a proteção de Lula da Silva, mas que o museu vai sair não tenham dúvidas. É questão de honra. Até porque Luiz Marinho conta, além do prestígio de Lula da Silva, com o reforço dos sindicalistas.


 


Aliás, sindicalistas têm voz forte na estrutura de poder da Prefeitura de São Bernardo. Há gente espalhada por todos os cantos porque os conceitos que determinaram o lançamento da candidatura de Luiz Marinho ao Executivo em 2008 foram consolidados em encontros sob forte influência do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, incubadora petista.


 


A leitura daquela matéria de 2006 (portanto, publicada há quase oito anos) é fundamental para alcançar com exatidão a dimensão da bobagem da administração petista em excluir Juscelino Kubitschek de um espaço que pretende contar a história da indústria automobilística na região, principalmente em São Bernardo.


 


Mas, ao atualizar o contexto daquele trabalho jornalístico, correlacionando-o à obra petista, vou mais longe para provocar a irritação de quem só enxerga ideologia na condução de uma gestão pública: ao explorar a imagem e os primados de Juscelino Kubitschek num espaço que jamais poderia ser denominado Museu do Trabalho e do Trabalhador, como se o Capital e o próprio Estado não tivessem nada a ver com o desenvolvimento regional, ao explorar a imagem e os primados de JK, o PT poderia sair do enclausuramento social histórico.


 


Que enclausuramento é esse? De tentar passar a ideia de que só a classe trabalhadora lhe interessa. Uma baita hipocrisia, como se os escândalos administrativos aqui e acolá não fossem denunciatórios de conluios com podres poderes privados. E como se financiamentos eleitorais não fossem majoritariamente concentrados no setor de construção civil, como demonstram balanços oficiais.


 


Imagem questionada


 


A medida de somar Capital e Trabalho num mesmo espaço também contribuiria para aliviar a barra da imagem da Província do Grande ABC, fortemente vinculada ao movimento sindical e, por isso mesmo e por isso também, pouco palatável a novos investimentos. Sobretudo no setor industrial, cambaleante a cada nova divulgação de estudos sobre o comportamento econômico regional.


 


Voltando à matéria que produzi para LivreMercado de setembro de 2006, os leitores vão encontrar uma abordagem que não se concentra apenas no pioneirismo de Juscelino Kubitschek até então e ainda desprezado pelos donos dos poderes oficiais e paralelos da Província. Também o Rei Pelé consta do trabalho jornalístico no qual me senti um Ademir Medici a cavoucar sem a mesma eficiência, confesso, as entranhas históricas da região.


 


Pelé e JK são protagonistas do artigo, porque tanto um quanto outro foram até então (e continuam a ser) sumariamente esquecidos pelas instâncias oficiais e sociais da Província do Grande ABC.  Pelé, autor do primeiro gol da carreira no Estádio do Corinthians Futebol Clube de Santo André, e Juscelino Kubitschek, o desbravador automotivo, poderiam reduzir a carga de provincianismo da região, como explico naquela matéria. O Museu do Trabalho e do Trabalhador do prefeito Luiz Marinho é a síntese da escassez de massa cinzenta e da abundância de burrice ideológica que caracteriza a Província do Grande ABC.


 


Leiam, portanto:


 


Cadê o estádio do Pelé? E cadê o museu do JK?


 


Cidade do Automóvel vira Museu do Trabalhador. Quanta estupidez!


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