Completou-se no último dia 17 nada menos que uma década desde que enviei carta (eletrônica) ao então presidente da República, Lula da Silva, alertando-o sobre os rumos fora do prumo que demarcavam a espalhafatosa criação daquela que viria a ser a UFABC (Universidade Federal do Grande ABC), oficializada no ano seguinte. Os termos eram claros: de regionalidade, o investimento não tinha praticamente nada, exceto a localização
Quem procurar nos arquivos dos jornais qualquer indício de que a UFABC pertence à Província do Grande ABC vai constatar uma realidade dura e crua, crua e dura: somente nas páginas policiais há conexão persistente entre esse monumento que consome anualmente mais de R$ 300 milhões na rubrica regional do governo federal. Tudo porque há quantidade inquietante de assaltos e assédios, quando não de inferninhos que alguns chamam de discotecas ou algo equivalente. O prédio central da UFABC
Na medida em que me torno menos analfabyte graças à minha assessora e mergulho nas estranhas do acervo desta revista digital mais invento fórmulas para conferir determinadas questões. No final de semana descobri no escritório domiciliar que nada menos que seis matérias publicadas há 10 anos, ou seja, em maio de 2004, referem-se à Universidade Federal do Grande ABC. A carta ao presidente Lula da Silva publicada em 17 de maio neste veículo ainda em forma de newsletter e, em seguida, no dia 19, dando conta da reação do então ministro da Educação, Tarso Genro, sobre o conteúdo exposto, são dois dos artigos.
Tempo, sempre o tempo
Nada melhor que o tempo para que todos prestem contas com a sociedade. Costumo dizer que não tenho medo desse enfrentamento permanente e que jamais promovi qualquer movimento para retirar do acervo um texto sequer que tenha postado e eventualmente me arrependido. Primeiro porque não me arrependo do que já escrevi. Segundo porque não agiria de forma desonesta com os leitores. O que escrevi está escrito e estamos conversados.
E sobre o que escrevi em dezenas de matérias sobre a Universidade Federal do Grande ABC, então, nada tenho a dizer
O convite que faço aos leitores para comemorar os 10 anos que separam a carta enviada ao presidente Lula da Silva e também a resposta de Tarso Genro é que leiam os dois artigos nos links abaixo. Mas, como já disse que foram seis os textos daquele maio de 2004, pouco antes, portanto, de assumir a direção de Redação do Diário do Grande ABC, em julho, nada melhor que oferecê-los aos leitores de forma integral -- além de outro artigo, providencial, que redigi em setembro do ano passado.
Por que mencionei o Diário do Grande ABC? Porque o período em que ali estive como diretor de Redação foi uma exceção à regra da linha editorial daquela publicação (nada diferente da dos demais que circulam na região) sobre a Universidade Federal do Grande ABC. Que exceção à regra? De investir persistentemente na cobrança de uma universidade que vestisse a camisa econômica da região, participando ativamente de projetos que pudessem centralizar medidas que fortalecessem as cadeias de produção então já claramente cambaleantes.
Amada e esquecida
A UFABC sempre contou com o desinteresse mais que descuidado do jornalismo regional. Há uma associação de apatia, conveniência, incompetência e tudo o mais para manter longe da pauta nossa de cada dia qualquer iniciativa que coloque em dúvida os buracos regionais daquela escola. CapitalSocial é comprovadamente o único passo arrojado fora do compasso desajeitado, assim como foi a revista LivreMercado.
Esse apontamento é necessário e indispensável porque há gente noviciada no mercado editorial da região com diarreia mental na tentativa de tornar verdade o que sempre se cristalizou como descaso. Incautos leitores podem acreditar, também, na possibilidade de essa gente se arvorar defensora de uma universidade pública federal visceralmente vinculada ao destino econômico da região.
A UFABC continua sendo a queridinha das esquerdas da Província do Grande ABC (e também dos aliados direitistas) porque conta com um poder de sedução comparável à covardia daqueles que preferem o silêncio. Afinal, essa universidade que não tem a menor vocação à regionalidade produtiva de um território cada vez mais refém da Doença Holandesa da indústria automotiva, não passa de, como bem definiu o educador Valmor Bolan, “barriga de aluguel”.
A síntese de que é mais lembrada pelos casos policiais, por tornar-se chamariz às investidas de criminosos e bandoleiros, é emblemática do castigo que se faz merecer todo mundo que durante todo esse período fugiu da raia de participação ostensivamente crítica para canalizar boa parte dos investimentos federais à reestruturação econômica da região. Nosso Complexo de Gata Borralheira não nos deixa ver que o outro lado da moeda de contar com uma universidade pública federal é o tamanho do vazio que a instituição representa para qualquer tipo de mudança que se julgue imprescindível no território.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!