O presidente do Defenda Grande ABC, movimento que começa a ser formalizado e que terá na próxima terça-feira uma assembleia para confirmar a composição diretiva, entre outras deliberações, garante que antes mesmo do encontro apresentará a primeira ação institucional que pretende revolucionar o monitoramento das administrações municipais. Elísio Peixoto faz segredo sobre a iniciativa. Apenas garante que está de acordo com os propósitos do grupo de voluntários que pretendem ver a Província do Grande ABC com outra configuração de transparência nas relações com os agentes públicos.
Elísio Peixoto é presidente de uma diretoria ainda provisória. Ele confirma que na próxima terça-feira, dia 15, os voluntários estarão reunidos para série de medidas legais que permitirão a constituição formal do Defenda Grande ABC. O movimento associativo não é bem visto pelo Festeja Grande ABC, uma entidade multiforme e informal que atua em sentido contrário e que pode ser resumido como dissimulação de ações que pretensamente seriam reestruturais do esgarçado tecido institucional da região.
O Festeja Grande ABC é o avesso do Defenda Grande ABC. Inclusive porque não tem a coragem de colocar oficialmente a cara para bater. As vertentes do Festeja Grande ABC estão por toda parte, irmanadas no propósito específico de deixar como está para ver como fica. Algo que, transposto para o desempenho da Seleção Brasileira, deu no que deu ainda outro dia no Mineirão.
Saindo da mesmice
Experiente em entidades representativas da sociedade, com atuação principalmente em São Caetano, e também com vivência prática no setor público, Elísio Peixoto lembra que qualquer horizonte traçado para o Defenda Grande ABC tendo a mesmice do quadro institucional atual da região estará fadado ao fracasso: “Considero que qualquer tentativa de diagnosticar o nosso movimento como algo que constará do portfólio de adereços institucionais que vicejam hoje se consumará como um desprezo às possibilidades de dar à região um dinamismo muito acima de qualquer iniciativa já levada a cabo. Vamos surpreender muita gente porque não há momento mais apropriado a mudanças. A sociedade está cansada de esperar por medidas que nunca se materializam” – afirmou.
A declaração de Elísio Peixoto não surpreende. Na realidade, vocaliza o conjunto de profissionais de várias áreas que encontram no Defenda Grande ABC oportunidade muito especial para alterar o rumo do tecido institucional da Província do Grande ABC. Nem mesmo as possibilidades mais que prováveis de que integrantes do movimento estariam sendo assediados por agentes públicos que pretendem dinamitar o grupo com iniciativas idiossincráticas encontra eco entre os integrantes do Defenda Grande ABC.
Elísio Peixoto afirma que o grupo não trabalha com a perspectiva de dissensões individuais em número suficiente para quebrar o ritmo de decisões que se farão sentir. “A sociedade regional espera há muito tempo por agentes voluntários com espirito reformista. O Defenda Grande ABC é exatamente isso” – afirmou.
Felipões regionais
Não há como instalar as declarações de Elísio Peixoto num caixote de frases de efeito que poderia ser despachado a qualquer momento a um armazém de secos e molhados de bravatas. O espirito que move os integrantes do Defenda Grande ABC, observado por este jornalista, induz mesmo a se acreditar num fato novo no cenário regional.
O jogo jogado pelos podres poderes públicos em conluio com organizações supostamente representativas da sociedade é um jogo manjado demais. O exército de caquéticos Felipões da Província, aqueles dirigentes públicos e de classe empresarial, sindical e social que acreditam no poder das artimanhas como arsenal que impediria a invasão de batalhões bem organizados de contestadores, haverá de ter um dia de Mineiraço.
Um dos pontos que o empresário Gilberto Wachtler, outro dos integrantes do Defenda, mais enfatiza às vésperas do encontro que definirá o futuro do movimento é a necessidade de uma agenda que envolva os sete eixos estruturantes que constituirão a organização. Elísio Peixoto faz coro. Saúde, Educação, Mobilidade Urbana, Desenvolvimento Econômico, Desenvolvimento Social, Segurança Pública e Sustentabilidade Ambiental são cláusulas pétreas de atuação do Defenda Grande ABC.
Mais que isso: são os focos sobre os quais os integrantes do movimento moverão as peças de transparência no uso do dinheiro público. Tanto que o Ministério Público deverá ser o depositário fiel e investigativo de medidas que por qualquer que seja o motivo não encontrarem respaldos de interlocução dos agentes públicos consultados.
O ensaio da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em vasculhar a Secretaria de Obras e Mobilidade Urbana da Prefeitura de Santo André é lembrado como algo a se evitar, porque tudo terminou bem distante dos pressupostos moralizadores brandidos pelo presidente Fábio Picarelli. Mais que isso: o dirigente da OAB está cada vez mais próximo de pontas de lança da Administração Carlos Grana.
Fracasso do grandioso
O educador Valmor Bolan analisa a atuação do Defenda Grande ABC também sob a ótica que contrapõe qualidade e independência à quantidade e dispersão. Ele afirma que, mais importante que o gigantismo numérico de integrantes do movimento, o que determinará a credibilidade e a efetividade das iniciativas é a qualidade das ações.
Nada mais apropriado. Afinal, quem acompanhou o histórico do Fórum da Cidadania, a partir de meados dos anos 1990, como este jornalista, sabe que quantidade de participantes e multiplicidade de pauta podem gerar dispersão e conflitos que comprometeriam o cumprimento de prerrogativas estatutárias.
O Fórum da Cidadania foi uma experiência impagável. Mesmo sem ter transportado para esta revista digital todo o material jornalístico que produzi ao longo dos anos sobre aquele movimento e que foram impressos na revista LivreMercado, há um acervo pedagógico sobre como não transformar um sucesso garantido em fracasso retumbante. Há mais de 200 matérias que se referem direta ou indiretamente ao Fórum da Cidadania neste CapitalSocial. Uma fartura educativa que não permite aos integrantes do Defenda Grande ABC incidirem nas barbeiragens que esvaziaram aquela instituição fundada para colocar a região nos eixos. A emenda foi pior do que o soneto – com a debacle do Fórum da Cidadania, a Província do Grande ABC se tornou ainda mais uma casa da mãe Joana de regionalidade em frangalhos.
Por isso mesmo Elísio Peixoto enfatiza em cada diálogo um mantra também exercitado pelos demais integrantes do Defenda Grande ABC: não se pode perder a capacidade de reflexão em tudo que estiver ao alcance de ações do movimento. Não à toa CapitalSocial, ao incentivar a formação dessa organização, enfatizou uma expressão que poderia parecer pernóstica, arrogante, mas que é a alma tática e estratégica da qual seus representantes jamais poderão abrir mão: “entidade cerebral”. E uma entidade cerebral está explicitamente vocacionada a atuar como animadora do processo democrático de tornar mais responsáveis os poderes públicos no manuseio de recursos orçamentários.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!