O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social em fase de montagem pelo governo Lula da Silva tem semelhanças e diferenças em relação ao Fórum da Cidadania do Grande ABC, criado em 1994 e há muito tempo vegetativo. O primeiro reúne características mais democráticas na forma, ao contemplar como associados até gente que presidia associação de passarinheiros. O Conselhão (é assim que arquivo todas as matérias sobre o assunto) de Lula da Silva é mais elitista: os 82 membros ainda não foram definidos (apenas metade já foi anunciada, e mesmo assim com a renúncia de Tostão, que se disse surpreso pelo noticiário porque ninguém o consultou) e segue modelito acessível apenas a notáveis que recheiam as agendas de jornalistas do eixo Rio-São Paulo, viciados nas mesmas fontes de informação. Uma espécie de aristocracia corporativa, em larga escala. Algo que, convenhamos, o Fórum da Cidadania soube atenuar.
O Conselhão poderá enredar pelos mesmos vícios do Fórum. São tantos os motivos do Fórum da Cidadania ter degringolado -- e já nos ocupamos exaustivamente em enumerá-los -- que nem vale a pena repetir. Entretanto, para que haja entendimento, basta citar aspectos como vedetismo, exclusivismo, falta de foco, excesso de agenda, politização partidária pecaminosamente dissimulada e uma consensualidade esgotada depois de servir como amálgama.
Mais ainda: da mesma forma que o Congresso Nacional está arretado com o noticiário do Conselhão, temendo que poder paralelo formule pressões além da textura constitucional, o Fórum da Cidadania causou furor entre os representantes do Poder Público, especialmente os Executivos, que reagiram com o revigoramento do Consórcio de Prefeitos, a criação da Câmara Regional e também com o lançamento da Agência de Desenvolvimento Econômico. Fórum esfacelado e domesticado pelos poderes públicos, que cooptou e ainda continua cooptando largas camadas de seus participantes mais ativos, essas instituições também abdicaram do dinamismo que a globalização recomenda.
Para que o saco de gatos em que se transformou o Fórum da Cidadania não seja clonado pelo Conselhão do Lula é preciso que se construam barreiras. Enquanto o Fórum da Cidadania pecou por cair na bobagem do democratismo em vez da democracia, o Conselhão provavelmente terá dificuldades de aprender a lição e insistir no assembleísmo. Democratismo é transferir para a assembléia de associados todas as deliberações. Democracia, nesse caso, é um grupo de inteligência e liderança definir e centralizar prioridades para conquistar aprovação da assembléia, depois dos debates sempre oportunos e esclarecedores. Em suma: é o pressuposto do centralismo estratégico e da descentralização tática.
O grupo que pretendia comandar o Fórum da Cidadania se deixou engabelar pelo democratismo. Por falta de competência no gerenciamento temático, seus membros permitiram que se transferissem linearmente ao conjunto de associados as numerosas questões que afligem o Grande ABC. Quando Marcos Gonçalves, da Avape, resolveu aumentar o quadro associativo, o pouco de foco e de articulação em rede desapareceu de vez.
O Conselhão do Lula pode escorregar na casca de banana de excesso de marketing e escassez de planejamento.
Provavelmente a melhor resposta ao caso da moribundez do Fórum da Cidadania e ao embalo materno do Conselhão do Lula seja a que já dei há tempos: profissionalizem o gerenciamento de uma agenda seletivamente emergencial e usem a representatividade corporativa dos notáveis convocados para colocar ordem nas demandas. Notáveis de atividades tão díspares atuando no Conselhão não garantem a fórmula ideal para que os resultados apareçam, porque a abundância de brilho individual terá a contrapartida da baixa operosidade, que só um controle de profissionais é capaz de executar.
Caso contrário, e parafraseando o ex-ministro fernandista Sérgio Motta, não sairemos de uma masturbação sociológica que o Fórum da Cidadania exercitou à exaustão.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!