Sociedade

Picarelli usa OAB de Santo André
ao lançar “Não vote na Província”

DANIEL LIMA - 23/09/2014

O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), unidade de Santo André, Fábio Picarelli, está lançando esta noite no Primeiro de Maio Futebol Clube uma campanha diametralmente oposta àquela que marcou em meados dos anos 1990 a geopolítica da região. Em substituição ao “Vote no Grande ABC”, mote adotado pelo Diário do Grande ABC com o triunfalismo resolutivo de sempre, Picarelli inaugura a fase de “Não vote na Província”, destacado também pelo mesmo Diário do Grande ABC.


 


Definitivamente, caímos na gandaia do oportunismo político eleitoral, independente de juízo de valor sobre os candidatos apoiados pelo dirigente da OAB que, com a cara de pau de sempre, tem a coragem de pretender desvincular o cargo que ocupa na entidade da pessoa física com CPF e outros badulaques constitucionais.


 


O que mais me irrita como profissional de comunicação e também como pessoa física é passar pela obrigação de ler o que li no Diário do Grande ABC hoje. Ao dizer que “é uma reunião para apresentar candidatos organizada por pessoas ligadas ao meio jurídico. Não tem nada a ver com a OAB”, Fábio Picarelli domina a bola da hipocrisia em estado latente e subestima por demais a capacidade intelectual de pelo menos um grupo de atentos observadores da cena regional.


 


Nada a estranhar na declaração do presidente da OAB de Santo André reproduzida sem qualquer ressalva na edição de hoje do Diário do Grande ABC.


 


Primeiro porque Picarelli já está completamente institucionalizado pelos vícios da política tradicional, ele que ainda outro dia pretendia se apresentar como novo no mercado futuro de votos. Segundo porque o Diário do Grande ABC lhe dá toda a retaguarda, entre outras razões porque, apesar do apoio aos dois candidatos estranhos à geopolítica regional, Picarelli faz parte do núcleo suplementar que dá suporte ao prefeito petista Carlos Grana. Tanto que negociou a nomeação disfarçada de eleição do quase inútil ouvidor chapa branca do Município a cargo de um companheiro de diretoria da OAB, entre outras benesses.


 


Cabo eleitoral da OAB


 


Mesmo quem acompanha a política regional há um bocado de tempo se surpreende ante a reviravolta de conceitos. Em meados dos anos 1990, quando este jornalista ainda chamava a Província de “Grande ABC”, uma movimentação em torno da valorização de votos aos candidatos da região com o mote “Vote no Grande ABC” aumentou o número de cadeiras de representantes locais tanto na Assembleia Legislativa como na Câmara Federal. Agora, passados tantos anos de desfiladeiro do que ainda resta de sombra de cidadania regional, contamos como um presidente de uma entidade com a marca forte de uma OAB cabalando votos em favor de Rodrigo Garcia e de Fernando Capez, os quais, sem qualquer juízo de valor sobre o aparelhamento intelectual e técnico de que dispõem, são completamente estranhos ao cotidiano da região.


 


Não pensem os leitores que exercito xenofobia regional. Muito pelo contrário. Ao longo dos anos sempre deixei patente contrariedade à medição de qualidades e defeitos de autoridades públicas ou de qualquer esfera de atuação condicionada ao local de nascimento ou de atuação profissional. Sempre condenei o provincianismo de retaliação indiscriminada de jornais a secretários municipais sem histórico local, sobretudo em áreas técnicas que dispensam essa prerrogativa. Não seria este jornalista que veio do Interior e que já sofreu preconceito de gente desqualificada nascida na região, mais propriamente em Santo André, que levantaria a bandeira de reserva de mercado territorial.


 


O que está fora dos eixos na ação do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil é a concretização de uma empreitada sem retaguarda que guarde relação com a valorização de Santo André e da região. O privilégio aos dois candidatos ganha a forma de discriminação aos demais tanto quanto a tola articulação semântica que pretende vender a ideia de que não é a OAB que está a ostentar o mando de jogo aos convidados desta noite.


 


Falta distanciamento


 


Fosse Picarelli indiscutivelmente alguma coisa diferente dos trocadilhos que ácidos adversários insinuam movidos pelas facilidades do nome de batismo, a OAB de Santo André deveria sim envolver-se nas disputas eleitorais. Mas para tanto precisaria gozar de comprovado distanciamento político-partidário, de entusiasmo diretivo e de representatividade de classe para definir uma agenda mínima de propostas aos candidatos a deputado estadual e a deputado federal, independente da geografia estadual. Com isso, obteria reciprocidade legítima de envolvê-los em tarefas, caso eleitos, de priorizar os problemas e as iniciativas propostas. Essa agenda, sob o alcance constitucional dos deputados, seria uma ferramenta de navegação a contribuir com o destino regional.


 


Como não existe organização corporativa na Província do Grande ABC com efetivo comprometimento mudancista porque há interesses difusos a provocar entrechoques interpartidários e econômicos, só nos resta mesmo acompanhar o contraponto de “Vote no Grande ABC” de duas décadas atrás. Tanto nesta situação, quando no passado, prevalecem slogans, frases de efeitos, promessas e um mundaréu de bobagens pretensamente de solidez programática.


 


Rodrigo Garcia e Fernando Capez devem ser bem-vindos a Santo André como outros concorrentes de peso e também os literalmente menos votados deveriam ser igualmente lembrados durante o evento que, diferentemente de favorecimento aos dois convidados especiais, marcaria a exposição pública da agenda da Ordem dos Advogados do Brasil em Santo André para os próximos cinco anos na Província do Grande ABC.


 


Mas o que se pode fazer se, ao invés de pensarem pelo menos nos próximos cinco anos, os dirigentes da OAB voltam ao período em que a Província ainda não era declarada Província e, igualmente como agora, sem pauta politica-administrativa, incentivava também igualmente candidaturas ao sabor de interesses corporativos e pessoais.


 


É realmente estonteante a monumental capacidade dos integrantes do Festeja Grande ABC de piorar o que já estava ruim. É melhor não subestimá-los. Os pernas de pau, por se acharem craques, são incontroláveis no exercício de patetices. Eles adoram blindagem do entorno que os incentiva. Daí integrarem o Festeja Grande ABC, essa instituição extraoficial que explica o estado provincial em que nos encontramos.


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