O que mais me perguntam é se a Província do Grande ABC melhorou ou piorou durante os 12 anos do governo petista em Brasília, em contraponto aos oito anos de Fernando Henrique Cardoso.
Os leitores mais assíduos conhecem o histórico de críticas que sustentei isoladamente sobre o desastre econômico da região durante o tucanato. Quando respondo, como estou respondendo agora, que a economia da Província melhorou consideravelmente nos 12 anos petistas mas que nem isso salvou a região, que ficou pior desde a eleição de Lula da Silva em 2012, não falta surpresa. Até parece que caí em contradição. Para quem só enxerga cifrões, nada mais fácil do que acreditar que eu esteja a escorregar na maionese da incoerência. Para quem vê o mundo com olhos multifocais, a explicação é simples.
Como é possível que, ante a hecatombe econômica de Fernando Henrique na região e diante do dinamismo automotivo do governo petista, sustentar avaliação geral desfavorável ao atual comando federal? Vou explicar de forma sumária, porque haverá tempo, a se confirmar o possível encerramento do ciclo petista no poder federal, que sustentaria minha conclusão.
Um espaço territorial como o ocupado pela Província do Grande ABC e tantos outros não pode ser medido apenas pela importância econômica, fonte matricial mas não exclusiva de conceitos nem sempre certeiros de qualidade de vida. Vetores sociais e de capital social também têm pesos relevantes. Cada cabeça uma sentença sobre o peso relativo desse tripé. Atribuo ao desenvolvimento econômico relevante maior que as relações institucionais e o desenvolvimento social, mas uma coisa não se desgruda da outra. Sem esse equilíbrio, babau! E foi o que se deu na Província do Grande ABC de forma ainda mais acentuada nos últimos 12 anos.
Tripé avaliativo é mais seguro
É exatamente sobre esse tripé que estabeleço a base de comparação entre os oito anos de FHC e os 12 anos de PT na região. A Economia do PT ganha facilmente, mas a institucionalidade em forma de relações entre sociedade, gestores públicos e mercado sofreu golpes profundos. Uma barbaridade. E os estragos sociais também se fizeram sentir, por mais que possa parecer paradoxal, já que houve crescimento de renda das classes mais populares, privilegiadas, como em todo o País, por políticas públicas gestadas em Brasília.
Este texto reúne mais conceitos do que números. Os números estão armazenados em forma de outros textos nesta revista digital. Quando me debruçar para produzir uma análise mais extensa, vou capturar boa parte da numeralha que dá densidade informativa e interpretativa a este veículo de comunicação.
Economicamente, os 12 anos petistas tornaram a Província do Grande ABC muito melhor que os oito anos de FHC. Sobretudo porque se descobriu a fórmula mágica para a massificação do produto que mais sai de nossas fronteiras –- os veículos produzidos por autopeças e montadoras locais. Em números absolutos passamos a produzir muito mais veículos do que no passado, embora a participação relativa tenha se reduzido.
A boa notícia embutida no dinamismo da indústria automotiva da região é apenas uma meia-verdade. A dependência da atividade elevou-se ainda mais porque nos fragilizamos em outras matrizes produtivas. Estamos cada vez mais reféns de políticas voltadas à popularização do uso de veículos. Mas como faltou combinar com a capacidade de demanda, cada vez mais reticente, apesar de todas as facilidades de financiamento, e como também estamos cada vez mais encalacrados com novos competidores, a curva ascendente de produção já perdeu fôlego e deverá perder ainda mais porque já não basta ter dinheiro liberado às compras com juros baixos.
Cada vez mais Brasil
No campo social, dependente em larga escala das atividades econômicas, ficamos cada vez mais próximos do perfil médio do Brasil em termos de classes. Isso é uma péssima notícia. O Brasil é um País pobre em renda per capita, embora engane e sirva de plataforma demagógica a políticos e acadêmicos ideologicamente comprometidos e que ruinosamente optam pelo triunfalismo da sétima colocação no ranking mundial. São todos ilusionistas. Nosso PIB per capita tem relação vergonhosa com tantos rankings temáticos internacionais. Perdemos de goleada nas áreas educacional, de saúde, de infraestrutura física e de tantos outros indicadores.
A Província do Grande ABC que se desenha cada vez mais próxima do Brasil é a prova da quebra da mobilidade social. Nossas classes média-alta e média-média evoluíram muito abaixo da média nacional. Estamos perdendo cada vez mais o potencial de elevar os patamares de rendas e riquezas. As camadas mais populares avançaram no quesito mas estão relativamente em desvantagem quando confrontadas com indicadores nacionais. Ou seja: a Província do Grande ABC está fazendo a festa dos socialistas rastaqueras porque fica cada vez menos desigual, mas a custa do sacrifício das classes médias tradicionais, escorchadas por um governo que agravou o custo do Estado.
A nova classe média inventada pelo governo petista tem fôlego reduzido e expressa o processo de empobrecimento da Província que, durante o êxtase da industrialização, cristalizava famílias detentoras de rendimentos e posses muito acima da média nacional.
Experiências vitoriosas
Para concluir essa breve exposição, sempre comparando os dois períodos político-econômicos que marcam uma divisão na história da região, a institucionalidade descambou de vez nos últimos 12 anos. O processo avolumou-se durante essa janela de tempo do petismo federal que se espalhou fortemente pela região um sentimento de impotência.
Vou discorrer com mais vagar sobre esse assunto no futuro. Preliminarmente não tenho dúvidas de que a contaminação do ambiente político-eleitoral em processo de degradação ética e moral fez da Província do Grande ABC um imenso campo de experiências bem sucedidas para os bandidos que infestam as mais variadas administrações públicas e igualmente entidades de classe no mínimo omissas, quando não parceiras, das fabulosas contravenções. Somos um paraíso para os integrantes do Assalta Grande ABC e também do Festeja Grande ABC, que em muitos vértices se fundem. O Omita Grande ABC prevalece no congelamento de medidas, enquanto o Defenda Grande ABC não passa, por enquanto, de um sopro de esperança cada vez mais frágil.
Se tivesse de atribuir uma nota média para a Província do Grande ABC durante o período de oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, levando-se em conta aspectos econômicos, sociais e institucionais, não passaria de três. Já para os 12 anos do PT, não posso ultrapassar a nota dois. Salva a nota, que poderia ser mais delicada ainda, o avanço seletivo da economia, que não se refletiu na quebra do ciclo aparentemente interminável de destruição gradual da camada mais sólida da classe média tradicional sustentada principalmente por atividades profissionais mais qualificadas nas fábricas que seguem a desempregar e nas atividades liberais cada vez mais comprimidas por concorrência avassaladora. Não há mais o respiradouro do emprego industrial forjador de classe média-média. E o salve-se-quem-puder de empreendimentos próprios virou carnificina.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!