A gestão econômico-produtiva da Província do Grande ABC é a criança esquecida no banco de trás do veículo do triunfalismo charlatão que impera há décadas. Vamos, por conta disso, colecionar em 2015 mais uma temporada de notícias desagradáveis. Muito mais desagradáveis que nos últimos anos. Nossa Doença Holandesa, a indústria automotiva, vai comer o pão que o diabo amassou, principalmente no primeiro semestre de ajustes macroeconômicos e também porque acabou a farra de alíquotas reduzidas que esquentavam o consumo sobrerrodas.
Provavelmente quando sair no final deste ano que se inicia o PIB (Produto Interno Bruto) dos municípios brasileiros de 2013, sempre com dois anos de atraso sobre os dados nacionais, teremos somado pela terceira vez resultado negativo. Perdemos 6,51% na temporada de 2012 mas ao que parece tudo está em ordem. Tanto os gestores públicos como a mídia em geral trataram o desastre com a maior naturalidade do mundo. Perdemos a capacidade de nos indignar também nas instâncias empresariais, sociais e sindicais. O capital social da região foi para o lixo. As autoridades públicas não disfarçam que podem deitar e rolar sem contratempos.
Neste primeiro texto de uma nova jornada anual, sinto dizer que não tenho a menor esperança de que a Província apresentará fornada de notícias que fuja ao script de águas passadas: seguiremos caindo pelas tabelas enquanto o Assalta Grande ABC e o Festeja Grande ABC vão fazer de tudo para transmitir a ideia de que somos a mesma potência econômica e social dos anos 1970 – antes que o movimento sindical iniciasse jornadas tão gloriosas quanto tormentosas de recomposição de forças no tabuleiro de representatividade social da região. De lá para cá tudo se alterou.
Nem uma manchetíssima
Os 15 dias de afastamento do dia a dia desta revista digital não significaram desligamento das coisas regionais. Continuamos na ativa. Não parece ter sido o caso da mídia regional, pobre de informações durante o período. Tão pobre que nem mesmo uma manchetíssima consegui filtrar para acionar minha porção de ombudsman não autorizado. A marginalidade informativa superou todas as expectativas. Pautas insossas e algumas tentativas de requentamentos temáticos se provaram calamitosos. A velharia em forma de retrospectiva sem análise convincente é um atentado à natureza em forma de desperdício de papel.
Tenho uma lista imensa de assuntos sobre os quais pretendo escrever nos próximos tempos mas confesso, na reestreia neste espaço, que preciso de motivação extra para seguir em frente. O ambiente regional é desestimulador. Quando falta perspectiva a conquistas mínimas, porque tudo está dominado pela incapacidade e pelo comodismo, a contaminação atinge até quem se imaginava impermeável ao afrouxamento.
O pior entre todos os pontos negativos que permeiam a vida na Província do Grande ABC é sentir no fundo da alma que não existe a menor perspectiva de novos tempos comportamentais a marcar um ponto de inflexão na engrenagem macroinstitucional.
Não existe uma única organização social entre tantas da região que ofereça a possibilidade palpável de que estaria disposta a agir em consonância com os interesses mais nobres que a sociedade em silêncio e desmobilizada rumina aos quatro cantos.
A submissão indolente ou interesseira de agrupamentos formalizados em entidades que vivem do passado em que tudo era mais fácil e simples é o combustível dos abusos dos mandachuvas e mandachuvinhas da Província.
Rescaldos da Petrobras
Talvez a única alternativa potencializadora de ventos reformistas na Província do Grande ABC esteja reservada pelo arrastão esperado do escândalo na Petrobras. É praticamente impossível que não se espalhem pela região, notadamente em direção a alguns grupelhos de poder, as consequências fluviais das delações premiadas.
Acreditar que a Província do Grande ABC não está no roteiro de safadezas da Petrobrás e do Clube dos Empreiteiros é negar a própria importância econômica e política que a região alcançou durante o governo petista saído das bases metalúrgicas de São Bernardo.
Somente o espraiamento do escândalo da Petrobrás pela Província do Grande ABC reuniria força suficiente para alterar as regras de alguns jogos viciadíssimos nas relações entre Poder Público e agentes privados que tomaram de assalto as entranhas dos Executivos locais. A possibilidade de a Polícia Federal chegar à geografia regional só não consta da expectativa dos ingênuos. Muitos dos agentes de corrupção são tão facilmente identificáveis pelos sinais exteriores de riqueza e de mandonismo que custa crer que não sejam objetos de investigações.
Talvez a Polícia Federal faça pela Província do Grande ABC o que as autoridades supostamente competentes deveriam ter realizado ao longo dos anos -- ou seja, colocar a meritocracia acima de injunções político-partidárias que se rivalizam em procedimentos com as casas de tolerância.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!