Há uma certeza detestável em meio à instabilidade emocional que passou a dominar determinados círculos do poder político e empresarial da Província do Grande ABC desde que estourou o escândalo da Petrobras: torce-se loucamente, desesperadamente, para que tudo que se consumou por aqui nos últimos anos seja café tão pequeno mas tão pequeno ante a grandiosidade nacional e internacional que, de alguma forma, acabe negligenciado. Roga-se aos céus para que a estrutura investigativa da Polícia Federal se torne limitada ante a enxurrada de demanda e, com isso, poupe os novos ricos do ouro negro destas plagas.
Os leitores hão de compreender que tenho de tomar as devidas cautelas para não correr riscos de ações judiciais descoladas das necessárias confirmações, embora isso seja apenas questão de tempo. Não posso dar nomes aos ladrões da praça sem que se constituam as respectivas configurações delituosas no campo da legalidade processual.
O lamaçal da Petrobras na Província do Grande ABC existe faz muito tempo e lubrificou engrenagens de financiamento eleitoral, principalmente do PT. Sem contar que fez fortunas pessoais. Isso é fato. Cabe à Polícia Federal colher provas, como estão sendo colhidas.
Tomar certos cuidados informativos não significa e jamais significará que este jornalista vá se omitir, como gostariam o Festeja Grande ABC e o Assalta Grande ABC. Tenho segurança no que escrevo porque só escrevo sobre o que tenho absoluta certeza de que basta boa vontade, independência e determinação para a coleta de provas pelas autoridades constituídas. Lamentavelmente nem sempre se dá tamanha simplicidade operacional. O caso do Residencial Ventura é prova disso. O escândalo do Semasa também. As lambanças da Cidade Pirelli, então, é melhor nem avançar.
Descompasso problemático
Sugeri lá atrás que o empresário Milton Bigucci é um industrializador de privilégios corporativos com ares de filantropo. Reuni informações suficientes para escrever o que disse sem escrever tudo, ou seja, sem ser peremptório na adjetivação e na qualificação do sentido de “privilégios”. Apenas sugeri, espécie de abre-alas do carnaval de malandragens que viria em seguida. Como se sabe, o empresário recorreu sistematicamente à Justiça contra mim e conseguiu, porque milionário, vitórias que poderão me custar algumas dores de cabeça mas, também, a garantia de que, como se fosse preciso, teria uma prova contundente de idoneidade profissional, porque enfrento um contraventor conhecidíssimo do mercado imobiliário.
Ou seja: há recorrente descompasso entre o que se escreve sobre determinada situação de ilegalidade e o tempo de constatação formal dos delitos. Esse é o caso que envolveu uma das ações criminais movida pelo empresário Milton Bigucci contra mim. Melhor dizendo: pela pessoa física de Milton Bigucci contra mim, embora jamais tenha me referido a ele como pessoa física, mas sim como agente corporativo com responsabilidade social inerente às atividades que exerce. Pouco me interessa que cor de cueca ele prefere ou mesmo se não faz uso da respectiva peça íntima. Mas ele levou a Justiça no bico ao transferir o corpo empresarial e institucional ao chefe de família.
O caso já está em última instância, na qual meu advogado toma as providências para recorrer. Corro o risco de ser condenado por, vejam só, antecipar verdades. Quando sugeri que Milton Bigucci não era a flor que se cheirava, construí uma ponte entre a verdade insofismável que o jornalismo exige porque representa os interesses da sociedade e a indignação do presidente do Clube dos Especuladores Imobiliários e diretor-presidente do conglomerado MBigucci.
Milton Bigucci recorreu, ganhou em várias instâncias mas, no meio de caminho, entre alguns artigos e os julgamentos, o que pintei não passou de rascunho, porque a verdade dos fatos é ainda muito mais contundente. Milton Bigucci está metido, como se sabe, em várias lambanças. São escândalos em profusão, inclusive com denúncias do Ministério Público. A Justiça não levou os desdobramentos em conta.
Paulo Roberto na Recap
Agora, voltando à nossa Petrobras, no caso o Polo Petroquímico da Província do Grande ABC, tomei o cuidado de dedicar-me a uma pesquisa cansativa mas muito elucidativa sobre o noticiário do setor petroquímico nos últimos 15 anos, principalmente sobre as empresas do Polo de Capuava. Descobri entre outros pontos que Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras que comandava a roubalheira em nome do PT, participou entre outras atividades da festa de 50 anos da Refinaria de Capuava, quando anunciou vários investimentos. Isso muito antes de 2009, quando a Petrobras de Paulo Roberto Costa destinou verba de R$ 3 bilhões para a modernização da refinaria regional, plugado no projeto do pré-sal.
Há outros pontos que prefiro não expor neste texto, mas não existe dúvida alguma sobre os tentáculos do escândalo da Petrobras na região. Fornecedores da maior estatal brasileira que estão na relação do Clube dos Empreiteiros têm atuação incisiva no território regional. A OAS, por exemplo, assinou contratos milionários e suspeitos com a Administração Luiz Marinho, todos, aliás, denunciados em matérias do Diário do Grande ABC durante 15 dias seguidos, no final de 2013 e, estranhamente, arquivados daí em diante.
Mudanças societárias
Talvez a Polícia Federal não tenha se dado conta de que as roubalheiras na Petrobras podem ter um ramal colateral na Província do Grande ABC e também em outras geografias que passaram pelo mesmo processo de reestruturação societária. Não estou afirmando, é bom que se reflita, mas, ante a grandiosidade das maracutaias, não custa dar uma verificada na possibilidade de que tenha havido muito cambalacho nas recomposições societárias que se firmaram ao longo da última década, muitas das quais com participação efetiva da Petrobras como parceira de empresas privadas.
Ou seja: o exército de ladrões que assaltaram a Petrobras não estaria restrito apenas às combinações de diretores da estatal e a rede de fornecedores de produtos e serviços, no caso o Clube dos Empreiteiros. Como interpretar fora de propósito a possibilidade de que os negócios societários podem ter vícios de origem se todo o quadro diretivo de primeira linha ou de fim de linha da Petrobras participou dos assaltos denunciados pela Polícia Federal, inclusive fora do País?
Razões para desconfiar
Não tenho uma única razão para acreditar que o prefeito Luiz Marinho esteja fora do emaranhado de complicações da Petrobras e de seus fornecedores na região. Pode ser que esteja, porque as aparências e as observações, quando não os indícios, também se enganam, mas a probabilidade de estar perdendo o sono juntamente com os mais próximos que comandam o poder político e financeiro do PT na região é mais que sustentável.
Quem como Marinho prevaricou escandalosamente no caso do terreno obtido de forma ilegal em licitação pública pela MBigucci, onde se constrói um empreendimento imobiliário, não pode requerer de jornalista algum voto de credibilidade. Sem contar tantos outros casos que deixam o chefe do Executivo de São Bernardo encalacrado porque, no mínimo, age com centralismo administrativo à prova da democracia da informação e do contraditório, uma réplica perfeita de ditadores bananeiros.
Como, por exemplo, os sócios do anunciado Aeroportozão que pretendia construir nas áreas de mananciais, e que virou aeroportozinho, ou os proprietários dos terrenos que deverão sediar um conjunto de pequenas empresas do consórcio indústrial do projeto Gripem.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!