Sociedade

Diário revela potencial negócio
suspeito entre Marinho e Bigucci

DANIEL LIMA - 06/02/2015

O Diário do Grande ABC dá destaque na edição de hoje a um negócio mais que suspeito da MBigucci, conglomerado de Milton Bigucci, presidente do Clube dos Especuladores Imobiliários do Grande ABC, oficialmente Acigabc. A Administração Luiz Marinho faz parte do enredo.  O tempo vai revelar a extensão da sincronia fina entre aquele que afirma ser o dono da maior organização privada do setor na região e o prefeito petista que morre de paixão pelo empresário a ponto de protegê-lo de falcatrua no terreno onde se constrói o empreendimento Marco Zero.


 


Qualquer negócio imobiliário que tenha Milton Bigucci como participante precisa ser visto com lupa. O Ministério Público do Consumidor de São Bernardo já denunciou a MBigucci como campeã de irregularidades na região. Há outros passivos nada éticos e nada morais, quando não financeiros, que infligem à imagem daquela companhia manchas que nem magos do marketing conseguirão apagar.


 


O jornal dirigido pelo empresário Ronan Maria Pinto foi suave na sugestão de que Milton Bigucci e a Administração Luiz Marinho podem estar mancomunados em negócio suspeito. Está certo o jornal no tratamento informativo. Tanto quanto este jornalista, optante por tom mais incisivo. O conteúdo da matéria sob o titulo “Bigucci adquire espaço estratégico por R$ 36 mi” é mais que indicativo de que há muito a ser esclarecido.


 


Reproduzindo a reportagem


 


Para tornar este artigo o mais didático possível aos leitores, vou reproduzir escalonadamente todos os trechos da matéria do Diário do Grande ABC. Uma matéria que virou manchete de primeira página. Manchete não é manchetíssima. Manchetíssima é a manchete das manchetes da primeira página, hoje dedicada às demissões nas montadoras. Mas manchete é sempre manchete porque atrai suplementarmente a atenção dos leitores.


 


O tratamento editorial do Diário do Grande ABC induz a perspectiva de que novas matérias sobre o caso estão na agulha. O caso merece mesmo atenção especial porque vai muito além das possibilidades de mutretagem.


 


O conservador Milton Bigucci, inimigo do PT em outros tempos, juntou-se ao sindicalista Luiz Marinho, que o detestava igualmente no passado. Eles se aproximaram porque a vida é bela e os interesses mútuos convergiram ao fortalecimento do mandonismo político e empresarial. Poderia escrever “mundanismo” em vez de “mandonismo” que não teria muita diferença. O empreendimento Marco Zero está aí para confirmar as relações incestuosas entre Marinho e Bigucci. Vamos aos primeiros parágrafos da reportagem do Diário do Grande ABC:


 


 Empresário do ramo imobiliário, Milton Bigucci, proprietário da construtora MBigucci, comprou área estratégica de 29,5 mil metros quadrados por R$ 36 milhões, situada na Estrada das Lágrimas 77, no Bairro Rudge Ramos, em São Bernardo. O local fica entre as duas futuras estações Rudge Ramos e Mauá (essa em São Caetano) da Linha 18-Bronze do Metrô, que ligará a Capital, a partir da parada Tamanduateí, ao Grande ABC, com ponto final na Djalma Dutra, no Município bernardense. A área foi adquirida em abril de 2014 pela Vincere Intermediação de Negócios Ltda. – de propriedade de Bigucci e de sua construtora – junto a seis pessoas físicas que possuíam o local. O pagamento se deu da seguinte maneira: R$ 6 milhões à vista e 10 parcelas de R$ 3 milhões, que foram pagas ao longo de seis meses – escreveu o Diário do Grande ABC.


 


O valor de estratégico


 


Faço um parêntese para chamar a atenção dos leitores: quando o Diário do Grande ABC define como “estratégico” na manchete de página interna o espaço adquirido por Milton Bigucci, é preciso atenção redobrada ao enunciado. O terreno em questão fica entre duas estações da futura linha do monotrilho. Algo semelhante ao empreendimento Marco Zero, na esquina da Rua Senador Vergueiro com a Avenida Kennedy, praticamente na cara do gol do mesmo traçado do monotrilho. Voltamos à reportagem do Diário do Grande ABC:


 


 A expansão do Metrô com a linha 18-Bronze para o Grande ABC começou a ser discutida ainda em 2010. O traçado final foi acertado na gestão passada do governador Geraldo Alckmin (PSDB) com investimento de R$ 4,26 bilhões, repartidos entre Estado, União e iniciativa privada. A definição valorizou a maioria dos terrenos próximos de estações do ramal de transporte coletivo. Em cerca de um terço da área do local funciona um posto de abastecimento de combustível e no restante do espaço chegou a funcionar um shopping automotivo que, recentemente, fechou as portas – escreveu o Diário do Grande ABC.


 


Cronologia dos negócios


 


Quanto a essas novas informações, o que poderá elevar o nível de desconfiança de que o negócio não foi apenas uma engenharia de conhecimento territorial de São Bernardo, especialidade de Milton Bigucci, é a cronologia dos acertos fechados com antigos proprietários dos nacos daquele imóvel. Sabe-se que a finalização da compra em forma de legalização cartorial não é necessariamente a realidade dos fatos que permeiam negócios imobiliários.


 


O que quero dizer com isso é exatamente o que o leitor mais esperto já sacou: com a possibilidade mais que provável de contar com informações privilegiadas junto a gestores públicos, porque Milton Bigucci frequenta corredores dos mandachuvas políticos com desenvoltura, não seria surpresa se a consolidação legal de cada cota do espaço físico adquirido tenha se dado muito tempo após o compromisso formal de venda. Compra-se hoje com todas as garantias mas se registra o imóvel em nome do novo proprietário apenas depois.


 


Quem entende que a marca do tempo pode fazer a diferença entre um negócio saudável do ponto de vista ético e um negócio viciado também sob o ponto de vista ético recomendaria ao empresário Milton Bigucci completa transparência pública porque, afinal, é presidente de uma entidade de classe que deve dar exemplo de idoneidade.


 


Agora os trechos finais da reportagem de Diário do Grande ABC. Diria que são os trechos potencialmente mais importantes, porque abarcam a suspeição do negócio da MBigucci travestida de empresa intermediária. Leiam com o máximo de atenção e digam, digam mesmo, se este jornalista esta a ver fantasmas quando dá tom mais abrasivo à notícia publicada pelo jornal:


 


 Segundo informações da assessoria da Vincere, não há previsão de nenhum projeto imobiliário ou logístico para ser executado no local. A companhia alega que manterá o posto em funcionamento e voltará a alugar espaço para loja de veículos. A empresa negou pertencer à construtora, apesar de a Junta Comercial de São Paulo mencionar que a Vincere tem a construtora MBigucci como proprietária majoritária, com cota de R$ 999 do capital total de R$ 1.000 e Bigucci com cota de R$ 1. A Prefeitura de São Bernardo acertou em junho de 2013 convênio de US$ 250 milhões junto ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para a construção de corredores de ônibus e terminais rodoviários. Dentro do pacote de obras, o Rudge Ramos receberá um terminal rodoviário com a futura estação do Metrô no bairro. A Prefeitura ainda não definiu o local em que irá erguer o equipamento de mobilidade urbana. A microrregião é populosa e carente de áreas vagas para sediar grandes obras. O governo do prefeito Luiz Marinho (PT) não respondeu aos questionamentos do Diário sobre o local em que irá construir o terminal e sobre as possibilidades de fazer desapropriações – finalizou a reportagem do Diário do Grande ABC.


 


Sonegando informações


 


Mais uma vez o conglomerado de Milton Bigucci abusa do direito de sonegar informações. Craque no mercado imobiliário, Milton Bigucci é um desastre na área de comunicação. O primarismo é alucinante. Tanto na MBigucci quanto no Clube dos Especuladores Imobiliários. Não se sabe ao certo se Milton Bigucci também é excessivamente centralizador na área ou se os profissionais contratados para a interlocução com a mídia são competentes. Ao negar que a Vincere integra a constelação da MBigucci, a assessoria de comunicação de Milton Bigucci abre flanco considerável à elevação do grau de suspeição do negócio. O que estaria por trás da Vincere também é algo a ser anotado como prioridade informativa.


 


Mas isso é menos importante diante da informação derradeira do Diário do Grande ABC, que traduzo nos seguintes termos: o que está sob desconfiança é que a MBigucci comprou o terreno onde funcionou o Shopping Cristal porque está de cambalacho com a Administração Luiz Marinho. O terreno seria desapropriado em valores regiamente compensadores e passaria a constar do mapa de São Bernardo como endereço do terminal rodoviário que fará a integração logística com as anunciadas futuras estações mais próximas do monotrilho, uma no extremo de São Caetano, quase divisa com São Bernardo, e outra no Bairro Rudge Ramos.


 


O silêncio de Milton Bigucci e de Luiz Marinho é condenatório nessa abertura de cortina de potencial caso de corrupção. Se aparentemente ainda não há marcas profundas que comprovariam delinquência ética entre as duas partes, é possível que a reportagem do Diário do Grande ABC provoque remanejamentos táticos à ocupação daquele terreno.


 


Eventual redirecionamento de destino, em forma de empreendimento imobiliário, como o do Marco Zero, deveria ser rigorosamente observado por instâncias ministeriais. A farra do boi do Marco Zero, que vai muito além da licitação irregular, também se dá em forma de uso e ocupação do solo, com o agravamento da mobilidade urbana no entorno do empreendimento. O Marco Zero da MBigucci agride a logística viária sem que se tenha qualquer notícia sobre eventuais medidas mitigadoras.


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