Sociedade

Como está o PAC na região? Que
Marinho trate de dar informações

DANIEL LIMA - 20/02/2015

O título acima é reto e direto, porque o assunto não comporta firulas diplomáticas. Até porque firulas diplomáticas não combinam com jornalismo. O prefeito de São Bernardo está devendo à sociedade uma prestação de contas sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na região. Sim, nos sete municípios. Explico na sequência porque individualizo o compromisso do governo federal e dos representantes políticos com a sociedade regional. Talvez Marinho fuja do assunto. O estoque de dados pode ser comprometedor à suposta força política que desfrutaria no governo federal. Dilma Rousseff não é Lula da Silva, como se sabe.


 


Volto no tempo. Há oito anos, em abril de 2007, quando ministro da Previdência Social, Luiz Marinho liderou a realização de um evento no Restaurante São Judas Demarchi, em São Bernardo, para mostrar o que o PAC traria de benefícios à região. O noticiário diz que participaram 500 convidados. Na mesa de autoridades, entre outras figuras petistas, estava a então chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e até mesmo -- vejam só os laços se fechando -- o então diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa. Sim, o mesmo Paulo Roberto Costa que aceitou de coração aberto a delação premiada proposta pela força-tarefa que desbaratou o esquema de corrupção na maior estatal brasileira, uma das patrocinadoras do evento. Paulo Roberto participou de uma das mesas de exposição de ideias. Como Milton Bigucci, presidente do Clube dos Especuladores Imobiliários.


 


Debates caudalosos


 


Luiz Marinho estava por baixo dos panos daquele evento. Afinal, já lançara olhares e ações rumo à campanha que o levaria ao comando da principal Prefeitura da região. O encontro foi badaladíssimo. Havia gente graduada tanto do Assalta Grande ABC quanto do Festeja Grande ABC. Também havia representantes do Omita Grande ABC e do Dissimula Grande ABC. Até alguns gatos pingados do Defenda Grande ABC provavelmente estavam no local.


 


Foram muitos os debates. “Este evento pode significar para o ABCD um novo momento na história de iniciativas de reestruturação da economia e da sociedade regional. Um processo que ficou adormecido com o desaparecimento do prefeito Celso Daniel, o grande estadista regional que nos inspira neste momento”, afirmou o jornalista Celso Horta, diretor-presidente do jornal ABCD Maior, ao dar o mote do que seria o desfile de positivismos gelatinosos.


 


Até um grupo de chorinho foi contratado para abrir o evento com a apresentação de releitura do Hino Nacional. O PT regional estava embaladíssimo rumo às eleições municipais de 2008. Celso Daniel sempre aparece nessas horas. Depois é simplesmente jogado às traças. Porta-vozes dos medíocres adoram nas campanhas eleitorais convocar os craques que viraram saudade. Depois, jogo do mandato iniciado, os descartam. C comparações serão fardos sobrepostos às limitações que afloram. 


 


Como existe distância quilométrica tormentosa entre discursos e obras, o que se espera do prefeito de São Bernardo, também no comando do Clube dos Prefeitos do Grande ABC, é que saia da toca da omissão sobre o que se desenrolou com o dinheiro destinado ao PAC na Província e faça prestação de contas à sociedade. A sede do Clube dos Prefeitos é o melhor endereço. Luiz Marinho poderia institucionalizar a apresentação. Mas se achar que estaria usurpando do cargo oficialmente ocupado por Gabriel Maranhão, prefeito de Rio Grande da Serra, uma convocação de entrevista coletiva em que se apresente exclusivamente como prefeito de São Bernardo e principal representante petista do governo federal na região resolveria tudo.


 


Tempos diferentes


 


Nem se imagina uma festa-réplica daquela de 2007. As circunstâncias são tenebrosamente outras. Tão outras que a patrocinadora máster do espetáculo, Petrobras, está mal das pernas éticas, morais, econômicas e financeiras. Tudo por causa da política partidária. E o executivo Paulo Roberto Costa, generosamente aplaudido oito anos atrás, quando participou do coro de edulcoração da economia regional, virou inimigo preferencial do PT, juntamente com outros delatores.


 


O que interessa é o cronograma de investimentos financeiros e também de obras do PAC na Província do Grande ABC. Tudo muito bem explicado e comprovado, sem truques costumeiros dos detentores de poder público engenhosamente munidos de instrumentos tecnológicos que sofisticam a embromação.  Preferencialmente com dados abrangentes sobre desencaixes e realizações em nível estadual e nacional. Precisamos fazer comparações e estimar o que representa em termos de futuro o fato de termos uma agremiação política que surgiu em nossas entranhas. 


 


Mais que isso, é bom lembrar: por que fizeram tanta festa no lançamento do PAC regional, consumindo dinheiros para recepcionar tantos convidados, e, oito anos depois, não se retoma o temário? Aquele evento promovido pelo jornal ABCD Maior contou com o patrocínio da Petrobras e do Grupo Unipar, também do setor petroquímico. A Agência Carta Maior foi uma das apoiadoras, ao lado da Caixa Econômica Federal, Jornal Ponto Final, Rede TV!, Rádio ABC, Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Santo André, Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Diadema e Universidade Federal do ABC. Pelo governo federal estiveram presentes os ministros Marinho e Dilma Rousseff, além de Jorge Hereda, vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Miriam Belchior, subchefe de Articulação e Monitoramento da Casa Civil, além de Paulo Roberto Costa. Repararam que se mobilizou força-tarefa governamental para que se passasse recado à região de que Papai Noel seria presença diária em nossa economia?


 


Tática da enganação


 


A lista de participantes não se esgotou naqueles nomes. O presidente da Anfavea (Clube das Montadoras do Brasil), Rogério Golfarb, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopes Feijó, e o presidente do Grupo Unipar, Roberto Garcia, também constaram das mesas de debates. Tudo isso não passou de programação que poderia se inserir em algo como “me engana que eu gosto”, como tantos outros eventos que a região sediou ao longo dos últimos 25 anos, a maioria completamente esquecida, depois de supostos ganhos de marketing.


 


É claro que todos os agentes públicos e sociais deliberadamente ou não integrantes de uma farsa gostariam que os registros do passado fossem exterminados, mas as marcas de informações que comprovam a repetição de uma tragédia, a tragédia do descaso, não escapam à minha perseverança de cavoucar nos arquivos impressos e digitais porções substanciais da sem-vergonhice cometida contra o futuro.


 


Quem acha que a memória da Província do Grande ABC só está disponível no brilhantismo do companheiro Ademir Medici, nas páginas do Diário do Grande ABC, está fadado a cair do cavalo. Jamais imaginei que pudesse me colocar na mesma raia, mas de forma distinta. Sou evidentemente odiado por aqueles que querem esquecer o passado de promessas e vagabundagens. Ademir Medici cumpre a missão bem mais agradável, embora extremamente trabalhosa, de capturar o passado de individualidades e instituições que têm orgulho do que produziram à sociedade regional. Não necessariamente – e democraticamente -- com a minha concordância em alguns casos. Mas isso é outra história. 


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