Mesmo com nova queda, o Grande ABC volta a ocupar o terceiro lugar no ranking do IPC (Índice de Potencial de Consumo) da Target Marketing e Pesquisas, o mais confiável medidor do gênero disponível no mercado nacional. O ranking obtido com exclusividade por LivreMercado em 3 de abril, última etapa de fechamento editorial, é válido para este ano. Resumidamente, projeta o que a população de cada um dos mais de cinco mil municípios brasileiros consumirá em 2006. Os sete municípios do Grande ABC somam 2,04144% de índice, contra 2,11351% no ano passado. Isso significa que de cada R$ 100 que serão presumivelmente gastos este ano no País, R$ 2,04 terão como agentes moradores da região. A cidade de São Paulo lidera com 9,63164% e o Rio de Janeiro está em segundo com 5,75450%. Belo Horizonte, que ocupava o terceiro lugar no ano passado, caiu para o quarto, com 1,98743%. Há vários anos o Grande ABC se reveza com a capital mineira em terceiro lugar.
Numa trajetória com ano-base 1995, sobram provas de que o empobrecimento absoluto e relativo da Região Metropolitana de São Paulo é sombra do esvaziamento industrial. Nesse período, os sete municípios do Grande ABC perderam 29,7% de participação nacional no Índice de Potencial de Consumo. Os estragos na Capital paulista foram maiores: 40,2%. Guarulhos (queda de 20,4%) e Osasco (queda de 21,8%) também não escaparam da precarização do emprego e do aumento do desemprego. Individualmente, quem mais caiu no Grande ABC foi São Caetano com 40,4%, contra 34,1% de Santo André, 33% de São Bernardo, 26,8% de Ribeirão Pires, 16,8% de Mauá, 15% de Diadema e 2,5% de Rio Grande da Serra.
Em trajetória contrária, municípios do Interior e do Litoral capitalizaram grande parcela do potencial de consumo que deixou a Grande São Paulo. E os números desses 11 anos são inquestionáveis: a Região Metropolitana de São Paulo contava com 67,7% do potencial de consumo paulista em 1995, contra 52,4% previstos para este ano. A perda da RMSP de 22,6% foi parcialmente direcionada pelo restante do Estado, já que a participação relativa dos paulistas no ranking nacional caiu de 36,6% para 30,6%, ou 16,4% em 11 anos. Tradução: os paulistas estão sofrendo as consequências da gradual mas permanente descentralização econômica do País.
Em recente Reportagem de Capa, LivreMercado mostrou que não existe surpresa no rebaixamento econômico do Grande ABC, da Grande São Paulo e do Estado de São Paulo. A participação relativa da região no PIB brasileiro caiu 46,39% nos últimos 33 anos, contados entre 1970 e 2003. Já o Estado de São Paulo contava com 36,1% do PIB nacional, contra 31,8% de 2003, queda de 12%. A realidade paulista está estreitamente vinculada à debandada industrial. Em 1985 a indústria paulista representava 51,6% do setor no País e em 2003 caiu para 40,4%, ou perda de 21,7%. O sistema financeiro, fortemente concentrado na cidade de São Paulo, tem amenizado as perdas do PIB paulista, mas não consegue dissimular o afrouxamento industrial.
Os mais de 2,5 milhões de habitantes do Grande ABC deverão gastar este ano, segundo Marcos Pazzini, diretor da Target, R$ 23,7 bilhões do total de R$ 177,6 bilhões previstos para o Estado de São Paulo. Já o consumo dos 186 milhões de brasileiros em 2006 será de R$ 1,0987 trilhão. Para que mantivesse o nível de consumo de 1995, quando se iniciaram as mais profundas mudanças industriais nos sete municípios locais, o montante deveria atingir R$ 33,7 bilhões. Esse é o valor corrigido do consumo projetado em 1995. Valor corrigido é o montante nominal daquele ano acrescido da inflação medida pelo IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado) da Fundação Getúlio Vargas, que acumulou 170,42%.
A diferença de R$ 10,03 bilhões que o Grande ABC consumirá a menos em 2006 em relação a 1995 equivale a 0,862559% do IPC brasileiro deste ano – praticamente tudo que potencialmente São Bernardo e São Caetano têm para gastar nestes 12 meses. Ou seja: em 11 anos de pesquisa do IPC da Target, que está estruturalmente anexada ao PIB (Produto Interno Bruto), o Grande ABC perdeu uma São Bernardo e uma São Caetano de consumidores potenciais. A gravidade da situação é maior ainda porque o IPC está umbilicalmente ligado à demografia. Quanto mais habitantes, mais se projeta a possibilidade de avanço no ranking. Não é por acaso que São Paulo e Rio de Janeiro lideram o estudo. Pois o Grande ABC vem perdendo participação relativa e absoluta mesmo com o acréscimo de 402.066 habitantes em pouco mais de uma década. Reflexo disso é que o potencial de consumo por habitante em 1995 era de R$ 15.556, contra R$ 9.220 em 2006. A diferença de 40,7% é emblemática da depauperação média individual dos moradores da região.
O mergulho dos municípios da Grande São Paulo em relação aos do Interior e do Litoral é gritante. Em valores corrigidos, a Grande São Paulo consumiu potencialmente R$ 250,5 bilhões em 1995, contra R$ 177,6 bilhões previstos para 2006. A diferença de 29% significa R$ 72,8 bilhões a menos. Sozinha, São Paulo somou perdas de R$ 65,1 bilhões já que de R$ 175,5 bilhões corrigidos de 1995, serão alcançados apenas R$ 110,4 bilhões este ano. Se a disputa entre Grande São Paulo e restante do Estado for transferida para o campo per capita, dividindo-se o total pelo número de habitantes, os metropolitanos sob o centro de gravidade de São Paulo apresentarão R$ 9.354 por cabeça, contra R$ 8.094 dos interioranos e litorâneos. Uma vantagem de 10% para os metropolitanos.
Bem diferente de 1995, quando a RMSP apresentava potencial de consumo por habitante 46% superior, de R$ 16.8501 contra R$ 9.034 dos demais moradores do Estado. Parece mais que evidente que o deslocamento da produção de riqueza ao Interior e ao Litoral possibilita reviravolta nos indicadores da Target e torna a equação desafiadora para quem eventualmente pretende colocar um freio e, quem sabe, reverter a tendência de empobrecimento da metrópole paulista que envolve 39 municípios e 19,6 milhões dos 41 milhões de habitantes do Estado de São Paulo projetados para 2006.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?