Sociedade

Por que tanta demora do MP para
denunciar corruptos do Semasa?

DANIEL LIMA - 25/02/2015

O promotor criminal Roberto Wider Filho, conhecido pelo rigor com que conduziu investigações do caso Celso Daniel, precisa dar publicidade – ou explicar por que não daria publicidade – à apuração da Máfia do Semasa, o escândalo que estourou durante a Administração do prefeito Aidan Ravin. Há um ano Wider Filho disse que estava prestes a anunciar os resultados das investigações e que já contava com o nome de um empresário na linha de tiro como envolvidíssimo nas maracutaias. Seria Milton Bigucci, da MBigucci, conforme declarações do advogado Calixto Antônio Júnior, emissário de Aidan Ravin no centro de decisões do Semasa, a autarquia de água e esgoto de Santo André.


 


A demora à apresentação da lista de corruptos e corruptores da Máfia do Semasa está na contramão das apurações na Capital, onde a Controladoria Geral do Município e o Ministério Público atuaram em conjunto para desbaratar a quadrilha que atuava nos interiores da Administração Fernando Haddad, herança da Gilberto Kassab, a chamada Máfia do ISS que, descobriu-se, também controlava mecanismos delituosos em outros impostos municipais.


 


Coincidentemente ou consequentemente, Milton Bigucci e seu conglomerado de empresas foram pegos no contrapé nas propinas paulistanas. O presidente do Clube dos Especuladores Imobiliários do Grande ABC é figurinha fácil em irregularidades que tenham como origem o desembaraço com que percorre corredores palacianos.


 


Combates democráticos


 


Voltando ao Ministério Público de Santo André, vou tentar manter nos próximos dias contato com o promotor criminal Roberto Wider Filho, interlocutor presencial e digital de longa data. Mais precisamente desde que, lastreado em conclusões de inquéritos da Polícia Civil de São Paulo e da Polícia Federal, me opus fortemente à denúncia contra o empresário Sérgio Gomes da Silva, a quem a força-tarefa do MP, da qual Wider era um dos integrantes, atribuiu a construção intelectual do assassinado do prefeito Celso Daniel.


 


Tivemos, por conta disso, embates públicos e reservados a provar que o regime democrático não impõe subalternidade entre representantes da mídia e agentes públicos graduados. O bem maior a ser preservado é a informação preferencialmente recheada de contraditórios. Quem foge de confrontos esclarecedores já perdeu.


 


Ouvir o promotor criminal Roberto Wider Filho é quase uma obrigação jornalística. O inverso, entretanto, sugeriria uma lógica de relacionamento transparente entre uma autoridade ministerial e um profissional de comunicação. Afinal, já escrevi sobre o assunto em questão. Caberia a Roberto Wider Filho chamar a imprensa para relatar o processo de apuração dos crimes cometidos contra os cofres da Prefeitura de Santo André, com repercussões danosas à qualidade de vida da sociedade.


 


Casa da sogra


 


Não pretendo neste texto repassar o histórico do caso da Máfia do Semasa. Selecionei o link logo abaixo para uma leitura complementar que ajuda a entender a razão desta matéria. Insisto na estranheza sobre a demora aos esclarecimentos que há muito se fazem necessários. Por mais que a Província do Grande ABC seja uma casa da sogra em matéria de alienação, há representantes da sociedade que dedicam integral confiança e respeito a agentes públicos selecionados para reduzir o grau de corrupção, sobretudo nas esferas públicas.


 


Frustrar a expectativa desses formadores de opinião que encontram no Ministério Público expressivo campo de ações repressivas à bandidagem de colarinho branco seria mais um golpe que distenderia ainda mais os mecanismos de cidadania responsável. A Província do Grande ABC, tanto os pouco combatentes quando os espectadores de sempre, agradeceria muito ao Ministério Público se fosse contemplada com novidades sobre a Máfia do Semasa. Seria uma injeção de adrenalina cívica num organismo debilitadíssimo em autoestima.


 


Na medida em que existe demora prolongada em se dar publicidade a um caso que praticamente foi engavetado pela mídia regional após o estardalhaço dos primeiros dias de denúncias, mais se cristaliza no seio da sociedade que estamos aperfeiçoando todos os mecanismos de malandragem imune a penalidades legais. Nada mais emulativo ao inconformismo congelante.


 


O caso da Máfia do Semasa não expôs, como deveria expor à sociedade (e a roubalheira na Petrobras deveria servir de referencial mesmo que tardio) tudo o que foi declarado pelos envolvidos, especialmente os denunciantes. Os depoimentos do advogado Calixto Antônio Júnior, peças centrais à montagem do mosaico de informações que deram sustentação ao enredo de malandragens, deveriam ser distribuídos à mídia em geral, com direito a ampla divulgação em todas as plataformas de comunicação.   



Exposição pública


 


Os bandidos que se locupletaram da legislação de uso e ocupação do solo em Santo André, ultrapassando todos os limites de tolerância e acrescentando mais ônus à mobilidade urbana, deveriam ser expostos publicamente como o estão sendo os trambiqueiros que esquartejaram a Petrobras.


 


Sabe-se que a ausência de medidas tão céleres quanto drásticas para combater o crime organizado no setor imobiliário em Santo André incentivou a continuidade de negócios obscuros, quando não claramente delituosos, reforçando o desprezo ao Plano Diretor do Município. Há permissividade tão descarada que não se leva em conta qualquer possibilidade de contratempos judiciais porque a Máfia do Semasa tornou-se espécie de senha à impunidade.


 


O promotor criminal Roberto Wider Filho disse em 22 de maio do ano passado ao jornal ABCD Maior (as informações completas estão logo abaixo) que já dispunha de provas suficientes sobre o pagamento de propina para a liberação de licenças ambientais em Santo André. E que já contava com o depoimento de dois empresários que confirmaram o suborno. “Temos provas e depoimentos que apontam irregularidades no procedimento, além de existência de propina”, disse Roberto Wider ao ABCD Maior.


 


A sugestão de que Roberto Wider venha a público não é descabida. É uma obrigação profissional.


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