A presidente Dilma Rousseff e o PT estão perdidos em meio à tempestade de pressões que sofrem por conta de desencantos e desencontros nem todos conhecidos de 12 anos de poder. Por isso ainda não entenderam o recado das ruas. Não entenderam mesmo ou se fazem de desentendidos? O mais provável é que, como não são tolos, procuram ganhar tempo na esperança de que a fervura se abrande e que conchavos multipartidários recoloquem a bagunça nos devidos lugares de acomodação geral e irrestrita. Falta combinar com a força-tarefa que esquadrinhou as vísceras da Petrobras.
Mal sabem Dilma e os petistas que a temperatura pode aumentar às alturas. Novas revelações da força-tarefa da Operação Lava Jato devem adicionar mais pimenta ao vatapá de vagabundagens e incompetências. A prisão de Renato Duque, anunciada hoje, é uma peça importantíssima no tabuleiro de destruição de muita tese de advogados das empreiteiras. Duque seria o elo principal que ligaria os bandidos engravatados ao centro do poder da Petrobras durante a gestão da mais tarde eleita presidente Dilma Rousseff.
Será que os petistas não captaram ainda a mensagem de que nem está certa a minoria das minorias que pede a volta dos militares nem a maioria que sugere o impeachment? Pois o que os brasileiros enganados nas últimas eleições esperam para valer do fundo da alma é a renúncia da presidente, com consequente desmonte da linha de montagem de roubalheiras que o PT coordenou durante mais de uma década -- até que a pedra da Petrobras aparecesse no meio do caminho.
Os brasileiros querem uma renúncia sem traumas maiores que a própria renúncia significa. Tudo é preferível ao sangramento contínuo que possivelmente levará a institucionalidade a situação dramática e a economia à ribanceira internacional.
Remédio esgotado
O remédio da economia, que cura todos os males da baixa cidadania porque o bolso é cego, surdo e mudo em tempos de fartura, esse remédio já se esgotou. O brasileiro que foi às ruas ou que torceu pelo fervilhar das manifestações instalado num sofá diante do aparelho de TV já não quer nem Dilma Rousseff nem o PT no governo federal. Será que eles ainda não entenderam a mensagem ou são tão estupidamente burros que se acham habilitados a consertar o cristal da credibilidade que se foi? Ações contra a corrupção num governo liderado pelo PT equivale a falar de corda em casa de enforcado.
Enganam-se aqueles que anexam ao cronograma de desgoverno petista a chegada de Dilma Rousseff à presidência da República. Nem economicamente e muito menos em ética o desastre petista começou com Dilma Rousseff. A presidente só foi incapaz de contornar as armadilhas entre outras razões porque não tem habilidade, conhecimento e capacidade de juntar os diferentes que durante todo o tempo deram suporte ao antecessor Lula da Silva. Este sim, o marco zero do desastre. Tudo começou com Lula e seu viagra consumista de políticas econômicas anticíclicas, cujos efeitos se foram e deixaram rastro contaminador de desilusões e desassossego.
Lula da Silva é a gênese da crise institucional e econômica. A começar pelo aparato que azeitou sistemicamente as engrenagens das petrorroubalheiras e de tantas outras falcatruas, passando pelas imprevidências econômicas de um presidente bafejado pela onda milionária de valorização das commodities mas cujos recursos evaporaram em gigantescas aplicações de cunho predominantemente populista.
A chamada nova classe média que jamais existiu mas que os incautos compraram como verdadeira se esvai agora ao sabor dos índices inflacionários e da crise que começa a solapar empregos e renda.
Monopólio perdido
A perda do monopólio dos movimentos sociais e das ruas talvez seja neste momento o vetor mais dramático da orfandade de Dilma Rousseff e do PT junto à sociedade brasileira. Restaram apenas grupos chapas-brancas, de movimentos doutrinários geralmente ao sabor de inversões de dinheiros públicos que ninguém fiscaliza e por isso mesmo facilmente desviados. Os limites do PT às bases sociais mais aderentes ao interesseirismo aterrorizam o Palácio do Planalto. A tentativa de dividir o País entre “nós e eles” está virando pó ante evidências e provas.
Finalmente a sociedade como um todo decidiu reagir sem partidarizar um movimento centralizado sim nos descaminhos petistas, mas não isenta outras agremiações, mesmo opositoras mais ao gosto da maioria, de desconfiança.
Os patéticos ministros que Dilma Rousseff mandou representá-la para atenuar os estragos das ruas teriam se saído muito melhor se recorressem ao silêncio e ao isolamento público, como a presidente. É melhor calar-se a zombar do bom senso, dos fatos, da história e dos compromissos com a sociedade assumidos durante a campanha eleitoral.
Contemplados em represália, senão com indignação, com novo panelaço, os dois ministros deveriam agradecer aos céus por tamanha diplomacia. Em lugares menos civilizados não teriam complacência à estupidez de sugerir nas entrelinhas, quando não nas frases inteiras, que está o governo federal a fazer um favor à sociedade quando lhe entrega o direito de protestar e de ir às ruas, como se essas iniciativas fossem dádivas dos poderosos de plantão. Como se já não bastasse a frase-feita de que as instâncias legais do País que combatem a corrupção só agem porque há interesse do governo, quando se sabe que a resposta é inversamente outra – agem apesar do governo.
Collor ou Getúlio?
O que faz a presidente Dilma Rousseff resistir à renúncia? Talvez tenha ojeriza à biografia de Collor de Mello que, por muito menos, foi apeado do poder. Ou está a flertar com Getúlio Vargas, como induziu a interpretação dos mais atentos durante o discurso de posse do segundo mandato ao reiterar compromissos autofágicos com uma política social que não cabe no reservatório de restrições da política econômica comandada por um liberal imposto para salvar o País da bancarrota.
Dilma Rousseff talvez não se dê conta de que os desígnios que a levaram a ocupar a Presidência da República por quatro anos, renováveis potencialmente por outros quatro, lhe foram extremamente generosos. Por mais que se procure, não se encontra em sua personalidade e nos atributos de executiva pública, quer à frente da Petrobras, quer no governo, nada que a diferencie de alguém que se encaixaria bem em qualquer atividade comum, sem grandes responsabilidades.
Tutelada o tempo todo pelo então e depois ex-presidente Lula da Silva e conduzida por um marqueteiro que vende ilusões sem o menor compromisso com os fatos, Dilma Rousseff talvez só não tenha renunciado ainda porque deve duvidar da própria história pessoal que a colocou no topo do poder nacional.
Alguém precisa avisar Dilma Rousseff: ela é mesmo presidente da República e, portanto, já passou da hora de acordar, renunciando ao cargo. A realidade virou pesadelo.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!