Vamos ser retos, diretos e contundentes? O prefeito Luiz Marinho e seu entorno, principalmente o entorno do governo paralelo que mantém em completa obscuridade -- contando para isso com a omissão de boa parte da imprensa -- correm sérios riscos de não escaparem de rescaldos da Operação Lava Jato. Outros personagens da vida cotidiana da região teriam o mesmo destino. Tudo é especulação. Inclusive esse texto. A diferença entre especulação gratuita e especulação deste texto é que este texto é produzido e assinado por um jornalista que integra todas as listas negras de gente sem compromisso com a região. O significado de especulação, portanto, comporta nuances.
Se querem saber, não tenho motivo algum para tentar aliviar a barra de eventuais implicados no escândalo da Petrobras com atuação política ou empresarial na região. Aqui tudo se pode em matéria de permissividades públicas. Até que forças externas à confraria de autoproteção se manifestem. Como parece ser o caso das petrorrobalheiras.
Quem acredita que não exista motivo para possíveis nomes da região integrarem a lista dos malfeitos na Petrobras deveria ler o jornal Valor Econômico de ontem, terça-feira. Está lá escrito em letras de forma: “Desde a deflagração da operação, em 17 de março de 2014, a força-tarefa Lava Jato do MPF já propôs 20 ações criminais contra 103 pessoas. Já foram instaurados 330 procedimentos e 485 pessoas e empresas são investigadas. Foram cumpridos 69 mandados de prisão. O número de acordos de colaboração premiada com pessoas físicas chega a 15 – sendo que apenas dois dos 13 homologados foram feitos com réus presos” – escreveu o jornal.
Centro do poder
Não custa repetir que são 485 pessoas e empresas investigadas. Seria o cúmulo da barbeiragem policial e ministerial se pelo menos meia dúzia de representantes da Província deixasse de constar da relação. A projeção não tem nada a ver com probabilidade matemática levando-se em conta critérios demográficos e empresariais. Nada disso. É realidade nua e crua. Que realidade nua e crua? De implicações econômicas e políticas do governo petista na região, cujo centro de poder político e econômico está estabelecido em São Bernardo.
Empresas do Polo Petroquímico, localizado na divisa de Santo André e Mauá, ancoraram muitos negócios que fogem completamente da etiquetagem de normalidade. Inclusive a gigantesca Braskem, conforme denúncias. Fornecedores da Petrobras espalhados pela região também oferecem cardápio imenso de possibilidades.
Mais? A fartíssima distribuição de dinheiro nas campanhas eleitorais pelos mandachuvas do PT, principalmente, em operações mais que abusadas. Quem acompanhou os bastidores das eleições municipais de 2012 sabe do que estou falando.
Querem mais razões que me levam a especular sobre as íntimas relações de representantes regionais no escândalo da Petrobras? Os contratos de gestores municipais com empresas colhidas em flagrante delito pela força-tarefa federal. Caso da campeoníssima OAS, maior empreiteira de obras da Administração Luiz Marinho e doadora preferencial de recursos eleitorais ao PT.
Ambiente de paralisia
Se tudo isso e muito mais não bastassem, a paralisia que envolve muitos dos petistas da região, sobretudo de São Bernardo, indica que existe algo de muito anormal a contaminar o ambiente antes festivo e prospectivo. O agora deputado estadual Luiz Fernando Teixeira já estaria na alça de mira da Polícia Federal. Recentemente saiu uma notícia no portal do Estadão dando conta de que se encontraram documentos que o ligariam ao doleiro Alberto Youssef, um dos delatores do esquema. Houve descaracterização preliminar de que Luiz Fernando Teixeira estaria sendo investigado. Quando se trata de apuração de malfeitos nem sempre o que se lê é o que se efetiva.
Até porque, convenhamos, o supersecretário sem pasta da gestão Luiz Marinho é mesmo um homem sob suspeição. Ou não deveria ser observado com desconfiança alguém que gravita em torno do Poder Público sem cargo algum mas com poder decisório extraordinário, assim como o advogado Edson Asarias, cuja atuação na compra dos caças Gripen extrapola qualquer manual de bons modos éticos?
Como os leitores devem estar percebendo, eu mesmo estou tratando de dinamitar a adjetivação deste texto, quando lhe atribuí caráter especulativo. Foi apenas uma jogada semântica provisória. Descarto-a nestas alturas dos parágrafos. O que se tem na região sob o prisma deste jornalista é sim a caracterização de um estado geral e irrestrito de inquietação entre aqueles que conhecem bem os bastidores da política.
Presente postergado
Não sei até que ponto a Província do Grande ABC e os protagonistas que atuam livres, leves e soltos sem qualquer preocupação em dar bola à sociedade são relativamente importantes à força-tarefa do Lava Jato. Mais que isso: diante do manancial de escândalos em outras estatais federais, na lista de espera de denúncias que o Petrolão monopoliza, é provável que as irregularidades locais sejam lançadas numa conta futura de transparência e penalidades.
Ou seja: os descaminhos públicos e privados da região, vitaminados pela quadrilha que atuava dentro e fora da Petrobras, poderão permanecer por mais tempo na penumbra das investigações e de eventuais denúncias. Esse refresco não significaria situação confortável aos eventuais envolvidos nas falcatruas. Eles se sentirão permanentemente vigiados por forças de investigação e conhecerão o peso de não poderem mais recolher dinheiro sujo com tanta facilidade para manipular o poder na região.
Ninguém melhor que o prefeito Luiz Marinho, chefe maior do Partido dos Trabalhadores na região, conduzido a essa condição pelo ex-presidente Lula da Silva, para tomar a iniciativa de levar à sociedade informações que o retirem da lista preferencial de amigo de primeira hora dos mandachuvas da Petrobras, os quais transformaram a estatal em extraordinária cadeia de produção de roubalheiras.
São tantas as ações administrativas obscuras da gestão do petista e também tantas as incursões para aproximar a Petrobrás do território de São Bernardo em períodos ainda recentes, inclusive com a presença do delator Paulo Roberto Costa, que o silêncio pode ser interpretado como campo exploratório à desconfiança de que estaria sim entre aqueles que estão perdendo o sono com os desdobramentos das investigações.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!