Bastou ser apertado de leve numa reportagem do Diário do Grande ABC para o desastrado ouvidor da Prefeitura de Santo André, José Luiz Ribas Júnior, mostrar o destempero que se espera de todos, menos de quem exerce uma função que pressupostamente exige equilíbrio emocional e discernimento.
Ribas fez parte do pacote de negociações de domesticação do presidente da OAB local, Fábio Picarelli, perpetrada pela Administração Carlos Grana.
A articulação para a eleição do titular da ouvidoria fez parte de um espetáculo da falsa democracia que esses conselhos multifacetados sugerem que seja coisa séria. Dizem que Picarelli e Ribas já não se bicam mais. Nada surpreendente porque ambos foram colhidos pelo vírus do politiquismo a qualquer preço. Amizades interesseiras que viram antipatias mútuas são comuns na política, mais que na vida. Mas não se descarta que possam se unir no futuro, porque Fábio Picarelli busca espaço para concorrer à Prefeitura.
José Luiz Ribas ficou enfezado com a abordagem jornalística do Diário do Grande ABC do último domingo que, em resumo, tratou da baixa qualificação e poder de influência de ouvidorias municipais. Ele se acha mais importante do que a letra da lei e as negociações políticas. Provavelmente quer passar imagem de independência, quando não passa de subserviente ao Poder Público.
Revoguem os dispositivos
Os administradores públicos da Província do Grande ABC que adotaram essa quasímodo institucional chamado ouvidoria deveriam revogar todos os dispositivos legislativos que sustentam esse jogo de cena de democratização do Poder Executivo. A atuação dessas ouvidorias é em regra uma extensão político-partidária do poderoso de plantão. Um ou outro ouvidor, como Ribas, imagina-se mais importante do que de fato é. Formiga num tronco de correnteza abaixo, acha que está no comando da embarcação.
Não tive e nem pretendi ter acesso ao e-mail que Luiz Ribas enviou aos diretores do Diário do Grande ABC. A resposta do diretor de redação Sérgio Vieira, num texto-destaque ao lado da notícia sobre o destempero do ouvidor, é suficiente para entender o enredo integral.
O ouvidor de Santo André não é uma besta quadrada porque não lhe daria essa adjetivação que poderia ser considerada ofensiva, mesmo que usada metaforicamente. Tampouco vou sugerir que seja uma cavalgadura. Quem no fundo no fundo tem de responder por ele é o presidente da OAB. Se escala tão mal alguém para ser ouvidor, imaginem os leitores se amanhã por uma dessas calamidades da vida é levado ao comando do Paço. Se bem que tantos assemelhados já passaram pelos Executivos da região que provavelmente não haveria estupefação. Luiz Marinho não me deixa exagerar.
Carta de compromissos
Os leitores que acreditam que esteja este jornalista a forçar a barra em resposta à ação do ouvidor provavelmente adoram dar conselhos quando os respectivos interesses e compromissos não estão
Primeiro porque provavelmente não conheça o espírito e a alma daquelas linhas preparadas pelo diretor de redação Sérgio Vieira. Segundo porque de jornalismo e de responsabilidade social, irmãos siameses daquela amarração de compromissos com a comunidade da região, ele não entende patavina. Terceiro porque a Carta do Grande ABC está a pleno vapor. É preciso ser muito descuidado ou limitado para não entender o que se passa nas páginas do Diário do Grande ABC. Tanto está a pleno vapor a Carta do Grande ABC que as ouvidorias já foram colhidas em flagrante delito de omissão e despreparo.
Com a experiência de quem conhece de cor e salteado a configuração operacional de ouvidorias municipais, esse disfarce de inserção social próprio dos demarcadores de territórios de privilégios, garanto que José Luiz Ribas e os demais ouvidores das prefeituras que adotaram essa embromação não têm o que mostrar substantivamente. Ouvidoria oficial, protegidíssima pelo patrão prefeito, é ouvidoria para boi dormir.
Independência de verdade
Ouvidor de verdade – e agora vou deixar qualquer fruído de hipocrisia de lado – é a que este jornalista está a exercer de forma ainda menos abrangente no Diário do Grande ABC. Não fui nomeado ouvidor, é verdade, até porque tenho outras funções práticas e potenciais a exercer naquela publicação, mas quem recorrer às colunas que já produzi, publicadas nas edições dos últimos domingos, poderá constatar que não estou ali para lustrar o ego de ninguém que não mereça. Embora também não caia na armadilha que os tontos pensam que cairia ao descer a lenha na equipe de redação pelo simples prazer de provar independência. Os limites que permeiam o bom senso crítico exigem maturidade e senso de justiça.
A Carta do Grande ABC, uma formulação conceitual coletiva e cuja execução tem as digitais amplas e corajosas de Sérgio Vieira e sua equipe de redação, não é um documento acabado. Sabemos que na medida em que as metas forem alcançadas novas demandas surgirão mas, diferentemente do que afirmou o ouvidor, está muito adiante dos pressupostos mais avançados de camadas sociais incomodadas com a letargia desta Província.
Seria interessante se tanto José Luiz Ribas quanto os demais ouvidores públicos da região mirassem o exemplo do Diário do Grande ABC na abertura concedida a um profissional de comunicação que, todos sabem, não é uma Maria vai com as outras.
Os prefeitos locais que adotaram esse quadradinho no organograma oficial deveriam seguir o exemplo do Diário. Ou seja: jogariam no lixo essa rede de interesses escusos que procura dar uma roupagem de legitimidade à escolha do ouvidor e optariam por um profissional notoriamente avesso à partidarização do canal de comunicação entre a sociedade e a administração pública.
Talvez o que José Luiz Ribas não saiba ainda é que a perdurar a nova filosofia editorial do Diário do Grande ABC – e não há motivos a eventual dissuasão – sua atuação na ouvidoria de Santo André não terá avaliação episódica, mas permanentemente de acordo com a demanda dos leitores, também contribuintes, também eleitores, também cidadãos. Que se prepare, portanto. Não podemos ser condescendentes com agentes públicos e privados que exercem funções que atravancam o desenvolvimento regional.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!