Sociedade

Por que Província do Grande ABC é
sofrível fracasso nas manifestações?

DANIEL LIMA - 17/08/2015

Responda, responda de imediato: por que os quase três milhões de habitantes da Província do Grande ABC constituem contingente anêmico em matéria de manifestações contra tudo o que está aí, diferentemente de tantos municípios menos populosos do Estado de São Paulo, por exemplo?


 


Calma que a resposta rápida que estou sugerindo é apenas força de expressão. Tanto que eu mesmo, que decidi avançar interrogação adentro, peço até amanhã para expor série de motivos. É verdade que já os tenho, que poderia expor tudo neste texto, mostrar o que acho de todo esse quadro, mas não escondo: vou fazer o que chamaria de marketing do adiamento para dar as explicações que, por não termos um cientista político sequer que conheça esta Província como este jornalista, eu mesmo vou que destrinchar.


 


Tudo isso é uma pena. Gostaria de compartilhar informações com terceiros qualificados que não tenham viés ideológico exacerbado a ponto de negar o inegável e de sustentar o insustentável.


 


Tão inexpressivas quanto as manifestações de ontem na Província do Grande ABC contra o governo Dilma Rousseff e tantas outras coisas agregadas ao petismo fora as coberturas da imprensa diária impressa e digital da região. Pobres dos leitores que procuraram nas páginas locais, nas duas plataformas tecnológicas, obter relatos que transmitissem o ambiente regional em forma de insumos jornalísticos.


 


Aridez informativa


 


No momento em que dedilho estas linhas em meu escritório domiciliar, por volta das 10 horas, -- à tarde dou expediente no escritório corporativo -- não vejo absolutamente nada nos sites dos jornais da região, os quais consulto diariamente. ABCD Maior, Repórter Diário e Diário Regional não oferecem uma opção sequer à leitura. Estou preso exclusivamente ao Diário do Grande ABC impresso, cujo exemplar recebo como assinante todos os dias em casa.


 


O Diário do Grande ABC fez uma cobertura decepcionante. A manchetíssima do dia, obrigatoriamente as manifestações na região, perdeu espaço para o aumento do custo da energia elétrica neste tano. Inacreditável que se prefira uma informação banalizada por muitos veículos de comunicação ao apanhado noticioso e também crítico da importância histórica das manifestações na região. Importância histórica sobretudo porque as mobilizações se situaram em termos de densidade ocupacional das ruas entre fracasso e o desencanto. Aliás, como nas três manifestações anteriores -- desde junho de 2013.


 


Fiquei tão enraivecido com o desleixo generalizado da mídia regional às manifestações de ontem (enraivecido é um verbete que ameniza o que pretendia de fato escrever como sentimento de decepção) que me meti a preparar mentalmente o texto para a edição desta terça-feira. Foi durante minha caminhada matinal para satisfazer o desejo das duas cachorrinhas da família, Lolita e Luly, que tratei de organizar as ideias. Aliás, essas cãominhadas diárias moldam o encontro do bom senso com o juízo de minha cachola para, quando me lanço ao computador, tratar de exercer minha função social.


 


Dez motivos já relacionados


 


Talvez até o final da tarde de hoje a relação de motivos que alinhavei para tentar explicar por que a Província do Grande ABC é um fracasso em manifestações tenha mais que os 10 pontos já anotados. Pode ser que cresça o manancial de explicações, mas vou fazer esforço para que não seja mais elástico do que já é. Certo mesmo é que cada vez mais me convenço de que estamos vivendo, aqui na Província, a maior crise de cidadania de todos os tempos. Estamos ferrados e mal pagos.


 


Pior que a mídia regional que praticamente ignorou a fragilidade das ruas ontem é o comportamento da mídia nacional que, equivocadamente, ao longo dos tempos, tratou esta Província como suprassumo de combatividade política quando, na verdade, tudo não passou de enorme barrigada jornalístico-sociológica, porque confundiram interesses específicos dos trabalhadores metalúrgicos, que defenderam pautas de reivindicações, com responsabilidade social da comunidade.


 


A mídia nacional mais apetrechada ainda não teve a curiosidade de saber por que somos uma Província. Tanto que ainda confunde corporativismo instrumentalizado pelo sindicalismo seletivo com aguerrimento generalizado da sociedade, a ponto de nos colocar no pedestal de civilidades. Não passamos de um conjunto disforme e sem alma coletiva. 


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