Sociedade

Bigucci desafia MP, enrola Justiça
e inacreditavelmente segue livre

DANIEL LIMA - 19/08/2015

Está na manchete de página interna de Economia do Diário do Grande ABC de hoje (embora também pudesse estar na condição de manchetíssima, ou seja, manchete das manchetes de primeira página) mais uma notícia que poderia ser reservada à página policial da publicação: “MBigucci é condenada por cobrança indevida”. O enunciado da manchete do jornal, para ser brando, deveria seguir o conceito da manchetíssima desta edição de CapitalSocial.


 


Milton Bigucci, presidente do Clube dos Especuladores Imobiliários (Acigabc) é um contraventor social renitente. Deveria, fosse o mercado imobiliário objeto de ação semelhante à Lava Jato, estar trancafiado em algum presídio. Mas o que Milton Bigucci quer mesmo é aprisionar fisicamente este jornalista. Mesmo que tenha de recorrer sistematicamente aos cofres milionários, mas miseráveis, contando com suporte de instâncias judiciais que desconhecem as lambanças de que é capaz.


 


A reportagem do Diário do Grande ABC está bem encaixada, com informações preciosas. Não nego porque hipócrita não sou: quando recebi o jornal de manhã em minha residência e li a manchete de página interna, lamentei apenas que não tivesse sido devidamente valorizada também na primeira página, na qual ganha com facilidade em termos de importância da manchetíssima escolhida pelo jornal (referente à obviedade do governador Geraldo Alckmin condenar a gestão de Dilma Rousseff).


 


Notícia que satisfaz


 


Vibrei com a notícia, é claro. O Diário do Grande ABC tem sido a única publicação desta região, além desta revista digital, a observar com atenção a atuação do empresário Milton Bigucci, sobretudo porque também é dirigente de classe. Quando se é dirigente de classe, passa-se a ter função ainda mais pública que a de empresário e, como tal, é preciso que os holofotes dos quais Milton Bigucci se locupleta tenham o efeito reverso, de iluminar transgressões. 


 


As demais publicações da região fingem que o quadrilheiro juramentado, que goza no mínimo do privilégio de ser dispensado de desconfiança de algumas instâncias do MP, é um extraordinário empreendedor e um dirigente do setor imobiliário a ser reverenciado.


 


Não vou reproduzir os principais parágrafos da reportagem do Diário do Grande ABC, como o fiz outras vezes, porque, ao final deste texto, recomendo a leitura integral do material. Há um ponto, entretanto, que vale a pena ser devidamente destacado porque, se bem investigado, pode proporcionar ao Ministério Público vereda quem sabe elucidativa de outras contravenções. Acompanhem o trecho da matéria do Diário do Grande ABC:


 


 (...) “Outro detalhe é que a construtora cria uma série de empresas aparentemente distintas para transparecer ao consumidor que está lidando com agentes diferentes, quando, na verdade, é o mesmo grupo”, comenta o advogado David Daniel Schmidt, que representa o autor da ação. De fato, o processo cita como rés a Formignano Incorporadora Ltda, Splendido Imóveis Ltda e Estratégia Intermediação de Negócios Ltda. No cadastro delas na Junta Comercial do Estado de São Paulo, todas têm como sócios o próprio Milton Bigucci – proprietário da MBigucci – ou parentes dele – escreveu o Diário do Grande ABC.”


 


Resposta não convence


 


Desta vez a MBigucci se preparou (preparou é força de expressão) para se manifestar à reportagem do Diário do Grande ABC. Acompanhem as declarações:


 


 A MBigucci afirma que irá recorrer ao Tribunal de Justiça e que a sentença está em desacordo com uniformização de interpretação de lei emitida em 2014 e que descartou abuso na exigência da comissão de corretagem. “Existem diversas decisões no sentido da legalidade desta cobrança, inclusive em instância superior. Vale ressaltar que, no dia em que foi publicada esta sentença, foram divulgadas diversas outras sobre o mesmo assunto condenando outras empresas, inclusive do (Grande) ABC, demonstrando que isso é uma questão comum entre construtoras e consumidores e que está sendo debatida no Judiciário” – defendeu-se a MBigucci.


 


Nota autocondenatória


 


A nota da empresa com sede em São Bernardo e, repito, dirigida pelo presidente do Clube dos Especuladores Imobiliários do Grande ABC -- notório contraventor social envolvido em série de maracutaias, inclusive com a Máfia do ISS da Capital -- é praticamente uma peça condenatória à própria gestão empresarial de Milton Bigucci. Sem contar que tem ares de dedodurismo, na tentativa de livrar a própria barra mas que, no fundo, ao coletivizar as práticas delituosas, procura respaldar a ilegalidade do conjunto como salvaguarda de pretensa regularidade. Traduzindo: a MBigucci disse que não pratica a safadeza isoladamente e que exatamente por ser uma suruba de esperteza a prática merece ser reconhecida como ação comum e, portanto, não sujeita a penalidades.


 


Convém aos leitores terem conhecimento refrescado de que a MBigucci já foi condenada em várias situações, pelo Judiciário, pela prática do que chamaria liberalmente de estelionato operacional no processo de venda de imóveis. Um estelionato que vale a pena ser cometido neste País porque as probabilidades de os clientes encaminharem ações na Justiça serão sempre menores do que a capacidade fluvial de venda de unidades residenciais e comerciais.


 


A MBigucci pratica uma ação delituosa, segundo denúncias do MP do Consumidor de São Bernardo e também de instâncias judiciais, porque vale a pena brincar de gato e rato com a clientela. Nesse caso, a brincadeira é de rato contra gatos desdentados, porque desconhecedores de direitos inalienáveis.


 


Banca sempre ganha


 


Comprovadamente, uma pequena parcela dos clientes do conglomerado MBigucci vai à Justiça para denunciar a falcatrua de que foi vítima. Ora, se isso ocorre permanentemente, os poucos casos que ganham as esferas judiciais e que sistematicamente oferecem ganho de causa aos reclamantes, não significam quase nada de contrariedade financeira à MBigucci.


 


Temos, no caso, uma ação típica de loteria enviesada, da qual se locupleta o dono da banca, a MBigucci, é claro. Até porque, mesmo nas ações em que o Judiciário reconhece abusos contra a clientela, o que é uma constante, a MBigucci também ganha. Simples assim: os valores retidos irregularmente quando da compra de imóveis e que sobem aos tribunais são devolvidos devidamente corrigidos, mas nada que se compare às taxas remuneratórias dos recursos financeiros da MBigucci no mercado financeiro. Ou seja: são delitos compensadores, largamente compensadores.


 


Agora, caros leitores, me respondam com sinceridade e sem o viés estúpido de que estou a exagerar ao defender a criminalização de Milton Bigucci e eventualmente de uma possível quadrilha da MBigucci organizada especificamente para ludibriar o distinto público comprador de imóvel: não está na hora de esse delinquente social que se passa por filantropo -- e que, também, caça jornalista independente -- ser conduzido a algo que tenha parentesco com uma cela de presídio?


 


Leiam também no Diário do Grande ABC de hoje:


 



MBigucci é condenada por cobrança indevida


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