Sociedade

Presidente da OAB inova: corrida
de rua para combater corrupção

DANIEL LIMA - 25/09/2015

A uma revista de Santo André ele diz que vai combater a corrupção, mesmo tendo passado anos e anos à frente da OAB de Santo André e nada ter feito nesse sentido. Ao Diário do Grande ABC de hoje ele anuncia uma corrida de cinco mil metros neste domingo, lamentando não ter fôlego para suar a camisa. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, candidato a alguma coisa nas eleições do ano que vem em Santo André, é um revolucionário. A força-tarefa da Operação Lava Jato deveria conhecer os métodos do dirigente. Provavelmente Fábio Picarelli tenha descoberta uma fórmula especial para detectar corruptos em corridas de rua. Quem sabe o simples cheiro pesado do suor ou especificidades sobre as passadas dos corredores sejam provas de crimes? 


 


Ao contrário do que alguns idiotas juramentados imaginam, nada tenho contra Fábio Picarelli. Sou escravo do contexto em que vivemos. Alguém que se propõe a combater a corrupção tendo se silenciado ao longo das jornadas ante as forças de controle da economia e da política de Santo André não tem autoridade moral e ética para dizer numa entrevista que pretende combater essa deformidade social.


 


Por isso mesmo a corrida de rua promovida pela OAB de Santo André provavelmente seja o resumo mais apropriado da gestão de Fábio Picarelli -- muita espuma de omissão e muita onda de enfrentamentos.


 


Zombaria tem limites


 


Escrevo estas linhas com sentimento de defesa profissional e também em nome de integrantes da sociedade de Santo André que à falta de um instrumento de manifestação pública estariam aqui representados. Quem conta com alguma característica de inteligência animal sabe que o presidente da OAB de Santo André zomba da capacidade cognitiva da população mais letrada. Exceto, claro, se conta com alguma fórmula quem sabe química para detectar bandidos entre corredores de rua.


 


Querem ver como posso tentar ajudar a resolver o problema de coerência de Fábio Picarelli, de forma que sua eventual candidatura a qualquer coisa na Prefeitura de Santo André seja levada a sério no sentido de que teríamos potencial reformista a mudar os rumos de uma cidade à deriva não de hoje, mas de há muito tempo?


 


Que tal Fábio Picarelli programar um mês inteiro de debates na sede da OAB de Santo André para discutir os grandes problemas éticos, morais e financeiros de Santo André? A primeira programação poderia reunir o promotor criminal Roberto Wider Filho, o ex-prefeito Aidan Ravin, o advogado Calixto Antônio Júnior e um dos integrantes da Máfia do ISS da Capital que atuou durante a gestão de Aidan Rabin. Também poderia ser chamado o ex-presidente do Semasa, Ângelo Pavim. Todos à mesa de debates para tentar entender as razões que levaram o Ministério Publico a denunciar apenas os servidores públicos da Máfia do Semasa. Os empresários corruptores foram excluídos da lista.


 


Estava esquecendo que Fábio Picarelli deveria convidar também o empresário Milton Bigucci, seu amigo e presidente do Clube dos Especuladores Imobiliários, para falar em nome da classe. O mesmo Milton Bigucci relacionado pelo denunciante Calixto Antônio Júnior como um dos empresários que participaram das lambanças no Semasa.


 


Disse que um mês inteiro de programação seria ótima oportunidade para Fábio Picarelli demonstrar que corrupção não é apenas abstração no vocabulário de candidato a alguma coisa em Santo André. Talvez seja muito tempo, embora não falte matéria-prima de impunidades e irregularidades em Santo André. A Máfia do Semasa seria suficiente para que a OAB resgatasse para valer, sem lantejoulas de marketing, a honradez e a tradição.


 


Mais severidade


 


A oratória em defesa da moralidade está numa entrevista à revista “Dia Melhor”. Ali estão indicativos de que o dirigente já tem um mote para tentar arrebanhar clientela eleitoral. O título da entrevista é a síntese do projeto eleitoral do titular da OAB: “Picarelli defende punição mais severa para crimes de corrupção”. A revista Dia Melhor, de responsabilidade do jornalista Carlos Balladas, é distribuída seletivamente em pontos comerciais e de serviços de classe média de Santo André. Trata-se do público-alvo que interessa a Fábio Picarelli.


 


Só vou começar a acreditar e divulgar que Fábio Picarelli pode sair por aí para enfrentar a corrupção se além do debate sobre a Máfia do Semasa ele provar e comprovar que, juntamente com dezenas de comissões temáticas da OAB, fez alguma coisa realmente substantiva para protestar e, mais que isso, com a força institucional da entidade, foi adiante na tentativa de melhorar pelo menos o quadro municipal.


 


Gostaria imensamente de escrever sobre um dirigente da Ordem dos Advogados do Brasil que fosse um terço do que Fábio Picarelli se apresenta ao público. Ele sabe muito bem que a maioria das comissões temáticas que introduziu no organograma da entidade de Santo André não passa de incubadoras de ilusões. Um balanço isento ou colocado à avaliação criteriosa de junta independente comprovaria que Fábio Picarelli produz muita marola.


 


Vou dar um exemplo claro e cristalino sobre o grau de tentativa de encabrestamento dos incautos: há tantas comissões temáticas voltadas a questões urbanísticas em Santo André, mas nenhuma produziu resultado minimamente satisfatório.


 


Discurso eleitoreiro


 


Fábio Picarelli fugiu do Semasa como o Diabo da cruz. E de forma oportunista, agora que está de olhos fixos no Paço Municipal, faz uma denúncia providencial, legitima mas nem por isso isenta contra os recursos financeiros que a Prefeitura de Santo André aplicou em ciclofaixas. Quem acredita que Picarelli foi tocado por ímpetos de independência do Poder Público com o qual negociou a nomeação do ouvidor corre o risco de dar com os burros nágua. O que Picarelli pretende mesmo é sinalizar que não seguirá bonzinho, cordato, servil, como durante todos os anos à frente da OAB entre outros motivos porque plantou o tempo todo estratégia que lhe garantiria frondosos lucros de imagem às vésperas das eleições municipais.


 


Quem acredita que Fábio Picarelli é uma saída importante desse labirinto em que se tornou a política nacional, apontando em direção a novos tempos, quem acredita nisso precisa tomar muito cuidado. Sobretudo se Picarelli insistir no discurso de pregador ético e moral.


 


A Operação Lava Jato e seus resultados proporcionarão ao mundo político um efeito cascata de demagogia. Fábio Picarelli é um dos primeiros contendores a surfar na onda de renovação da política e dos métodos políticos quando, na verdade, durante todos os anos à frente da OAB, esteve muito próximo, para não dizer junto, das forças políticas que agora pretende combater. Quem for aos arquivos vai constatar que não faltaram arroubos moralizantes do dirigente da OAB, todos invariavelmente limitados a manchetes de jornais.


 


O dirigente da OAB tem todo o direito de candidatar-se ao que bem entender, tem inclusive o direito de dizer o que bem entender, inclusive que defende punição mais severa aos crimes de corrupção, mas precisa compreender que não é todo mundo que vai ceder a essa bravata. Em termos de ações práticas contra os corruptos de Santo André, para ser mais específico, Fábio Picarelli viu o tempo passar pela janela e ainda não se deu conta de que não é possível transformar os rescaldos da Lava Jato em matéria-prima de retórica requenguela. Não será com uma corridinha de rua que Fábio Picarelli sensibilizará uma sociedade que está cansada de tantas perdas ao longo de duas décadas, três décadas, de desindustrialização. 


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