Sociedade

Não voltaremos a contabilizar 93
homicídios por mês como em 1998

DANIEL LIMA - 28/09/2015

É muito provável que ao final do mandato de possíveis oito anos o governo de Dilma Rousseff cause mais danos econômicos à Província do Grande ABC do que os oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso. São situações macroeconômicas e microeconômicas distintas, sobre as quais escrevo qualquer dia destes. O que interessa agora é uma projeção sobre o que nos expõe a crise quanto aos desdobramentos na área social, sobretudo de criminalidade. Mais especificamente de assassinatos, de homicídios dolosos.


 


Tenham certeza os leitores de uma coisa: não voltaremos aos dados do final dos anos 1990. Especialmente ao ano de 1998, quando a região contabilizou 1.119 casos fatais, recorde histórico de 93,25 assassinatos a cada 30 dias. Bem mais que os 75 homicídios de 1996, quando foram registrados 904 casos, e também bem superior aos 788 assassinatos de 1995, ou 65 casos por mês. E um pouco acima dos 92,9 de 1998.


 


A contabilidade macabra daqueles quatro anos está em entrevista que fiz em 1999 com o comando da Polícia Militar e da Polícia Civil da região. A matéria foi publicada na revista LivreMercado e que consta do acervo desta revista digital. Basta acessar o link abaixo. Costumo dizer que os arquivos desta publicação digital deveriam ser consulta obrigatória a todos que pretendem conhecer melhor a região. Os assuntos mais candentes desta praça em estresse econômico e em decomposição institucional foram abordados criteriosamente por LivreMercado e continuam a ser por CapitalSocial. Ainda sobre os acervos de CapitalSocial, o leitor vai encontrar outra entrevista histórica de LivreMercado: a jornalista Malu Marcoccia ouviu, há 15 anos, um dos mais brilhantes estudiosos do problema no País, José Vicente da Silva. 


 


Passado enterrado


 


O mapa da criminalidade na Província do Grande ABC era e continua a ser um dos balizadores da linha editorial adotada por este jornalista. Há tantas variáveis que me sinto sequestrado pelos fatos. Uma realidade preferível à falsa liberdade da mentira programada para agradar a audiência e comprometer ainda mais o futuro.


 


Não tenho dúvidas de que não voltaremos ao passado criminal, por mais que o presente econômico e institucional seja uma lástima, uma crônica anunciada, com duração ainda indefinida. É impossível acreditar que o governo do Estado, tão negligente naquele período de profundas e complexas mudanças econômicas na região, volte a cometer o crime de virar as costas à população.


 


O governador Geraldo Alckmin deu guinada extraordinária na política de gestão da Secretaria de Segurança Pública logo após o assassinato do prefeito Celso Daniel. Poucos escrevem sobre isso. Para dizer a verdade, apenas este jornalista detectou a inflexão de uma nova política criminal em São Paulo por causa da morte (e principalmente da repercussão) do caso Celso Daniel.


 


Trocou-se no dia seguinte ao sepultamento do corpo de Celso Daniel o titular da Secretaria da Segurança Pública, Marcos Vinícius Petrelluzzi, dedicadíssimo a alardear os efeitos da política de Direitos Humanos, por um secretário linha dura, no caso Saulo Abreu. Daí em diante, com investimentos pesados e também com a contribuição de gestores municipais, que passaram a investir em segurança, a realidade de São Paulo como um todo foi tremendamente alterada. É claro que o Estatuto do Desarmamento auxilio nas mudanças. Sem contar a recuperação do emprego e da renda durante os anos dourados de gastança com data de validade do presidente Lula da Silva.


 


O indicador mais preciso, adotado pela ONU (Organização das Nações Unidas), para medir o tamanho da encrenca criminal de qualquer endereço é a divisão dos casos de assassinatos por 100 mil habitantes, ou o equivalente. Em 1999, quando fizemos a Entrevista Especial que está longo abaixo, a Província do Grande ABC contabilizou 51,48 casos para cada grupo de 100 mil moradores. No ano passado foram contados 9,63 mortos para cada 100 mil.


 


Não vamos voltar ao passado, repito, mas não posso deixar de fazer a seguinte advertência: por mais que o guarda-chuva de explicações à redução casos de assassinatos na região seja aparentemente sustentável, é melhor não se acomodar. O bicho do desemprego ou do subemprego para boa parte da população da região que acreditou na lorota de que virara classe média, pode pegar. Cuidados redobrados só fazem mal à bandidagem.


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