É pouco provável que o Grande ABC recuperará nos oito anos do governo Lula da Silva os empregos com carteira assinada do setor industrial destruídos durante os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso. Depois de passados 57 meses, até setembro, desde que Lula da Silva chegou ao Palácio do Planalto, o Grande ABC preencheu 42.078 postos de trabalho industriais eliminados com a abertura econômica e com a guerra fiscal. Mas esse volume, equivalente a quatro fábricas da Volkswagen de São Bernardo, é pouco mais da metade dos 96 meses de perdas com Fernando Henrique Cardoso -- 82.231 trabalhadores formam o saldo negativo de dispensados naquele período.
Somente um fortíssimo impulso da economia nacional e novos saltos da indústria automobilística que este ano baterá recorde histórico de produção amenizariam em termos estatísticos a mais impiedosa quebra de dinamismo econômico e social já registrada no Grande ABC. Foi exatamente nesse período, entre janeiro de 1995 e dezembro de 2002, que, comandado pelo sociólogo, o Brasil abriu as comportas alfandegárias sem se dar conta dos desarranjos que provocaria num setor de estrutura desatualizada para a competição em campo aberto e sem reciprocidades. Nada menos que o equivalente a uma fábrica de 856 trabalhadores foi fechada por mês com FHC. Com Lula, foram reabertas até agora por mês uma fábrica com 738 postos de trabalho.
Atividade essencial
A atividade industrial é nuclear ao desenvolvimento econômico e social do Grande ABC desde meados dos anos 1950. Aquele período marca a chegada da indústria automotiva, coração, pernas e cérebro da mobilidade social que levou o operariado ao paraíso da então ascendente classe média. Até hoje, mesmo com a perda relativa do emprego industrial na composição de trabalhadores, o Grande ABC segue dependendo da estabilidade de desempenho de fábricas do eixo automotivo formado por autopeças e montadoras. Até mesmo a transformação de plástico, à sombra do Pólo Petroquímico do Grande ABC, sofre forte influência de humores e horrores da atividade automotiva, para a qual dirige larga faixa de produção.
Paralisia total
A atividade industrial do Grande ABC perdeu muito da vitalidade histórica com a ausência de políticas públicas estaduais e federais nos anos 1990, além da baixa institucionalidade da comunidade política, econômica e social, incapaz de reagir à avalanche da globalização. Praticamente nada se fez contra a guerra fiscal tanto interna, no próprio Estado de São Paulo, quanto externa, envolvendo outros territórios nacionais. Até hoje o setor petroquímico reclama por tratamento isonômico, olimpicamente ignorado pelo governo paulista. Não é por outra razão que o Estado de São Paulo, apesar de parte de produção ter-se deslocado para o Interior, perde participação absoluta e relativa no PIB nacional.
Além do Grande ABC, também a Região Metropolitana de São Paulo, conglomerado de 39 municípios e 19 milhões de habitantes, dificilmente conseguirá escapar de déficit de emprego industrial quando se confrontarem os 96 meses de mandato de Lula e de FHC. Em 57 meses de Lula foram criados 185.655 empregos de saldo no setor que mais gera riqueza no PIB (Produto Interno Bruto). Já nos dois mandatos de FHC a perda totalizou 388.713 postos de trabalho. Ou seja: com FHC foram perdidos por mês 4.049 trabalhadores nas fábricas, enquanto Lula da Silva tem recuperado mensalmente 3.257. Nessa toada, serão 312 mil novos trabalhadores com direitos trabalhistas conquistados o saldo do governo Lula na Grande São Paulo.
Diferentemente do Grande ABC e da Grande São Paulo, onde a perspectiva de recuperação plena de empregos industriais não aparece no radar dos próximo 39 meses de mandato de Lula da Silva, os números do Estado de São Paulo colocam o governo federal em situação favorável. Os 57 meses de Lula da Silva criaram 573.320 empregos com carteira assinada nas indústrias, contra 381.295 despedaçados com FHC. Ou seja: o Interior Paulista experimenta há pelo menos 153 meses, ou 12 anos e nove meses, intenso avanço do setor industrial e que de alguma forma compensa parte das perdas da Região Metropolitana de São Paulo no âmbito estadual.
Nada surpreendente, levando-se em conta a exaustão da metrópole paulistana. A chamada deseconomia de escala reforça distância entre produtividade e qualidade de vida que os municípios paulistas num raio de 100 quilômetros da Capital conjugam como atratividade de investimentos. O deslocamento de mão-de-obra qualificada preenche e dissemina cultura produtiva em direção ao Interior.
Sem contar que cada vez mais as administrações públicas daqueles municípios constroem redes de aproximação com investidores e cadeia de relacionamentos com instituições voltadas para o aparelhamento técnico-operacional de trabalhadores. Além disso, mais e mais empresas do Interior investem em tecnologia e processos, o que reduz a influência do peso da cultura de mão-de-obra manufatureira que ainda caracteriza a Grande São Paulo de plantas industriais mais antigas.
O ritmo de contratações com carteira assinada no setor industrial do Grande ABC no segundo mandato de Lula da Silva é mais intenso que nos quatro anos iniciais. Nos nove meses contabilizados neste ano foram gerados 9.477 empregos, média mensal de 997,4 trabalhadores adicionais na atividade, contra 679 do primeiro mandato. Se o governo Lula da Silva tivesse conseguido o mesmo desempenho nos primeiros quatro anos e caso mantenha a média no restante do mandato, taparia o buraco deixado por Fernando Henrique: seriam 95.750 novos empregos industriais contra 82.231 eliminados no balanço de contratações e demissões. A política monetária excessivamente restritiva do Banco Central, principalmente em 2003, com taxas de juros elevadas, amarrou a recuperação da economia.
Concentração
Do saldo desta temporada de 9.477 postos de trabalho industriais, 6.310 estão nas fábricas de São Bernardo e de Diadema. Isso significa que de cada 10 empregos do setor na região, 6,6 se concentram nos dois municípios vizinhos que têm o setor automotivo como principal força econômica. Nada surpreendente, porque quase 60% do PIB (Produto Interno Bruto) do Grande ABC estão em São Bernardo e em Diadema.
Apenas Rio Grande na Serra, no Grande ABC, apresenta déficit de contratações: foram tirados das fábricas locais 33 trabalhadores nos nove meses do segundo mandato de Lula da Silva. Mauá registrou saldo de apenas 429, contra 586 de Ribeirão Pires, 1.979 de Santo André e 206 de São Caetano.
No Brasil, os nove meses deste segundo mandato de Lula da Silva representam a implementação de 480.018 empregos industriais, média de 53,3 mil por mês. Muito mais quando os dados são comparados com os de Fernando Henrique Cardoso, que, em 96 meses, registrou apenas 43.057 empregos industriais de saldo no País. Ou seja: o governo Lula da Silva gerou em média a cada mês mais empregos no setor do que FHC no acumulado de oito anos.
A Região Metropolitana de São Paulo também vai relativamente bem em emprego industrial com carteira assinada nos nove meses deste ano, com saldo de 46.052, ou 5,1 mil postos de trabalho em média por mês. Muito melhor que a perda média mensal do período FHC de 4,04 mil empregos a cada 30 dias. O Estado de São Paulo não fica atrás: foram 203.710 os trabalhadores que ganharam carteira assinada, média de 22,6 mil por mês. No governo FHC o Estado de São Paulo perdeu 3.971 empregos industriais em média por mês, quase tudo na Região Metropolitana de São Paulo.
* Matéria publicada na edição de novembro da revista LivreMercado.
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