O momento não poderia ser mais oportuno. A recém-criada Central de Trabalho e Renda de Santo André, iniciativa da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Ministério do Trabalho e Prefeitura, abriu as portas na hora certa para acolher na prática os números cada vez mais assustadores do desemprego no Grande ABC. Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados Estatísticos) e Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) divulgaram índice de desocupação de 22,7% em julho, ou seja, 270 mil pessoas sem trabalho na região.
Orçado em R$ 4,8 milhões, o projeto tripartite prevê a criação de política de emprego por meio de ações integradas como a habilitação para seguro-desemprego, encaminhamento para cursos já existentes de requalificação profissional e intermediação de mão-de-obra. Além disso, inclui programas de geração de emprego e renda com serviços de orientação que endereçam o trabalhador a outros projetos locais, como a incubadora de cooperativas e o serviço de crédito do Banco do Povo.
Na esteira do Centro de Solidariedade do Trabalhador, da Força Sindical, a Central de Trabalho e Renda da CUT traz como diferencial serviço-piloto de orientação de trabalho, que se resume em criar alternativas para pessoas que possuam menos condições de recolocação devido à idade ou falta de experiência. "O projeto conta com lista de 35 mil empresas para serem convidadas a participar do banco de vagas" -- adiantou o representante da Prefeitura no Conselho de Gestão, Aleto José de Sousa.
Ministro aposta
Do montante investido, R$ 3,9 milhões são provenientes do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) liberados pelo governo federal e R$ 900 mil de contrapartida entre a CUT e a Prefeitura. O projeto conta ainda com R$ 850 mil disponibilizados pela Secretaria Estadual de Emprego e Relações do Trabalho especificamente para o programa de requalificação profissional. Esse convênio garante 6,4 mil vagas. É neste ponto que o ministro do Trabalho, Francisco Dornelles, aposta para combater a crise enfrentada pelo trabalhador brasileiro. Dornelles participou da cerimônia de inauguração da central com demonstração de ânimo. Fez questão de divulgar a criação de 330 mil postos de trabalho nos últimos dois meses no País, quase cinco vezes mais que o registrado nos quatro primeiros meses do ano.
Apesar de os números se mostrarem ínfimos diante da realidade nacional, a postura do governo federal mostra-se positiva, já que não é de hoje que lideranças e governo de São Paulo reclamam dos repasses do FAT para o Estado mais industrializado do País.
A abertura de novas vagas é vista como sinal de recuperação da economia. Só no mês passado a indústria paulista criou 28 mil ocupações e o comércio, apesar da falência de grandes grupos como Mappin, Mesbla e Lojas Brasileiras, criou outras 50 mil. Mas a preocupação se volta ao setor de serviços, importante para mensurar o poder de consumo da população, que fechou 88 mil postos de trabalho em 31 dias.
A expectativa da Central de Trabalho e Renda é atender cerca de 14 mil trabalhadores por mês, dos quais 7,8 mil devem ser encaminhados e pelo menos 2,5 mil recolocados no mercado. Caso o índice de desemprego fosse congelado, a central precisaria de pelo menos nove anos para solucionar o problema da região.
Problema maior
Apesar de sugerir aritmética tacanha, o cálculo abraça a teoria do governador Mário Covas. Ele diz que apenas a central não poderá resolver a realidade do Grande ABC, mas admite que a iniciativa minimiza o problema. Sistemático crítico da política econômica do governo federal, o prefeito Celso Daniel acredita no projeto como meio de implementar o desenvolvimento do Grande ABC.
Antes da inauguração da central, o programa foi apresentado para cerca de 60 representantes de empresas da região, entre as quais Basf, Kolynos, Mercedes-Benz, Casas Bahia e Unimed. A Central de Trabalho e Renda atende à Rua Arthur de Queirós, 720, Bairro Casa Branca, em Santo André, das 7h às 18h. Também vai operar emissão de carteira profissional, telemarketing para captação de vagas, palestras e seminários gratuitos, acesso a telemprego por linha 0800 e cadastramento na Internet.
Coopsul em São Caetano
São Caetano dá sua contribuição para amenizar a acentuada crise do desemprego. Mais 26 empreendedores ganharam uma bússola para os negócios por meio da Coopsul, cooperativa de trabalho que oferece mão-de-obra em ramos diversos, de costureiras e médicos a administradores de empresas e professores. É a segunda cooperativa do gênero incentivada pela Prefeitura com suporte do Sebrae (Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa) e do Instituto de Cooperativismo e Associativismo, uma divisão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado. Em 1997 o Poder Público ajudou a estruturar a Coarte (Cooperativa de Trabalhos Alternativos), hoje com 260 cooperados.
A idéia de fundo da Coopsul é a mesma: agregar sob uma mesma gestão grupo de prestadores de serviços que possam trabalhar como autônomos, ou seja, estejam inscritos na Prefeitura e no INSS. A cooperativa não exige exclusividade do cooperado, que pode trabalhar em outras esferas desde que não concorra nos mesmos contratos disputados pela Coopsul, explica Hélio Cava Sanches. Ele assessorou o empreendimento como funcionário do Instituto de Cooperativismo e também como integrante do grupo, que tem como presidente Neusa Mello.
A adesão à Coopsul custa R$ 10. Das receitas obtidas pelos profissionais que a compõem cerca de 30% vão para o fundo de administração. A nova cooperativa, como a Coarte, vai funcionar inicialmente dentro da Diretoria de Desenvolvimento Econômico do Município, que além do apoio físico com infra-estrutura de sala, computador e telefone ajudará a detectar oportunidades de negócios, informa o diretor Jerson Ourives.
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