Economia

Meio ambiente
é o adversário

ANDRE MARCEL DE LIMA - 08/12/2006

A Avenida dos Estados está descartada como endereço para o condomínio de indústrias plásticas que empreendedores do Grande ABC articulam com a Prefeitura de Santo André. Em vez da via expressa que compõe o chamado Eixo Tamanduatehy, é possível que o empreendimento seja levado ao Distrito de Campo Grande, em terreno que faz divisa com Cubatão e próximo da Solvay Indupa. Apesar do entusiasmo dos administradores públicos com o projeto, a transformação do Distrito de Campo Grande em celeiro de empresas dependerá de variáveis que extrapolam a alçada municipal, entre as quais o ponto sensível do licenciamento ambiental.

Quem explica a mudança de rumo nos planos da Prefeitura e das empresas plásticas é David Gomes de Souza, diretor da pasta de Desenvolvimento e Ação Regional. Ele conta que a negociação para aquisição de terreno na Avenida dos Estados não vingou por falta de consenso sobre o valor. Diante do impasse, o Distrito de Campo Grande emergiu naturalmente como alternativa. Espaço físico à distância da especulação imobiliária é o que não falta naquela área no caminho da Vila de Paranapiacaba. 

A possibilidade de conferir destinação econômica a uma parte da imensa área de preservação ambiental foi aberta pelo Plano Diretor de Santo André, sancionado em dezembro de 2004. Guiados pela constatação de que novas tecnologias proporcionam convivência sadia entre atividades industriais e respeito ao meio ambiente, administradores e legisladores reservaram um milhão de metros quadrados para o chamado Pólo de Desenvolvimento Econômico Compatível. É justamente para esse espaço limitado pela ferrovia, num extremo, e pela fronteira de Cubatão, no outro, que o grupo de cerca de 30 empresas está disposto a se transferir. 

Obstáculos demais 

Para que o sonho se transforme em realidade será preciso superar série de obstáculos. O primeiro é o dos trâmites legais. Como a área é pública, não pode ser vendida diretamente para o grupo de empresas. É preciso divulgar em edital para que outros possíveis interessados possam se candidatar à compra por meio de oferta pública. “Estamos preparando o edital e pretendemos realizar a oferta pública o mais rápido possível, de preferência até o final deste ano” — destaca David Gomes de Souza, ao explicar que o valor do metro quadrado está sendo avaliado por técnicos da Prefeitura.

Outra barreira são os recursos para construção. Será necessário convencer técnicos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) a liberar R$ 35 milhões projetados para as obras. A aquisição do terreno pelo grupo de empresas seria espécie de pré-requisito ao sinal verde do banco governamental, que poderia aceitar o imóvel como garantia.

“Os empreendedores terão condições de comprar o terreno com recursos próprios porque o custo será muito mais baixo que o da Avenida Industrial” — explica o diretor de Desenvolvimento e Ação Regional.

O outro desafio está relacionado ao licenciamento ambiental dependente da Cetesb. “O governo do Estado vai ter de ajudar em vez de atrapalhar. Questões políticas não poderão influenciar temática essencialmente econômica” — antecipa-se David de Souza. O pé atrás se justifica pelo fato de o governo estadual fazer ouvidos de mercador a uma reivindicação simplesmente essencial para a sustentabilidade do complexo petroquímico do Grande ABC: isonomia tributária na segunda geração. Enquanto fabricantes paulistas de resinas plásticas recolhem 18% de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), concorrentes de outros Estados contribuem com 12% ou menos.

No cenário mais otimista possível, em que obstáculos legais, financeiros e ambientais sejam ultrapassados a passos largos e sem grandes dificuldades, David de Souza acredita que o condomínio plástico no Campo Grande poderia ser concluído em 2008 — pronto para entrar em operação com a expansão da Petroquímica União, projetada para abril daquele ano.

Rodada de Negócios 

Rodada de Negócios de Plásticos, realizada em 10 de novembro do Clube Primeiro de Maio, em Santo André, superou expectativas. Representantes de 169 empresas — das quais 80 do Grande ABC — participaram do evento planejado para gerar novos negócios. Os empresários dispunham de um minuto para apresentar produtos e serviços a cada uma das 13 empresas-âncora, como foram batizadas grandes compradoras potenciais: Mazzaferro, Unipar, Nivaldir, Lip’s, Jacto, Romi, Alumbra, Plastolândia, Faurecia, CGE, Grupo Sol, Copalco e Antídoto. “Além de negócios, o evento representa oportunidade valiosa para networking” — comenta David de Souza, referindo-se ao termo inglês traduzido como expansão da rede de relacionamentos profissionais.

O evento patrocinado pela Apolo (Associação das Indústrias do Pólo Petroquímico do Grande ABC) se estendeu das nove da manhã até final da tarde, com direito a pausas para refeição e café. Da mesa de abertura participaram expoentes setoriais de dentro e fora da região, casos de Merheg Cachum, presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico) e Cesar Barlem, diretor da Petroquímica União.

A importância da Rodada de Negócios não se restringe à seara comercial. Especialmente para a administração pública, foi o caminho estratégico para espantar a monotonia e estabelecer contato com quantidade maior de empresários do setor. “Os empreendedores dificilmente deixam os afazeres do dia-a-dia para ouvir palestras conceituais ou acadêmicas, mas não enxergam problemas em se afastar temporariamente quando a questão é fechar contratos e vender mais” — explica David de Souza, em alusão ao contraste entre o baixo comparecimento no seminário setorial, realizado em setembro, e a presença de 80 empreendedores da região na Rodada de Negócios, entre estimadas 450 empresas do setor no Grande ABC. 

A tática de aproximação embutida na Rodada de Negócios fica mais clara quando se observa que a Administração Municipal transformou o evento em campo de pesquisa. Empreendedores foram convidados a preencher questionário que abrange da utilização de matérias-primas e moldes até mecanismos de financiamento, capacitação de mão-de-obra e identificação setorial de clientes. “Sabendo do que as empresas mais precisam fica mais fácil formatar programas de apoio” — considera David de Souza.

Arranjo Produtivo

O APL (Arranjo Produtivo Local) do segmento plástico é um dos mecanismos de suporte referidos por David de Souza. A primeira fase envolveu perto de 20 empresas e se estendeu por 18 meses até maio deste ano, com coordenação da Agência de Desenvolvimento Econômico e apoio técnico e financeiro do Sebrae. A segunda fase, cujo início é aguardado no primeiro trimestre do ano que vem, terá comitê gestor formado pela Suzano Petroquímica, Fiesp e Banco Mundial através do braço financeiro IFC, além da Agência e do Sebrae. “A ambição da iniciativa cresceu e o nível de conquista será maior” — garante Antonio Mattos, diretor industrial da Suzano Petroquímica e coordenador do comitê gestor que caracteriza a segunda etapa.

Por maior nível de conquista entenda-se expectativa de melhorias quantitativas e qualitativas. Antonio Mattos projeta de 40 a 100 participantes num trabalho que represente patamar superior de sinergia e associativismo. O conteúdo da segunda fase ainda está para ser definido, com base em levantamento de consultoria especializada já contratada. Certo mesmo é que se estenderá por três anos e consumirá de R$ 2 milhões a R$ 4 milhões. 

Não é difícil entender o envolvimento da Suzano, ex-Polibrasil. Fabricante de polipropileno, resina plástica com incontáveis aplicações, a companhia do Pólo de Capuava tem o maior interesse no fortalecimento e expansão da cadeia de terceira geração. “Não adianta sermos uma estrela solitária de alta performance. Seria uma vergonha ter que exportar grandes volumes de produção por falta de competitividade da cadeia local” explica Antonio Mattos. 

A Rodada de Negócios realizada em 10 de novembro também serviu para o lançamento da 13ª edição do boletim Observatório Econômico, editado pela Secretaria de Desenvolvimento e Ação Regional com suporte dos docentes de economia do Centro Universitário Fundação Santo André. A principal matéria reflete o seminário setorial realizado no Teatro Municipal — e que foi destrinchado na edição de outubro de LivreMercado. 

Das 450 transformadoras plásticas do Grande ABC, 192 estão em Diadema, 102 em São Bernardo, 64 em Santo André, 47 em São Caetano, 32 em Mauá, 11 em Ribeirão Pires e duas em Rio Grande da Serra. Dos 15.292 empregos, Diadema responde por quase sete mil, seguida por São Bernardo com 4,6 mil. A pulverização geográfica mostra que outros municípios deveriam se envolver muito mais na cruzada encarada por Santo André.



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