O setor de serviços vive dolorosa e inédita crise de emprego formal na Província do Grande ABC que, há duas décadas, iniciou conversão ao predomínio da atividade por conta da desindustrialização. No acumulado dos últimos 12 meses, entre março do ano passado e março deste ano, 13.815 postos de trabalho com carteira assinada foram destruídos no setor. Em março do ano passado, que incorporava o resultado acumulado de 12 meses iniciado em março de 2014, o contingente de demitidos líquidos estava praticamente à metade, com 7.565 trabalhadores desligados.
Tomar os dados do emprego do setor de serviços de forma isolada seria uma imprecisão. A economia da região está fortemente vinculada à indústria de transformação, que representa um terço dos trabalhadores empregados formalmente. O setor de serviços tem baixo valor agregado, mas é importantíssimo ao equilíbrio social. A atividade não está ligada em grande escala diretamente às atividades industriais. Esse é um vácuo de interação econômico que teve no então prefeito Celso Daniel, de Santo André, combatente praticamente isolado no setor público da região. Entretanto, mesmo sem fortes ligações comerciais diretas com o setor industrial, os prestadores de serviços dependem muito do poder de consumo dos trabalhadores nas indústrias.
Concorrência acirrada
Durante muitos anos o setor de serviços não dependia tanto do desempenho industrial porque revelava vácuos em várias atividades. Havia brechas a serem preenchidas por causa da predominância histórica da indústria de transformação no mercado de trabalho.
Entretanto, com a debandada industrial, muitos trabalhadores voltaram-se a atividades próprias de comércio e de serviços. Essa mudança rebaixou o nível de renda da população e interrompeu o processo de mobilidade social. O setor industrial é o que melhor remunera os colaboradores e, adicionalmente, nas grandes e médias empresas, oferece coquetel de benefícios trabalhistas.
Com a persistente queda industrial ao longo dos anos, mascarada inclusive nos últimos tempos pela fartura da indústria automotiva, a disputa por espaços de empreendedores no setor de serviços ficou mais acirrada e, por isso mesmo, em vários segmentos, tornou-se verdadeira carnificina.
Agora que o Brasil passa por ruinosa recessão e, particularmente a Província do Grande ABC, desaba no ritmo da indústria automotiva em crise, as demissões nas atividades de prestação de serviços não parecem dar sinais de arrefecimento. Muito pelo contrário.
Muito acima do Brasil
Tanto que os 12 meses encerrados em março do ano passado e os 12 meses encerrados em março deste ano mostram o tamanho do buraco de complicações. O aumento de 82% de demissões líquidas no setor de serviços entre um período e outro (de 7.565 na primeira fase e 13.815 no ciclo encerrado em março último) dá um tom mais dramático à instabilidade econômica da região.
O resultado é proporcionalmente muito maior que a perda de empregos com carteira assinada no setor industrial quando se comparam os mesmos períodos. A indústria de transformação da região demitiu na primeira etapa (entre março de 2014 e março de 2015) 17.974 trabalhadores. Já entre março do ano passado e março deste ano foram retirados do mercado de trabalho 25.115 trabalhadores industriais. O aumento relativo de 39,7% é bastante inferior aos 82,61 registrados no setor de serviços na mesma comparação temporal.
Quando se confrontam dados do setor de serviços da Província do Grande ABC com os números nacionais, verifica-se que a crise do emprego é maior nos sete municípios locais. Entre o acumulado de 12 meses contabilizados em março do ano passado e os 12 meses vencidos em março deste ano, as demissões no setor de serviços no Brasil sofreram aumento de 30%. Ou seja: quase um terço do registrado na região. Em março do ano passado acumularam-se no Brasil 339.064 demissões no setor, considerando-se o período de um ano. Já em março deste ano foram 440.802.
A melhor explicação para a diferença entre os dois períodos é que nos últimos 12 meses completados em março deste ano a Província do Grande ABC sofreu impacto mais forte por causa das demissões do setor industrial, cujo peso relativo de ocupações é três vezes maior que a média nacional.
Primeiro na região
A crise do emprego industrial chegou à Província do Grande ABC muito antes do que na média do Brasil. Tanto que em março do ano passado, sempre considerando os últimos 12 meses, registraram-se 256.724 trabalhadores demitidos do setor em todo o Brasil. Já em março deste ano, considerando-se os 12 meses a partir de março do ano passado, foram 700.449 baixas do emprego industrial formal. Um crescimento de 172%, contra 39,7% da Província, que passou de 17.974 para 25.115.
A participação das demissões líquidas nas fábricas da região em março do ano passado, sempre considerando os 12 meses completados, representava 7% do mercado brasileiro. Já neste março de 2016, também no acumulado de 12 meses, caiu para 3,6%. Proporcionalmente em relação ao contingente dos trabalhadores industriais a Província do Grande ABC continua a demitir acima da média nacional (são 28% a mais), mas outras geografias acusam fortes contrações nos últimos 12 meses encerrados em março deste ano.
A questão principal que emerge diante do avanço das demissões com carteira assinada no setor de serviços é até que ponto chegará o índice de rebaixamento de trabalhadores no setor. Quase metade do contingente de empregados formais da região está no setor de serviços. Eram 320.752 em março último, contra 211.713 do setor industrial.
O Ministério do Trabalho considera integrantes das atividades do setor de serviços os seguintes segmentos econômicos: instituições de crédito, seguros e capitalização; comércio e administração de imóveis, valores mobiliários e serviços técnicos; transporte e comunicação; serviços de alojamento, alimentação, reparação manutenção; serviços médicos, odontológicos e veterinários, além de ensino.
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