Economia

Com a precisão
de relógio suíço

ANDRE MARCEL DE LIMA - 08/12/2006

A Petroquímica União completa 40 anos em dezembro de 2006 com motivos que não se restringem ao projeto de ampliação da capacidade produtiva. Além dos preparativos para acrescentar 200 mil toneladas anuais de etileno a partir de abril de 2008, num investimento de R$ 840 milhões, a empresa-mãe do Pólo Petroquímico do Grande ABC comemora o fato de atravessar quatro décadas em condições invejáveis de competitividade.

A maior prova disso está no levantamento setorial realizado pela Solomon Associates, após analisar 108 plantas petroquímicas espalhadas pelo mundo, sete das quais na América Latina. A empresa norte-americana de consultoria e benchmarking concedeu à PQU o quinto lugar no ranking da confiabilidade operacional. A companhia instalada entre Mauá e Santo André superou mais de 100 competidores internacionais. Nada mal para a central petroquímica mais antiga do País, cuja trajetória se confunde com a da industrialização brasileira.

Quem traduz o significado do quesito confiabilidade operacional é o diretor Cesar Barlem. Munido do denso relatório compilado pela Solomon Associates, o executivo compara os cuidados que envolvem a indústria petroquímica aos procedimentos aeronáuticos. “Da mesma forma que um avião dispõe de duas turbinas, mesmo tendo condições de decolar e aterrissar com apenas uma, temos duplicidade e até triplicidade de mecanismos de controle de operações críticas. É o que chamamos de tripla redundância” — explica, referindo-se à orquestração ininterrupta de equipamentos como válvulas e tanques para transformar nafta em etileno e outros insumos para a segunda geração industrial.

Processamento rápido

Diferentemente do exemplo aéreo, em que a desativação de uma única turbina ou equipamento fundamental causaria desastre humano irremediável, no caso petroquímico falhas repercutem em perdas financeiras porque a nafta proveniente de refinaria de petróleo precisa ser imediatamente processada e, para tanto, não pode haver gargalos. Caso contrário, torna-se necessário queimar antes de liberar na atmosfera, por meio da tocha conhecida tecnicamente como flare.

Após consumir alguns minutos em cálculos, Cesar Barlem apresenta ótima notícia sobre esse tópico. Ao comparar a performance atual com a de 10 anos atrás, o executivo chega à conclusão de que aprimoramentos tecnológicos e humanos fazem com que a PQU deixe de queimar 35 mil toneladas anuais de nafta, volume suficiente para encher 1.750 caminhões de 20 metros de comprimento, cuja distância em alinhamento atingiria 35 quilômetros. Ganham os acionistas, uma vez que a tonelada de nafta cotada a US$ 500 redunda em economia anual de US$ 17,5 milhões, e ganha a comunidade com a redução da chama necessária para a queima de gás não aproveitado. “É a maior comprovação de que resultados financeiros e ambientais são interdependentes, não excludentes” — observa Barlem.

Outro indicador de saúde operacional que contribuiu para a quinta colocação no ranking traçado pela Solomon Associates está relacionado às paradas para manutenção, tão necessárias quanto indesejáveis porque representam suspensão da produção. Por isso, quanto maior o intervalo entre paradas e quanto menos durarem, melhor.

Do grupo de 46 plantas pesquisadas em 2005, foram extraídas as seguintes médias: o intervalo planejado para a próxima parada de manutenção era de 66 meses com duração média programada de 34 dias. A parada mais recente tinha o intervalo médio de 63 meses e 37 dias de interrupção. No caso específico da PQU, a próxima parada era estipulada para 72 meses, a mais recente também tinha 72 meses e a quantidade de dias de interrupção caíra de 29 para 23 dias. Os dados técnicos revelam que a PQU se comportou acima da média sob todos os ângulos analisados.

Mais premiação

Além da distinção conferida pela Solomon, a PQU comemora o Prêmio Nacional da Qualidade conferido pela Fundação Nacional da Qualidade, ano passado. O troféu representa reconhecimento ao modelo de gestão baseado em sistema de análise crítica do desempenho operacional e no aprimoramento contínuo das lideranças.

Se é verdade que a PQU funciona com precisão típica de relógio suíço, a baixa escala de produção representa o calcanhar-de-aquiles num segmento especializado em commodities. Enquanto a capacidade individual anual da baiana Braskem-PB e da gaúcha Copesul atinge 1,2 milhão de toneladas de eteno, a PQU se situa em 500 mil toneladas. É por reduzir a enorme distância e representar reversão de tendência histórica marcada por perda de representatividade da central mais antiga do País que a expansão de 200 mil toneladas de eteno é ansiosamente aguardada.

E embora a diretoria não se pronuncie sobre o assunto, informações dão conta de que o board acionário da PQU se movimenta para viabilizar segunda onda de expansão, que elevaria a capacidade ao mesmo nível das competidoras do Rio Grande do Sul e da Bahia.

Em entrevista recente ao Valor Econômico, Roberto Garcia, presidente do Grupo Unipar, controlador da PQU, afirmou que vai intensificar negociações com a Petrobras para garantir matéria-prima ao plano de atingir 1,2 milhão de toneladas de eteno por ano. Afirmou, inclusive, que a PQU trabalha com a alternativa de importação de insumo, e que conversações com a Transpetro estão em andamento.

Avanço planejado

O projeto de expansão de 200 mil toneladas avança no ritmo planejado, assegura Cesar Barlem. Ele conta que a PQU e a Revap (Refinaria do Vale do Paraíba) já conseguiram licenças ambientais para as respectivas obras de ampliação. Agora só falta o sinal verde para a construção de duto de 97 quilômetros que ligará a Petroquímica União ao tentáculo da Petrobras em São José dos Campos. “Esperamos que a licença saia até o final do ano. Aliás, precisamos que saia até o final do ano. Os dutos já foram comprados” — comenta Barlem, ao lembrar que a PQU também já adquiriu fornos, torres e vasos para a planta. “Estamos em processo final de aquisição de bombas e contratação de empresas especializadas em montagem” — destaca.

As obras de ampliação da PQU devem mobilizar cerca de 1,5 mil trabalhadores entre o início de 2007 e abril de 2008. Se a mão-de-obra circunstancial é significativa, o mesmo não pode ser afirmado em relação à definitiva. As 200 mil toneladas adicionais de eteno representarão não mais que 50 funcionários ao quadro atual de 580. A indústria petroquímica é tão intensiva em capital como econômica em recursos humanos. “Vamos aumentar o efetivo em 10% e a escala de produção em 40%. A isso se dá o nome de produtividade” — destaca Cesar Barlem. “O potencial de criação de empregos em grande escala está nas empresas de terceira geração” — completa, ao esgrimir conceito reiteradamente destacado por LivreMercado.

O projeto da PQU é diferenciado. Pela primeira vez na história deste País — como diria o presidente da República que se empenhou para assegurar a expansão — uma central petroquímica utilizará gás de refinaria como insumo para produção de eteno, em substituição à nafta. “É mais uma vitória da cultura de pioneirismo consagrada pela PQU” — orgulha-se Barlem. Gás de refinaria é comumente utilizado como matriz energética para o funcionamento dos equipamentos das próprias refinarias.

Estação de tratamento

Outra novidade diz respeito ao abastecimento de água. PQU e empresas de segunda geração do Polo Petroquímico projetam captar água diretamente da Estação de Tratamento de Esgoto de Heliópolis, entre São Caetano e São Paulo, em vez de se abastecer do Rio Tamanduateí. Um duto de 14 quilômetros entre a ETE e o Pólo de Capuava deve ser construído até abril de 2008. “É um projeto fantástico que abastecerá a Apolo com 500 litros por segundo, com possibilidade de dobrar esse volume” — destaca Barlem.

O executivo conta que o grande apelo do novo sistema de abastecimento não está no aspecto financeiro, já que o alto custo de tratamento dos efluentes da ETE manterá PQU e empresas do Pólo Petroquímico em desvantagem na comparação com a Braskem-PB e Copesul. O principal chamariz está na esfera ambiental: “Vamos tratar esgoto e devolver água limpa para o rio” — destaca.

Responsabilidade ambiental é espécie de obsessão corporativa. Barlem contabiliza cerca de US$ 60 milhões em investimentos ecológicos nos últimos 10 anos, incluindo sistemas de tratamento de efluentes líquidos, substituição de óleo combustível por gás natural, projetos de racionalização de energia e água potável, entre outros. Da janela da sala ocupada por Cesar Barlem é possível visualizar dezenas de pássaros num cenário esverdeado que mais parece um parque. Cerca de 30% da área total de 900 mil metros quadrados é de preservação ambiental.

Qualquer descrição do perfil da PQU ficaria incompleta se não levasse em conta os cuidados especiais com recursos humanos e comunidade. Por duas vezes consecutivas a companhia figurou na lista das 150 melhores empresas brasileiras para trabalhar, editado pela revista Você SA-Exame. Além de oferecer salários e benefícios muito acima da média brasileira e regional, a PQU mantém programas antidrogas, antitabagismo e de saúde da mulher, ginástica laboral com professores de educação física e até código de conduta para balizar atitudes de respeitabilidade no ambiente de trabalho. Trata-se de cartilha sucinta. Colaboradores encontram síntese de valores éticos, além de parâmetros que determinam relações com clientes, fornecedores, acionistas, governos, comunidade, mídia, sindicatos e até com os concorrentes. Assim como a Bridgestone/Firestone e outras poucas companhias que adotam códigos de conduta, a PQU acredita que competência técnica e atributos humanos devem caminhar juntos.

Responsabilidade social

Na área de responsabilidade social a PQU apóia vários programas voltados ao meio ambiente, cultura e cidadania, mas a ação mais reluzente é a transformação da ADC-PQU em clube de solidariedade à disposição de entidades beneficentes. “A ADC é a nossa menina-dos-olhos” — considera Izabel Christina Galvão da Silva, assessora de Comunicação e de Responsabilidade Social.

Instalado bem em frente à companhia, o clube da PQU foi praticamente reconstruído ao custo de R$ 3,2 milhões. Mais que equipamentos como piscina semi-olímpica, três campos de futebol society, três quadras de tênis, saunas, pista de corrida, ginásio poliesportivo, salas de leitura e bosque com espécies típicas da Mata Atlântica, a ADC-PQU ganhou nova conceituação: passou a receber grupos de entidades assistenciais em horários preestabelecidos, além dos próprios funcionários.

Por enquanto as entidades conveniadas que usufruem da estrutura esportiva e de lazer são a Associação Comunitária da Fazenda da Juta, que cuida de crianças carentes da Zona Leste de São Paulo; Instituição Assistencial e Educacional Dr. Klaide, que mantém creche e abrigo para idosos na Vila Curuçá, em Santo André; Fraternidade Santa Clara, que cuida de mulheres soropositivas também em Santo André; além de membros de comunidades próximas indicados pelo Centro de Saúde-Escola Capuava, mantido pela Prefeitura em parceria com a Faculdade de Medicina do ABC.

“São cerca de 600 beneficiados de todas as faixas etárias” — quantifica Izabel Galvão. “O conceito de ADC-PQU voltada à comunidade encerra longa busca. Faz anos que procurávamos um programa social permanente à altura da importância da PQU. Analisamos diferentes modelos e não copiamos nenhum. Adotamos algo novo” — explicou.



Leia mais matérias desta seção: Economia

Total de 1894 matérias | Página 1

21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?
12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES
07/11/2024 Marcelo Lima e Trump estão muito distantes
01/11/2024 Eletrificação vai mesmo eletrocutar o Grande ABC
17/09/2024 Sorocaba lidera RCI, São Caetano é ultima
12/09/2024 Vejam só: sindicalistas agora são conselheiros
09/09/2024 Grande ABC vai mal no Ranking Industrial
08/08/2024 Festejemos mais veículos vendidos?
30/07/2024 Dib surfa, Marinho pena e Morando inicia reação
18/07/2024 Mais uma voz contra desindustrialização
01/07/2024 Região perde R$ 1,44 bi de ICMS pós-Plano Real
21/06/2024 PIB de Consumo desaba nas últimas três décadas
01/05/2024 Primeiro de Maio para ser esquecido
23/04/2024 Competitividade da região vai muito além da região
16/04/2024 Entre o céu planejado e o inferno improvisado
15/04/2024 Desindustrialização e mercado imobiliário
26/03/2024 Região não é a China que possa interessar à China
21/03/2024 São Bernardo perde mais que Santo André
19/03/2024 Ainda bem que o Brasil não foi criado em 2000