Decadente Capital Econômica da Província do Grande ABC, São Bernardo foi ultrapassada por Mauá na acumulação de riqueza individual, como pode ser traduzido o Índice de Potencial de Consumo produzido anualmente pela Consultoria IPC, da Capital. O resultado per capita é mais um golpe denunciador das fraquezas econômicas e sociais de São Bernardo, mascaradas pelos holofotes que fazem das montadoras de veículos comissão de frente camufladora da realidade vista mais de perto.
O berço do sindicalismo da região, que insiste em manter agenda em que capital e trabalho fingem que se aproximam, dá sinais mais que evidentes de que exige forte reestruturação, que se irradiaria por toda a região. O problema é saber quem vai colocar o guizo de transformações no pescoço do gato da intolerância e das chamadas conquistas trabalhistas que afugentam investimentos e penalizam pequenas e médias indústrias.
O prefeito Luiz Marinho viu naufragar a proposta de retirar São Bernardo da dependência exagerada da indústria automotiva. Os projetos de multiplicação de fontes produtivas refluíram em sintonia com o esvaziamento das montadoras de veículos. A degringolada do governo federal petista acelerou o desmonte do planejamento do ex-sindicalista.
A chegada de investimentos industriais nas áreas químicas e petroquímicas por conta do filão do Pré-Sal virou decepção. A indústria de defesa aeroespacial não passa de miragem. Os chamados Arranjos Produtivos Locais são uma farsa. As empresas industriais seguem distantes entre si, movidas pela concorrência e pela sobrevivência. O mesmo se dá em atividades comerciais e de serviços.
A plataforma de embarque ao Primeiro Mundo de diversificação das matrizes produtivas, portanto, ruiu. O Aeroporto Internacional, projetado para ocupar área dos mananciais, não resistiu à insuficiência de lucidez econômica e ambiental.
Museu esclarecedor
Possivelmente o que estaria mais próximo da realidade de execução como lembrança de alguma coisa voltada ao setor de produção é o Museu do Trabalho e do Trabalhador, uma homenagem que Luiz Marinho prestará ao amigo ex-presidente Lula da Silva. Uma marca que divide ainda mais capital e trabalho, porque simbolizaria apenas uma das metades do desenvolvimento econômico. Como se o Petrolão já não fosse suficiente para emoldurar a República de São Bernardo com marca dissociada de sedução ao capital.
Potencial de consumo é espécie de PIB de acumulação de riqueza dos brasileiros. A Consultoria IPC, do especialista Marcos Pazzini, desenvolve o indicador com base em dados agregados oficiais. O medidor dá dimensão mais exata da riqueza acumulada por habitante.
São Bernardo ocupa a 12ª posição entre os integrantes do G-22, grupo dos sete municípios da região somados aos 15 maiores do Estado de São Paulo. A média por habitante de potencial de consumo de Mauá nesta temporada é de R$ 23.499,92. Um pouco acima dos R$ 23.441,97 de São Bernardo.
São Caetano na frente
São Caetano se mantém como líder do G-22 em potencial de consumo, com média por habitante de R$ 34.938,31, seguido de perto por Santos que soma R$ 33.051,26. O potencial de consumo per capita de São Caetano é 33% superior a São Bernardo. Santo André ocupa a quinta colocação na classificação geral do G-22, com média por habitante de R$ 26.652,36, ou 23,7% abaixo da líder São Caetano. Diadema está um pouco abaixo de São Bernardo na classificação regional e bem abaixo na classificação geral do G-22: com média por habitante de R$ 21.784,64, só está acima de três municípios situados fora da Província: Mogi das Cruzes (R$ 21.700,51), Sorocaba (R$ 21.526,95) e Guarulhos (R$ 19.197,83). Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra são rabeirinhas da Província. Ribeirão Pires tem potencial de consumo por habitante de R$ 20.635,45 e Rio Grande da Serra de R$ 17.906,19.
A comparação entre São Bernardo e Mauá é proposital e indispensável. Proposital porque confronta dois municípios vítimas de uma mesma enfermidade – a Doença Holandesa. São Bernardo depende demais dos humores e horrores da indústria automotiva, enquanto Mauá sofre e respira com base nos resultados da indústria petroquímica.
Doença Holandesa é, sucintamente, a predominância de uma determinada atividade no conjunto da economia de uma localidade, com efeitos deletérios nem sempre resgatáveis. Originalmente Doença Holandesa se referia à cultura de tulipas como fonte de riqueza da Holanda. Depois, a expressão foi adaptada aos países que dependem demais de receitas petrolíferas.
Mais comparações
Quem poderia imaginar que São Bernardo perde para Mauá em potencial de consumo por habitantes? Pois os números da Consultoria IPC são irrefutáveis. A média de São Bernardo e de todos os municípios que integram o G-22, menos Rio Grande da Serra, é superior à media nacional. A riqueza acumulada por habitante do G-22 é de R$ 24.172,68, contra R$ 20.742,65 da média brasileira. Quando a comparação é com a média do Estado de São Paulo, o G-22 praticamente empata. Os paulistas acumulam por habitante R$ 24.079,55. Um pouco abaixo, portanto, da média do G-22.
Em números absolutos, por contar com população quase que o dobro da de Mauá, São Bernardo impressiona mais. Números absolutos, no caso, exorcizam a comparação por habitante. Tratam-se de valores acumulados pelo conjunto da população.
São Bernardo de 712 mil habitantes tem potencial de consumo para esta temporada de R$ 19.140.457.894 bilhões. O Valor só é superado dentro do G-22 por Campinas, com R$ 32.325.806.226 bilhões. Mauá, com 457 mil habitantes, pode consumir até R$ 10.756.733.726 neste ano. Santo André terá R$ 18.991.218.729 bilhões, São Caetano R$ 5.547.994.696, Diadema R$ 9.043.564.554, Ribeirão Pires R$ 2.499.242.333 bilhões e Rio Grande da Serra R$ 875.111.246 milhões.
Do total de R$ 3.887.219.995.093 trilhões que o Brasil tem disponível ao consumo nesta temporada, R$ 265.760.407.379 bilhões (6,06%) estão localizados nos municípios do G-22 Paulista. Desse valor, R$ 66.843.323.171 (1,7184%) estão na Província do Grande ABC.
Veja a classificação de potencial de consumo do G-22 em ordem decrescente:
1. São Caetano, R$ 34.938,31
2. Santos – R$ 33.051,26
3. Ribeirão Preto – R$ 27.755,90
4. Campinas – R$ 27.580,42
5. Santo André – 26.652,36
6. São José do Rio Preto – R$ 25.835,28
7. Jundiaí – R$ 25.355,11
8. São José dos Campos – R$ 32.985,21
9. Sumaré – R$ 23.985,04
10. Paulínia – R$ 23.634,66
11. Mauá – R$ 23.499,92
12. São Bernardo – R$ 23.441,97
13. Osasco – R$ 22.788,45
14. Piracicaba – R$ 22.524,69
15. Barueri – R$ 22.371,08
16. Taubaté – R$ 22.371,83
17. Diadema – R$ 21.784,64
18. Mogi das Cruzes – R$ 21.700,51
19. Sorocaba – R$ 21.526,95
20. Ribeirão Pires – R$ 20.635,45
21. Guarulhos – R$ 19.197,83
22. Rio Grande da Serra – R$ 17.906,19
Total de 1894 matérias | Página 1
21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?