Esse texto – mais um que discorre sobre a economia de Santo André em meio a tudo sobre regionalidade que publicamos – deveria servir de balizamento a assessores de candidatos à Prefeitura nas eleições de outubro próximo. E também ao prefeito Carlos Grana, que busca a reeleição em meio à tempestade petista que se espalha por outros partidos de uma coalizão federal suicida. Por favor, senhores assessores, marqueteiros e concorrentes ao Paço de Santo André: não mintam aos eleitores. Principalmente quanto ao desempenho da economia.
É fácil vender a mensagem de que Santo André, desde a chegada do PT ao poder federal, considerando-se janeiro de 2003 a março deste ano, aumentou em 81.377 o total de postos de trabalho com carteira assinada. O número parece reluzente, não é verdade? Eram 111.186 profissionais com carteira assinada em dezembro de 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, contra 192.563 em março último, antepenúltimo mês da presidente Dilma Rousseff (a não ser que volte após o interinato de Michel Temer). Um avanço relativo de 73,19%.
A Administração de Carlos Grana não explorou durante os três anos e meio de mandato o aumento do emprego formal em Santo André. Talvez não se tenha dado conta do quanto poderia explorar os números como marketing. Possivelmente foi precavido. O antecessor Aidan Ravin fez dos numerais malandragens semânticas imperdoáveis. Carlos Grana preferiu investir na divulgação de bolas furadas, caso da reestruturação do Eixo Tamanduatehy, principalmente da Avenida dos Estados. Também vendeu o bilhete supostamente premiado do Polo Tecnológico que jamais saiu das fantasias da secretária Oswana Fameli, de Desenvolvimento Econômico.
Outras iniciativas na área econômica não passaram de quinquilharias, dada a gravidade história da crise em Santo André. A situação do Município é tão asfixiante quando se tem o passado como referência e o futuro como linha do horizonte que a bem do bom senso se deveria providenciar um novo hino oficial, retirando-se tudo que se refere a “viveiro industrial” -- porque isso ficou na poeira do passado.
Farra do consumo explica
Para os pouco adestrados em economia, o avanço do emprego formal durante os governos federais petistas é a prova provada de que Santo André reagiu aos anos de turbulência que se seguiram ao estrangulamento logístico -- sobre o qual já escrevemos -- e também a outros vetores essenciais à explicação da derrocada, entre os quais a falta de competitividade estadual e nacional. As pequenas indústrias foram massacradas por um sindicalismo que balizava reivindicações tendo as grandes corporações como referências. Não se tratam desiguais de forma igual.
Ora, se pinto esse quadro horroroso da economia de Santo André, como explicar o saldo gigantesco de empregos formais nos últimos 13,3 anos pesquisados com base no Cadastro Geral de Emprego e Desemprego do Ministério do Trabalho? Simples, muito simples.
Na parte supostamente positiva, Santo André se comportou exatamente como o Brasil durante o período. O estoque de empregos formais no País cresceu um pouco mais que os 73,19% de Santo André – foram 76%, resultado de 22,3 milhões de empregos formais de estoque em dezembro de 2002 e de 39,4 milhões em março último. O Brasil ingressou no mundo de emprego dos setores de comércio e de serviços, principalmente. Tanto quanto Santo André e outros municípios da região. O aumento foi cavalar por conta principalmente de anos dourados de consumismo desenfreado. Uma farra que acabou como se sabe.
Estoque congelado
A roda pega em relação a Santo André, sempre comparando com o resultado geral do Brasil, quando se vai ao que interessa mais: o emprego industrial. Fernando Henrique Cardoso deixou o País numa pindaíba industrial, por conta de abertura desmesurada dos portos e sobretudo porque o Real estava tremendamente desbalanceado em relação ao dólar, o que facilitava as importações, entre outros aspectos de corrosão dos produtores nacionais.
Com Lula da Silva, principalmente, e durante algum período com Dilma Rousseff, até que se descambasse o desencaixe fiscal, houve crescimento substancioso do emprego industrial formal. De estoque de 5.214.210 milhões deixados por Fernando Henrique Cardoso, o Brasil saltou para estoque de 7.549.833 milhões no período petista. Um avanço de 44,79% que, a bem da verdade, vem sendo duramente reduzido nos últimos dois anos.
Então, ficamos assim: enquanto Santo André avançou no emprego geral, que conta todas as atividades (extrativa mineral, indústria de transformação, serviços industriais de utilidade pública, construção civil, comércio, serviços, administração pública, agropecuária), o estoque de emprego industrial mais que estagnou no período em que os dados nacionais avançaram 44,79%.
Vamos, então, aos números de emprego formal industrial de Santo André. Quando FHC foi embora, restaram 27.964 postos de trabalho setor. Em março último, vésperas da queda de Dilma Rousseff, Santo André contabilizava 27.731. Ou seja: se perderam 233 postos de trabalho no período. O saldo negativo não significa nem um por cento do estoque de dezembro de 2002, diriam os otimistas ou alienados. O resultado é muito mais grave: a indústria de Santo André, mesmo ao viver período de alta demanda durante boa parte do governo Lula da Silva, não construiu um colchão suficiente para dar sustentação aos demais setores. Caso único na região, como mostraremos em outros textos.
Terciário frágil
Houvesse Santo André alocado nas matrizes econômicas uma porção relativamente volumosa de empregos de qualidade, tecnologicamente avançados como tanto pregava o então prefeito Celso Daniel, os resultados no entorno do mercado de trabalho do setor não seriam tão desastrosos. Santo André perde seguidamente riqueza tanto em forma de PIB (Produto Interno Bruto) como de Potencial de Consumo. Empregos de comércio e de serviços sem agregado de valor não amenizam a orfandade industrial de que foi vítima no passado e segue a ser no presente. São empregos de baixa remuneração e sem apetrechos complementares do setor industrial que fazem a diferença a cada final de mês.
A participação relativa do emprego industrial com carteira assinada no conjunto das atividades econômicas está-se de reduzindo de forma comprometedora em Santo André. Quando Fernando Henrique Cardoso foi embora o setor de transformação industrial de Santo André participava com 24,15% dos empregos. Em março último, registrava apenas 14,40%. Portanto, de cada 100 trabalhadores empregados com carteira assinada em Santo André, menos de 15 são do setor industrial.
A mobilidade social própria do setor industrial em situação em que o terciário é de baixa qualificação segue ladeira abaixo em Santo André. O “celeiro industrial” da Província do Grande ABC é detentor da mais baixa participação relativa do emprego industrial. Perde feio para as demais cidades. Inclusive para São Caetano, cuja fatia do setor no agregado de empregos é de 22,25%.
Não sei o que andam fazendo os formuladores de programa de governo dos candidatos à Prefeitura de Santo André. Não sei que números detêm. O que sei é que estarão distanciados do público-alvo que pretendem conquistar nestes tempos em que política partidária virou lixo caso não atentem para o encaixe de mensagens honestas, eticamente responsáveis, quando se dirigirem à sociedade andreense.
Não mintam. Não prometam milagres. Santo André está na UTI econômica há muito tempo. Sem perspectiva de salvação pelo caminho de lantejoulas programáticas vendidas como essências milagrosas. O paciente está em estado grave e requer terapias múltiplas que considerem a indústria algo como carta praticamente fora do baralho porque, sejamos honestos, são poucos os investidores com peito de estacionarem recursos financeiros na Província do Grande ABC, na área industrial. Quem pretende enfrentar os sindicalistas, quem?
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