Economia

Somos uma PPP: Província de
Polos Prometidos (e esquecidos)

DANIEL LIMA - 02/06/2016

Se há uma PPP que dá certo (ou muitíssimo errado) é a que patrocinamos há muito tempo. Somos uma Província de Polos Prometidos. São o Polo de Óleo e Gás, Polo de Tecnologia, Polo dos Moveleiros, Polo da Indústria de Defesa, Polo de Turismo, Polo disso e Polo daquilo. Só está faltando um Polo de Todos os Sexos, quem sabe inspirado num bairro de Amsterdam, o Red Liggt? Ou seja, algo bem profissional, multissexual, em vez dos polozinhos mequetrefes que se espalham pela Província.

Escrevo a propósito do que acabo de ler no Estadão de hoje: Sorocaba cultiva e robustece um Polo de Aeronáutica que só aumenta a sensação de que somos mesmos a rebimboca da parafuseta de planejamento estratégico. Desperdiçamos quase uma década e meia de mandonismo petistas. Os petistas que tinham tudo para fortalecer economicamente a região nos deixaram a ver plataformas da Petrobras. Se é que me entendem.

Tenho pastas de arquivo recheadíssimas de reportagens sobre os sonhos dos administradores públicos e secretariados da Província do Grande ABC. Todas dão conta do quanto ficaríamos em igualdade de condições com as principais praças econômicas do mundo se adotássemos polos de desenvolvimento.

Já prometeram um Polo Tecnológico Regional que depois virou Polo Tecnológico Municipal que, como se sabe, não sai do papel. Também – e essa é da cátedra do prefeito Luiz Marinho— nos garantiram que seríamos um invejável Polo de Óleo e Gás. Deu no que deu, no escândalo da Petrobras. Vários dos executivos laçados pela força tarefa da Operação Lava Jato frequentaram São Bernardo à empreitada. Também prometeram para São Bernardo o Polo da Indústria de Defesa, somando-se à suposta chegada de uma fabrica de estruturas do Gripen, caça sueco que vai abastecer a Força Aérea Brasileira.

Sorocaba dá exemplo

Enquanto ficamos embriagados de esperanças com promessas que jamais se realizam, Sorocaba nada de braçadas no setor aéreo. Sob o titulo “Sorocaba vira referência em manutenção de aviões e busca atrair cliente estrangeiro”, o Estadão de hoje mostra uma das faces da industrialização daquele Município paulista que cresce muito mais que a média regional – o que convenhamos não é nenhuma façanha, embora o desempenho deva ser desconsiderado.

Seleciono alguns trechos da reportagem do Estadão. Reproduzir textos de terceiros, dando-lhes os devidos créditos, é uma maneira de manter intocável a fidelidade a cada parágrafo, para que não haja o menor risco de interpretação eventualmente caolha ou descuidada. Vamos então à reportagem em seus melhores momentos: 

 Dos 60 mil aviões que aterrissaram em 2015 no Aeroporto Bertam Luiz Leupolz, em Sorocaba, pelo menos 40 mil não levantaram voo no mesmo dia. De monomotores a jatos de longo curso, essas aeronaves permaneceram em terra, em hangares e oficinas das 34 empresas da cidade credenciadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para manutenção e reparo. Há ainda outras 18 de apoio e suporte no setor. Juntas, somam 1,2 mil empregos diretos, a maioria de nível técnico ou superior. Instaladas nos arredores da pista de pouso, elas formam uma das maiores concentrações de serviços para aviação do País. No polo aeronáutico de Sorocaba estão centros de serviços de grandes companhias da aviação mundial, como Embraer, Pratt&Witney, Bombardier e Dassult-Breguet. Por ser uma boa opção para posicionamento temporário das aeronaves, Sorocaba passou a ser conhecida no meio aeronáutico como a “cidade-dormitório” dos aviões privados. (...) “No Brasil, são mais de 15 mil aviões leves e médios que procuram Sorocaba porque fazemos todos os tipos de manutenção, desde motores até pinturas e reparos após acidentes” – disse o diretor da Master Serviços Aeronáuticos, Marcos Waldir Dias. O crescimento desse mercado atraiu para a cidade escolas para pilotos e técnicos. (...). Com o polo consolidado, o próximo passo será internacionalizar o aeroporto de Sorocaba para reduzir a limitação aos voos executivos procedentes do exterior, Como as aeronaves são obrigadas a entrar ou sair do País por aeroportos internacionais, elas não podem se dirigir diretamente ao terminal de Sorocaba, que não tem esse status, e têm de passar pelos Aeroportos de Campinas, Guarulhos, Belo Horizonte ou Curitiba, que não dão prioridade à aviação executiva. “No momento em que houver a internacionalização, nosso movimento dobra”, disse Ari Bordieri Júnior, presidente da Associação dos Operadores do Aeroporto de Sorocaba – escreveu o Estadão.

Aeroportozão anedótico

Nunca é demais lembrar, para desgosto do petista que prometeu o mundo enquanto o governo federal brincava com as finanças e preparava o terreno para a maior catástrofe fiscal da história, que o prefeito Luiz Marinho lançou em outubro de 2011 a anedótica proposta de construção de um aeroporto internacional na área de proteção ambiental de São Bernardo. O aeroporto prometido e depois minimizado em forma de área para aviões executivos, me levou a brincar seriamente com dois verbetes que são dignos filhotes daquela iniciativa: o que seria um Aeroportozão virou Aeroportozinho no planejamento (planejamento?) do ex-sindicalista protegidíssimo por Lula da Silva.

Não vou me estender sobre o assunto (sugiro a leitura dos links abaixo) mas o fato é que tudo não passou de brincadeira de mau gosto do prefeito de São Bernardo e seu sonho ao que parece morro abaixo de virar governador do Estado.

Estruturalmente, a Província do Grande ABC em qualquer um – ou no conjunto de seus municípios -- não tem a menor condição de sediar aeroporto, aeroportozinho ou aeroportozão. Estamos encalacrados pela natureza dos mananciais, pela geografia metropolitana e seus efeitos ambientais e sobretudo, segundo estudos detalhadíssimos de organismos que tratam do espaço aéreo, sem a menor possibilidade de abrir uma brecha operacional que espante os riscos.

O nicho encontrado por Sorocaba no setor aéreo deveria servir de inspiração aos dirigentes públicos e privados da região. É indispensável reconhecer todas as nossas limitações geoeconômicas e ambientais como prioridade à exclusão de bobagens em forma de perspectivas de desenvolvimento econômico.

Precisamos nos reconhecer tecnicamente impedidos em diferentes possibilidades econômicas e buscar especialistas que encontrem saídas de que precisamos de acordo com os vácuos à espera de ocupação. Provavelmente esses profissionais vão chegar à conclusão que teimamos em adiar porque somos todos incompetentes: nosso futuro ainda é de plástico em suas imensas variáveis, como já cansamos de escrever.

Leiam também:

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