Economia

Mercado de trabalho do G-22:
Só Barueri supera São Caetano

DANIEL LIMA - 29/08/2016

São Caetano é a melhor representante da Província do Grande ABC no ranking de vulnerabilidade do mercado de trabalho do G-22, grupo formado pelos sete municípios da região e as 15 maiores economias do Estado, exceto a Capital. O indicador é o primeiro de uma série que integrará o Índice CapitalSocial de Competitividade. A iniciativa desta revista digital conta com parceria da IPC Marketing do pesquisador Marcos Pazzini e do professor de empreendedorismo da Universidade Mackenzie, Miguel Isoni Filho. Os estudos vão se estender por toda a temporada com o anúncio e a análise de um conjunto de dados nas áreas econômica, financeira, criminal e social.

O resultado de São Caetano no indicador de vulnerabilidade no mercado de trabalho só é inferior ao de Barueri, na Região Metropolitana de São Paulo – e mesmo assim por diferença mínima. Enquanto São Caetano apresentou incidência de 3,93 microempreendedores individuais para cada 100 trabalhadores com carteira assinada, Barueri registrou 3,18.

O pior resultado entre os 22 municípios é de Sumaré, na Região Metropolitana de Campinas, com 16,53 microempreendedores individuais para cada 100 empregos formais. Na Província do Grande ABC o pior resultado foi consumado em Ribeirão Pires, com 15,32% --abaixo apenas da lanterninha Sumaré.

O segundo melhor resultado da Província do Grande ABC é de São Bernardo, com taxa de 8,08%. Ou seja, São Bernardo tem mais de duas vezes a incidência de microempreendedores individuais em relação a São Caetano. Santo André vem logo em seguida com 9,49%. Diadema com 12,09%, Mauá com 13,84%, Rio Grande da Serra com 14,58% e Ribeirão Pires com 15,32% completam a relação regional.

Fragilidade do mercado

A definição do ranking de vulnerabilidade no mercado de trabalho formal é resultado de estudos à consolidação do Índice CapitalSocial de Competitividade. Era preciso encaixar um conceito que não deixasse dúvida sobre a solidez ou a flacidez do ambiente econômico no G-22 quando se trata de trabalhadores com direitos legais. A possibilidade de encontrar resultados com outra metodologia não seduziu os formuladores da proposta. O microempreendedorismo individual é uma fragilidade do mercado de trabalho.

O confronto de microempreendedores individuais com o contingente de trabalhados formais de cada Município (os dados são de junho deste ano) está respaldado por estudos e estatísticas que asseguram a debilidade do exército cada vez maior de desempregados que se transformam em patrões de si mesmos e também de profissionais que tentam ingressar no mercado de trabalho pela primeira vez e não encontram espaço. A saída é formalizarem-se como microempresas em busca de ocupação geralmente por empreitada.

O G-22 Paulista, objeto do ranking do Índice CapitalSocial, conta com 311.140 microempreendedores individuais para um total de 3.272.415 empregos formais -- média de 9,51%. Um pouco menos que a média registrada na Região Metropolitana de São Paulo, integrada por 39 municípios, inclusive os sete da região. São 9,70 microempreendedores individuais para cada grupo de 100 trabalhadores formais na Grande São Paulo, num total de 6.408.440. No Estado (12.169.425 empregos formais em junho), são 10,96% de microempreendedores individuais e no Brasil a média é de 7,40%, para 39.186.809 carteiras assinadas. Os sete municípios da região contam com participação um pouco menor que a média do G-22: 9,05% (66.554 microempreendedores para um total de 735.088 carteiras assinadas) contra 9,51% (311.140 microempreendedores individuais para 3.271.415 carteiras assinadas).

Pouco valor agregado

O jornal Folha de S. Paulo publicou na edição de ontem que a recessão contribuiu para um boom na criação de empresas muito pequenas por parte de trabalhadores que perderam empregos, o que inibe o crescimento dos números de empregos informais. “Mas o fato de a maioria dos novos empreendimentos se concentrar em atividades pouco sofisticadas pode prejudicar a eficiência da economia brasileira no futuro” – escreveu o jornal. Que seguiu: “A fatia da população ocupada que trabalha por conta própria aumentou de 22,9% entre abril e junho de 2014 – quando a atual recessão teve início – para 25,2% no segundo trimestre deste ano, segundo dados do IBGE. No mesmo período o percentual da população ocupada atuando sem carteira assinada ficou praticamente estável. Isso tem ocorrido porque milhares de profissionais que perderam seus empregos decidiram montar um negócio próprio, em uma tendência chamada de empreendedorismo por necessidade”, explicou o jornal.

Bem antes de a Folha de S. Paulo fazer constar que empreendedorismo não é sinal de desenvolvimento econômico, escrevi na edição de 31 de março de 2015 – portanto há mais de um ano – que o anunciado ranking mundial da Global Entrepreseurship Monitor (GEM) se revestia de triunfalismo puro ao colocar o Brasil no topo da lista mundial. “Vivemos em permanente estado de regozijo oficial enquanto os fatos insistem em contrariar os mandachuvas” – escrevi.

Naquela data, analisei matéria publicada pelo Estadão ao anunciar que três em cada 10 brasileiros adultos entre 18 e 64 anos possuíam uma empresa ou estavam envolvidos com a criação de um negócio próprio. Em 10 anos, a taxa total de empreendedorismo no Brasil aumentou de 23% em 2004 para 34,5% em 2014. “Metade desses empreendedores abriu seus negócios há menos de três anos e meio”, escreveu o Estadão. Vejam o que escrevi: “Charada esclarecida: os piores anos do desempenho econômico do Brasil neste século, os anos da presidente Dilma Rousseff, levaram muita gente a tentar se virar por conta própria porque, principalmente os empregos de qualidade desapareceram. Aliás, desapareceram antes também, mas durante Dilma1 foi pior. E será ainda muito pior ainda durante o Dilma2” – escrevi.

Leitura equivocada

Avançando naquele artigo que escrevi, fui adiante ao criticar o estudo: “Fosse o Brasil um País de empreendedorismo prospectivo, saudável, enriquecedor, tecnologicamente aparelhado, nosso PIB médio nas últimas décadas não passaria vergonha ante nações mais desenvolvidas e mesmo dos emergentes. Tratar o índice de empreendedorismo como massa bruta, em forma de quantidade de negócios, sem atentar para as nuances que envolvem cada país em diferentes indicadores, é como sugerir que alguém em pleno gozo de funções cognitivas está com a saúde em ordem quando um câncer lhe fragiliza o organismo”.

Também sobrou para o Estadão o texto que escrevi em maio do ano passado: “A reportagem do Estadão transforma uma desgraça social em virtude ao informar que mais de 70% das micro e médias empresas conseguem sobreviver até completar o segundo ano. Ou seja: uma taxa de mortalidade empresarial de aproximadamente 30% no segundo ano é avaliada como algo que dispensa inquietação. Tanto que o presidente do Sebrae considera o resultado excelente” – escrevi.

Por essa e outras razões que, quando decidimos em conjunto com Marcos Pazzini, da IPC Consultoria, e o professor Miguel Isoni Filho, enveredar por uma metodologia que fugisse de eventual glorificação do empreendedorismo de sobrevivência, como é o caso do microempreendedorismo individual, o desafio foi estabelecido. Tão bem estabelecido que ficaram de fora da fórmula de aferição do grau de vulnerabilidade do mercado de trabalho as microempresas e também as pequenas empresas, em larga escala também suscetíveis demais ao baixo desenvolvimento econômico do País.

A categoria de microempreendedores individuais envolve no máximo um empregado – que recebe o piso da categoria ou um salário mínimo – e R$ 60 mil de faturamento anual. Os microempreendedores pagam R 50 de encargos sociais ao mês, entre contribuição previdenciária e tributos.

Veja o ranking do G-22:

1. Barueri com 7.844 microempreendedores individuais para 246.899 empregos formais – média de 3, 18%.

2. São Caetano com 4.313 MEI para 109.877 empregos formais – média de 3,93%. 

3. Jundiaí com 10.032 MEI para 160.289 carteiras assinadas – média de 6,16%.

4. Paulínia com 2.339 MEI para 37.149 carteiras assinadas – média de 6,30%.

5. Santos com 10.626 MEI para 166.995 carteiras assinadas – média de 6,36%.

6. Piracicaba com 10.610 MEI para 137.778 carteiras assinadas – média de 7,70%.

7. São Bernardo com 20.622 MEI para 255.374 carteiras assinadas – média de 8,08%.

8. Santo André com 18.095 MEI para 190.769 carteiras assinadas – média de 9,49%.

9. São José do Rio Preto com 12.968 MEI para 136.280 carteiras assinadas – média de 9,52%.

10. São José dos Campos com 18.078 MEI para 182.828 carteiras assinadas – média de 9,89%.

11. Campinas com 38.043 MEI para 381.613 carteiras assinadas – média de 9,97%.

12. Taubaté com 8.243 MEI para 71.893 carteiras assinadas – média de 11,31%.

13. Sorocaba com 21.305 MEI para 188.159 carteiras assinadas – média de 11,32%.

14. Mogi das Cruzes com 11.159 MEI para 98.185 carteiras assinadas – média de 11,37%.

15. Ribeirão Preto com 24.889 MEI para 215.209 carteiras assinadas – média de 11,57%.

16. Diadema com 11.088 MEI para 91.706 carteiras assinadas – média de 12,09%.

17. Guarulhos com 39.003 MEI para 160.289 carteiras assinadas – média de 12,50%.

18. Mauá com 8.407 MEI para 60.744 carteiras assinadas – média de 13,84%.

19. Osasco com 21.094 MEI para 150.418 carteiras assinadas – média de 14,02%.

20. Rio Grande da Serra com 973 MEI para 6.675 carteiras assinadas – média de 14,58%.

21. Ribeirão Pires com 3.056 MEI para 19.943 carteiras assinadas – média de 15,32%.

22. Sumaré com 8.243 MEI para 72.893 carteiras assinadas – média de 16,53%.



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