Nem Mauá, nem Diadema. Depois de reivindicarem há pelo menos três anos a sede de um centro tecnológico para o setor de plástico, os dois municípios que se consideravam franco favoritos para abrigar o organismo assistem a instalação em Santo André do Ciap (Centro de Informação e Apoio à Tecnologia do Plástico).
Resultado de convênio entre Agência de Desenvolvimento Econômico e Finep (Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia), o projeto reduz a disputa pela localização a detalhe insignificante porque acende a possibilidade de tirar do papel uma ação efetiva de desenvolvimento econômico regional. Em tese, a implantação do Ciap significa colocar um pólo de inteligência a serviço sobretudo das pequenas e médias empresas da cadeia produtiva do plástico instaladas no Grande ABC.
O passo ainda é curto, mas significativo porque age sobre uma matriz econômica que pode desafogar a região da histórica dependência do setor automotivo. Se tudo acontecer dentro do previsto, o Ciap ganha forma ainda no primeiro semestre para testar também a capacidade da academia de colocar seus cérebros em interatividade com o processo produtivo. A Fundação Santo André sediará o Centro do Plástico nas dependências da Faculdade de Engenharia Celso Daniel e será a executora do projeto. A condição básica para que a Finep liberasse R$ 257 mil foi justamente a garantia de contar com suporte de um centro universitário local.
Frentes de combate
O Centro de Informação e Apoio à Tecnologia do Plástico está formatado para operar em duas frentes. A primeira é construir um banco de dados sobre toda a cadeia produtiva, desde quais são, onde estão e o que fazem empresas do setor até informações setoriais e macroeconômicas capazes de auxiliar a tomada de decisões mercadológicas.
A outra e mais factível é montar um núcleo de difusão tecnológica compatível com as necessidades de modernização dos pequenos e médios produtores, altamente sufocados pelo canibalismo das transações comerciais globalizadas. "É preciso romper o ciclo vicioso que torna o pequeno negócio obsoleto. Os empresários acabam consumidos pelo cotidiano e não têm tempo nem capacidade financeira para investir sozinhos em novos processos e produtos" -- entende o secretário de Desenvolvimento e Ação Regional de Santo André, Jeroen Klink.
Jeroen Klink é o principal articulador da vinda do Ciap para o Município, apesar de o projeto ter sido oficialmente proposto pela Agência de Desenvolvimento Regional. O secretário foi além da disputa localizada e valeu-se do senso de oportunidade para sensibilizar o governo federal para um projeto originalmente pleiteado ao governo do Estado. Desde fevereiro de 2001, a região aguardava que a Secretaria de Ciência e Tecnologia batesse o martelo sobre um assunto que constava na lista dos primeiros acordos de cooperação assinados entre o governador Geraldo Alckmin e Câmara Regional. Tanto que Mauá e Diadema estavam até dispostas a disponibilizar área e dinheiro para sediar o centro. Mauá chegou até a envolver a iniciativa privada por meio de empreendimento denominado Citiplastic. A idéia era construir um condomínio empresarial em Capuava e ceder um dos galpões para o centro tecnológico do plástico.
"O projeto é pequeno, mas importante" -- despolitiza polidamente o secretário Jeroen Klink. Ainda não está definida a forma de atendimento às empresas e quais critérios a universidade utilizará para fazer a triagem dos interessados. A minuta do convênio prevê apenas que a Fundação Santo André deve indicar quatro doutores e cinco mestres para trabalharem no projeto. Também está cogitada a participação de técnicos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) que atuam no Projeto Prumo. O Prumo é um programa estadual que coloca à disposição profissionais e um laboratório móvel para auxiliar pequenas e médias empresas na solução de problemas técnicos nas linhas de produção ou no produto final.
Sem paternalismo
Os R$ 257 mil do Finep são suficientes apenas para a arrancada inicial do Centro de Informação e Apoio à Tecnologia do Plástico. Por enquanto, não está prevista nenhuma contrapartida financeira da Prefeitura de Santo André nem de outros municípios, o que deixa implícito que daqui a dois anos -- tempo estimado para a consolidação da primeira fase -- será necessário reivindicar novos recursos ou encontrar alternativas próprias de custeio.
O valor liberado pela Finep corresponde a pouco mais de 15% dos R$ 1,7 milhão inicialmente previstos para o projeto. No formato antigo desenhado pela Câmara Regional, os centros seriam chamados de A&D (Apoio & Difusão) e consumiriam R$ 1,7 milhão. Do total, R$ 900 mil viriam do Estado, R$ 130 mil do Sebrae e o restante caberia à iniciativa privada. À época, Mauá garantiu estar disposta a investir R$ 240 mil na empreitada.
Por isso, a qualidade da sinergia entre poder público, universidade e empresas é fundamental para a consolidação do Ciap. Quanto mais a universidade transformar a teoria em matéria-prima de valor agregado para o pequeno e médio empresário e quanto mais esse empresário valer-se do conhecimento produzido na academia, menor a necessidade de tutela do poder público.
Como tecnologia e capital intelectual ainda são artigos raros fora das grandes corporações, não é prudente apostar somente nas disputadas verbas oficiais. "O poder público tem de mostrar o caminho, mas não dá para ser paternalista o tempo todo" -- alerta o secretário Jeroen Klink.
Momento especial
A chegada do Ciap também coincide com momento particularmente efervescente para o setor plástico da região. As pressões políticas para ampliação da oferta de gás da Petrobras para a Petroquímica União atingem o auge neste ano eleitoral, mas ainda não há garantia de que sobreviverão ao entusiasmo dos palanques.
A reivindicação é antiga e crucial para o aumento da produção do Pólo Petroquímico de Capuava, que não está dando conta de abastecer os produtores de resinas e os transformadores de plásticos por causa da capacidade limitada da central de matérias-primas PQU. De concreto até agora, apenas a aprovação em 2002 de lei estadual de autoria do deputado Donisete Braga, do PT de Mauá, que permite a expansão de várias atividades produtivas na Região Metropolitana, entre as quais os negócios químicos-petroquímicos de Capuava.
Capuava também pode ser beneficiada por um dos 22 acordos assinados no mês passado entre o governador Geraldo Alckmin e a Câmara Regional. O texto prevê a criação de zoneamento industrial específico para a cadeia petroplástica em Capuava. A modificação está prevista para se concretizar em quatro meses a partir de 17 de fevereiro de 2004 -- data da assinatura do acordo -- e como não demanda recursos, tem mais possibilidade de sair do papel do que o centro do plástico.
Mesmo assim, o prazo é muito apertado para uma modificação que precisa ser efetivada por meio de lei estadual votada na Assembléia Legislativa. No âmbito municipal, apenas para colocar um projeto de lei que permite galpões industriais em áreas inferiores a 500 metros quadrados na mesma Capuava, a Câmara de Vereadores de Mauá precisou de três semanas.
Marcha lenta
Dentro desse contexto, a construção de um Grande ABC de plástico, conforme defende LivreMercado, continua em marcha lenta. Recente pesquisa da consultoria gaúcha Maxiquim apontou que o futuro do Grande ABC pode estar nessa cadeia produtiva desde que o segmento e as instituições tenham disposição de trabalhar nesse sentido. A região conta com 326 unidades transformadoras de plástico que consomem 200 mil toneladas de resinas e empregam pouco mais de 16 mil trabalhadores. A maioria é de pequeno e médio porte. "Com o Centro também será possível reforçar a discussão sobre novas trajetórias de desenvolvimento" -- acredita o secretário Jeroen Klink.
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