Está certo que a responsabilidade não é só dele. Diria até que não é dele em grandes proporções. Entretanto, como prometeu o mundo e o fundo ao assumir a Prefeitura de São Bernardo há oito anos, e, principalmente, como propagou durante os dois mandatos que geraria muitos empregos industriais (Indústria de Defesa e Polo de Petróleo e Gás), nada mais correto do que o enunciado do título.
O estoque de trabalhadores com carteira assinada no setor industrial de São Bernardo ao final de oito anos do comando do Paço por Luiz Marinho será reduzido em pelo menos 24 mil postos quando dezembro se completar.
Sabem o que isso significa? Por baixo, por baixo, em termos de massa salarial destruída num único mês, serão R$ 115.178,400, 00. Isso mesmo: mais de R$ 115 milhões. Dezembro deste ano vai ser uma data inesquecível para o combativo sindicalismo de São Bernardo, do qual Marinho continua a ser referência de mandos e desmandos.
Quando os jornais divulgam quanto de massa salarial será acrescida na Província do Grande ABC por conta do 13º salário, todos esquecem as perdas provocadas pelas demissões ao longo do ano. Os R$ 115 milhões se referem, repito, exclusivamente a dezembro que virá.
Antes das devidas explicações não custa ressaltar o fato de que os dados que transmitirei têm a marca do Ministério do Trabalho e do Emprego, onde, aliás, Luiz Marinho foi titular absoluto durante uma parte do governo Lula da Silva, seu segundo pai. Não há, portanto, nenhuma margem de erro.
Números conservadores
Costumo dizer que é sempre interessante ressaltar pontos que poderiam parecer dispensáveis porque no mundo digital é preciso ser mais realista que o rei já que não faltam falastrões e falsificadores de informações. Nos veículos impressos também não falta gente dessa espécie, mas a materialidade dos produtos sugere que a mais mentirosa das notícias pode ganhar ares de credibilidade simplesmente porque a cultura do papel incorpora ares de veracidade. Mas isso não significa que os jornais de papel não estejam encalacrados entre os mais assíduos leitores, que podem confrontar narrativas com outras fontes de informação.
Para que o leitor tenha ideia precisa da quantificação dos estragos no emprego industrial de São Bernardo lembro que os dados estão amarrados num compartimento conservador. Ou seja: os valores serão provavelmente maiores quando dezembro de 2016 virar passado em janeiro de 2017. Fiz os cálculos quantitativos da quebra de empregos considerando que nos três últimos meses deste ano São Bernardo perderá apenas três mil trabalhadores com carteira assinada. Menos que a média trimestral anterior. Sazonalidades do passado indicam que estou sendo generoso.
E também não considerei, no aspecto monetário, a inflação do período que mencionarei em seguida. Prometo que quando o Ministério do Trabalho atualizar os dados sobre o perfil dos assalariados de todos em setores em São Bernardo, vou dar números finais ao desempenho historicamente sofrível de Luiz Marinho. Vamos então aos números tão esperados.
Demissões demais
Quando Luiz Marinho assumiu a Prefeitura de São Bernardo em janeiro de 2009 havia 98.858 trabalhadores industriais com carteira assinada. Em setembro último, São Bernardo registrava 20.287 baixas líquidas, ou seja, diferença entre o estoque anterior e o estoque atual. Projetei para dezembro24 mil cortes de empregados industriais no período de oito anos.
Como cheguei aos R$ 115 milhões lá de cima? Simples, muito simples: o assalariamento médio do setor industrial de São Bernardo em dezembro do ano passado era de R$ 4.799,10, um dos maiores entre os municípios mais poderosos do Estado de São Paulo, segundo estudos que analisei ainda outro dia. Quando se multiplica aquele salário médio por 24 mil trabalhadores demitidos, chega-se a R$ 115 milhões. Como os vencimentos médios provavelmente serão maiores em dezembro deste ano, o montante projetado será facilmente superado.
Não me perguntem o que seria possível fazer com R$ 115 milhões de baixa da massa de rendimentos salariais dos trabalhadores que atuavam nas indústrias de São Bernardo, a maior parcela deles residentes na região.
Nem queiram descer a detalhes ao ponto de indagarem quanto ao longo deste ano, até agora e projetando os últimos três meses, as indústrias de São Bernardo deixaram de pagar em salários aos trabalhadores demitidos. A conta teria de ser feita mês a mês, multiplicando o número de baixas pelo valor médio do assalariamento. Daria um trabalho danado. O salário médio mensal é sempre diferente no conjunto da massa de empregados do setor e o Ministério do Trabalho não conta com esses valores fracionados. Preferi o caminho mais curto porque o resultado é expressivamente emblemático.
Passado castrador
Mas não são os números propriamente ditos aos quais quis chegar, embora sejam importantes e autoexplicativos. O que quero dizer com isso é que o projeto de fortalecimento industrial que Luiz Marinho lançou logo após assumir a Prefeitura e ao realizar um congresso para debater o setor automotivo, virou pó. Até porque, no âmbito automobilístico propriamente dito, nada fez.
Parece que o passado de sindicalista se tornou um estorvo na vida de Luiz Marinho. Como enfrentar o Custo São Bernardo, embutido no Custo ABC no mercado de trabalho, se Luiz Marinho jamais deixou de ser sindicalista?
Não posso deixar de repetir que a responsabilidade do prefeito de São Bernardo --- assim como dos prefeitos em geral – no mercado de trabalho industrial é relativamente escassa. Por mais políticas públicas que venham a ser adotadas, o período de maturação é sempre demorado. Nas áreas de serviços e de comércio eventuais medidas podem ser capitalizadas com brevidade, mas na indústria não é bem assim. Principalmente em regiões metropolitanas marcadas para morrer industrialmente.
Perdendo oportunidades
A omissão de Luiz Marinho nos potenciais debates sobre o rumo do setor automotivo na região – rumos que têm a direção de alcoólatra à procura de poste – é apenas uma parcela do enredo de decepções que o petista deixa no rastro de uma administração que se converteu, como já afirmei, a pior de todos os tempos em São Bernardo. Como assim? Pior de todos os tempos? Ora, bolas: quem entre os prefeitos de São Bernardo teve a bola, o campo, a torcida e o árbitro a favor durante oito anos de governo petista, sendo ele, Luiz Marinho, amigo íntimo do mandachuva que definia os rumos da economia?
Como desastre pouco é bobagem, também será acrescida ao currículo de Luiz Marinho como calamitoso prefeito de São Bernardo a quebra da vergonhosa marca deixada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso que, em dezembro de 2002, deixou um estoque de apenas 75.473 empregos industriais com carteira assinada. Até setembro último Luiz Marinho contabilizava 78.571 trabalhadores formais no setor. Com os três mil e um pouquinho mais que deverá perder até dezembro, FHC estará salvo da lanterninha.
Convém lembrar que o prefeito de então em São Bernardo era Maurício Soares, ex-advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, mas então defendendo as cores do PPS, após passar pelo PSDB. Maurício Soares não teve participação relativa que sequer arranhasse o desastre de Luiz Marinho. A relação com o governo FHC estava longe da intimidade de Luiz Marinho com Lula da Silva.
Como se percebe, a Doença Holandesa da Província do Grande ABC, mais invasiva numa São Bernardo que é a Capital Nacional Automotiva, fez estragos além da conta na carreira de Luiz Marinho. O sonho de virar governador de um Estado que mais execra o PT se situa entre a fantasia e o terror, de acordo com interpretações livres que não podem ser desclassificadas, é verdade, porque o mundo da política dá voltas. Para tanto, é preciso que Luiz Marinho ajude um bocado.
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