Economia

Aperta o cerco
dos shoppings

ANDRE MARCEL DE LIMA - 08/11/2004

O caldeirão dos shopping centers no Grande ABC vai esquentar ainda mais com duas novidades no universo das passarelas vitrificadas: São Bernardo ganhará mais um centro planejado de compras — o Marechal Plaza Shopping — e o Shopping ABC, em Santo André, passará por megaexpansão que representará praticamente um novo shopping no interior do já existente.

Os novos contendores chegam para disputar um segmento paradoxalmente luminoso e nebuloso. Conforme veiculada na edição de outubro de LivreMercado, shopping centers compõem aposta ao mesmo tempo promissora e arriscada numa região que perdeu mais de um terço do Valor Adicionado industrial nos últimos nove anos, mas mantém o terceiro potencial de consumo do País. Alguns dos melhores e mais bem estruturados exemplares nacionais convivem com empreendimentos modestos que se desdobram para manter a competitividade, além de um terceiro grupo que jogou a toalha ou busca alternativas para não sucumbir.

Com inauguração programada para a última semana de novembro, o Marechal Plaza Shopping surge sob o signo da ousadia. E não apenas porque São Bernardo registra vítimas na arena do consumo, com o prédio do Best Shopping desocupado na Avenida das Nações Unidas e o Golden Shopping praticamente a nocaute na Avenida Kennedy. O Marechal Plaza é atrevido, na melhor acepção do termo: vai se instalar a apenas 100 metros do Shopping do Coração, o único empreendimento do segmento em São Bernardo que se manteve intacto após a duplicação do Metrópole, em 1997.

Pesquisa garante

O que leva empreendedores a erguer mais um centro de compras a apenas um quarteirão de outro com mais de duas décadas de atividade? “Pesquisas indicaram a oportunidade de criar um shopping que ofereça conforto, segurança e estacionamento no centro de São Bernardo” — responde o executivo Guilherme de Barros Monteiro Ribeiro, vice-presidente da paulistana Cia. Bandeirantes, responsável pela administração e pelo estudo de viabilidade comercial do empreendimento que pertence ao grupo WS Lazzuri.

A proximidade do Shopping do Coração parece não preocupar o executivo. Primeiro pelo volume de potenciais consumidores na principal artéria comercial de São Bernardo. “O fluxo diário em frente ao local passa de 40 mil pessoas. O público já está pronto, só falta abrir as portas” — entusiasma-se Guilherme. Segundo, porque ele entende que o Marechal Plaza paira acima do concorrente em qualidade. E deixa essa visão clara ao realçar os atributos estruturais que, em seu entendimento, farão a diferença. “O Marechal Plaza terá piso de granito, elevadores de última geração e até gerador para manter a normalidade durante eventuais quedas de energia” — exemplifica.

O novo centro de compras leva vantagem sobre o Shopping do Coração no espaço reservado a lojas. O projeto contempla três pavimentos que totalizam cinco mil metros quadrados de área bruta locável (ABL), enquanto o concorrente soma 1,9 mil metros quadrados em piso único. Serão 30 lojas, além de praça de alimentação com 10 opções. O concorrente também está melhor posicionado em relação ao estacionamento: serão 120 vagas, o dobro do Shopping do Coração.

Minimizando concorrência

Apesar dos mísseis apontados pelo Marechal Plaza, a gerente de Marketing do Shopping do Coração, Ioná Dourado, prefere adotar política da boa vizinhança. “Acredito que os dois empreendimentos vão se complementar e contribuir para atrair público de maior poder aquisitivo à Marechal” — contemporiza, sem deixar de dar uma estocada. “Que eu saiba eles não têm lojas de grife” — completa.

Com inauguração prevista para 10 de dezembro, a expansão projetada pelo Shopping ABC representa praticamente um novo centro de compras dentro do já existente. O espaço adicional de sete mil metros quadrados de área bruta locável é maior do que a soma das áreas reservadas para lojas nos shoppings Santo André, no centro, e do Coração. O Shopping Santo André tem 4,4 mil metros quadrados de ABL, pouco menos que os cinco mil metros quadrados do Marechal Plaza.

Com a ampliação, o maior centro de compras do Grande ABC vai consolidar liderança regional ao atingir 49 mil metros quadrados de ABL. A quantidade de lojas saltará de 300 para 320. “Vamos ampliar em 20% o movimento de um milhão de frequentadores por mês e em 15% as receitas com locação” — projeta Cláudio Bruni, presidente da Deico Desenvolvimento Imobiliário, responsável pelo planejamento, comercialização e administração do empreendimento que sobreviveu à perda do Mappin — a âncora que emprestava o nome no início.

Coelho da cartola

A nova ala comercial representa a retirada de um coelho da cartola porque proporcionará incremento substancial nas receitas com investimento relativamente baixo de R$ 14 milhões. A explicação reside no fato de a expansão tomar corpo em área ocupada por parte do estacionamento, sem necessidade de inversões financeiras vultosas em aquisição de terreno e construções.

Tanto é verdade que o novo espaço comercial seguirá padronagem diferenciada. O ambiente estrategicamente batizado de piso loft será mais simples, amplo e despojado, a exemplo dos apartamentos descolados que se tornaram moda principalmente na Capital paulista. Entre as 20 novas lojas que responderão pela criação de 150 empregos figuram marcas como Mix Móveis, Sugoi Big Fish (especializada em equipamentos náuticos e de pesca), Peg & Faça (dedicada a bricolagem e artigos para o lar do tipo faça você mesmo), um centro automotivo da rede Caçula de Pneus, além do pet shop 4 Zamppe. “Procuramos trazer novidades que complementam o mix, com especial predileção por opções voltadas ao universo masculino” — destaca Cláudio Bruni.

A conversão de parte do estacionamento em lojas não trará prejuízo às 2,8 mil vagas cobertas. A perda será compensada com uso mais racional dos espaços remanescentes. Aliás, estacionar se tornará mais cômodo porque o piso loft será acompanhado de implantação de modalidade vip com serviço de manobristas, facilidade encontrada em vários shoppings da Capital mas ainda inédita no Grande ABC.


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