O prefeito Luiz Marinho vai encerrar oito anos de mandatos em 31 de dezembro sem poder sustentar que a fábrica dos caças suecos Gripen será construída em São Bernardo. Mais que isso: já na condição de ex-prefeito que um dia imaginou fazer de São Bernardo gestão tão extraordinária que o catapultaria ao governo do Estado, Luiz Marinho deverá ouvir declarações públicas nada satisfatórias do comando da Saab. Há grandes possibilidades de a fábrica bater asas em outra direção.
A premissa de que São Bernardo assistiria a derrocada de mais uma das muitas promessas de Luiz Marinho no campo econômico está nas declarações do presidente da empresa sueca que ganhou a concorrência para abastecer a força aérea nacional. Numa entrevista na semana passada em Gavião Peixoto, Interior do Estado, Hakan Buskhe declarou que a Saab só vai anunciar no começo do ano que vem o local onde serão montados alguns dos 36 jatos Gripen encomendados pelo governo brasileiro em um negócio de US$ 4,7 bilhões.
Disse o presidente da Saab ao jornal Valor Econômico, única publicação que deu destaque à entrevista coletiva: “Estamos estudando os locais e vamos anunciar no começo de 2017”. Hakan Buskhe acabara de participar da inauguração do centro de desenvolvimento onde vão trabalhar os engenheiros da Saab e das parceiras brasileiras do projeto, lideradas pela Embraer.
Abandonando o barco
O que teria levado a Saab a provavelmente abandonar a ideia de construir a fábrica de estrutura metálica em São Bernardo? A escolha da Capital Econômica da Província já estava definidíssima. Quando um presidente da companhia sueca vem a público e afirma por linhas tortas que já não é São Bernardo o Município escolhido, algo teria ocorrido no meio do caminho. Ou no fim do caminho.
Os suecos têm razões para abandonar o barco dos petistas comandados por Luiz Marinho. Além de o cacife político-nacional do petismo ter despencado com o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a degringolada eleitoral, os riscos de o investimento entrar numa zona de turbulência investigativa seria calamitoso.
Em setembro do ano passado (mais precisamente em sete de setembro) escrevi um texto nesta revista digital que jamais foi respondido pelo prefeito Luiz Marinho. Sob o título “Sugestão a Marinho: convide-me para entrevista sobre caças Gripen”, coloquei o petista contra a parede da transparência de gestão que ele jamais praticou. Marinho é desses políticos que adoram bajuladores e detestam quem ousa lhe indagar sobre questões tratadas principalmente entre quatro paredes, embora o interesse público seja a matéria-prima principal.
Perguntas ao prefeito
Decidi levar ao prefeito de São Bernardo série de questões sobre os caças Gripen. Alertei, inclusive, que “a companhia sueca não quer se meter em enrascada porque tem reputação internacional a zelar”. Escrevi também que na Suécia o buraco é mais embaixo nos negócios entre instituições públicas e privadas. “Não há espaços para Petrolão” – reiterei.
Querem saber o que perguntei sobre a fábrica dos caças Gripen em São Bernardo? Então leiam:
1. Tem procedência a informação de que a área na qual seria construída a fábrica dos caças em São Bernardo já foi escolhida e adquirida?
2. Quem eram os proprietários dos terrenos supostamente na cara do gol do trecho sul do Rodoanel ou da Rodovia dos Imigrantes?
3. Como se efetivou a compra do espaço e quais as condições financeiras envolvidas?
4. Qual a participação do advogado Edson Asarias na aquisição da área?
5. Quem serão os sócios do projeto Gripen em São Bernardo?
6. Qual é a participação societária da companhia sueca na área?
7. Conferem as informações de bastidores de que uma das subsidiárias da Inbra -- empresa relacionada a produtos de segurança com fortes relações com as Forças Armadas -- cederia a anunciada sociedade com a Saab em favor de um empresário que representaria interesses do Partido dos Trabalhadores no negócio?
8. Como o prefeito encara a informação que coloca a Saab em polo oposto ao da configuração inicial de participação de um sócio brasileiro sem aporte de recursos financeiros equivalente aos valores programados para a execução do projeto? Traduzindo em miúdos: tem sentido a informação de que o sócio brasileiro da fábrica do Gripen em São Bernardo quer 40% das ações sem o correspondente aporte financeiro, por conta de injunções politicas?
9. Qual o motivo que moveu o prefeito a contar com a companhia do advogado Edson Asarias em várias viagens internacionais que trataram do filão da indústria de defesa no Brasil?
10. Não teria sido imprudente o prefeito ao contar com a companhia de um profissional que exercia à época atividades profissionais no Grupo Inbra, supostamente beneficiário das negociações iniciais de parceria com a Saab no empreendimento em São Bernardo?
11. Qual é o grau de veracidade de informações que dão conta de que, por influência política do Paço de São Bernardo, o advogado Edson Asarias firmou contrato de consultoria com a empresa sueca?
12. A Saab teria sido informada sobre a atuação do advogado Edson Asarias nos bastidores da administração pública de São Bernardo?
13. Há encaixe de verdade nas informações que dão conta de que a proximidade entre Edson Asarias e a Administração da Prefeitura de São Bernardo teria alguma semelhança com a atuação de Paulo César Faria durante o breve e corrupto governo Collor de Mello?
14. Dá-se como certo que as relações institucionais entre a Prefeitura de São Bernardo e a Saab não seguiriam o ritual de parceiros ideais justamente por conta de distorções sobre a participação de terceiros no capital social da empresa que atuaria em São Bernardo. Existe fundamento nessa espécie de ruptura branca?
15. Por que nos últimos meses o prefeito não se tem manifestado sobre o projeto Gripen, em situação contrastante com o passado imediatamente anterior? Haveria nessa fuga de informações a raiz de credibilidade de que o projeto faz água?
Fugindo do perigo
Recomendo aos leitores que releiam todos os pontos que abordei no material enviado ao prefeito de São Bernardo. É claro que Marinho deu ordens aos assessores de comunicação para não se manifestarem sobre o que foi chamado nos bastidores do Paço Municipal de São Bernardo de “petulância desse jornalista”. A reação era mais que esperada.
Para ser franco com os leitores (até porque tentativas anteriores de ouvir o prefeito deram com os burro nágua) não tinha expectativa de ser atendido. As perguntas foram formuladas, confesso, no sentido de que um conjunto de informações convergentes caracterizava a frouxidão de o Gripen gerar uma fábrica em São Bernardo. O posterior agravamento da situação no campo politico-institucional não teria sido relevado pela Saab.
Sei que sei que a Saab dificilmente se manifestará sobre o mais que provável descarte de São Bernardo do mapa de investimentos no Brasil. Há fortes concorrentes que tornam improdutivas todas as negociações de terceiros não identificados que correram para adquirir a área onde seria erguido o empreendimento industrial. O monitoramento do ambiente politico e econômico no Brasil e particularmente dos rescaldos eleitorais que colocaram o Partido dos Trabalhadores fora do eixo de decisões nacionais, estaduais e municipais na Província do Grande ABC é uma das especialidades de empresas que prestam serviços a companhias internacionais. Na Saab não deve ser diferente.
Mão na cumbuca
Quem arriscaria botar a mão na cumbuca de uma São Bernardo completamente desfigurada como ambiente de interesse do investimento também porque há informações que dão como certo o desembarque de forças federais da Lava Jato nesta Província, assim que os figurões da República e os arrombadores dos cofres das estatais forem devidamente engaiolados.
Não acredito que o prefeito eleito de São Bernardo, o tucano Orlando Morando, vá se meter nessa encrenca. E tampouco que o governador do Estado, Geraldo Alckmin, engrossaria eventual coro em defesa da fábrica dos caças Gripen em São Bernardo. Há razões político-eleitorais de sobra a afastar essa alternativa. Os tucanos não querem e não farão esforços para buscar saída que recuperaria o fôlego locacional de São Bernardo. A medida favoreceria o discurso do petismo, especialmente de Luiz Marinho.
Dá-se como certo, portanto, que a roupagem enigmática que cercou a declaração do presidente da Saab em Gavião Peixoto foi uma maneira diplomática de dizer que São Bernardo está mesmo excluída.
Quando o representante dos caças suecos reunir a Imprensa no ano que vem para anunciar o Município que sediará o investimento teremos a configuração de uma decisão sensata ou um desafio de os suecos se meterem numa senhora encrenca?
É claro que a senhora encrenca está nas 15 questões enviadas ao prefeito Luiz Marinho.
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