O início do ano é tradicionalmente fraco para o comércio, mas o Grande ABC registrou intensa agitação no universo dos shoppings centers: o Golden Shopping de São Bernardo anunciou âncora para tentar se reerguer das cinzas, o prédio do Best Shopping, também no Município, renova esperanças de encontrar nova ocupação e o Shopping ABC, de Santo André, inaugurou o aguardado piso loft dedicado a lojas em tamanho família. Mas nem só de boas notícias vive o glamouroso segmento das passarelas vitrificadas. O Marechal Plaza Shopping enfrenta dificuldades flagrantes, contrariamente às perspectivas otimistas na inauguração há pouco mais de um mês.
A informação de que a Dicico preenche três mil metros quadrados do Golden Shopping a partir da segunda quinzena de fevereiro é animadora para o empreendimento que teve dias de glória nos anos 90 mas sucumbiu ao acirramento da concorrência catapultada pela ampliação do Shopping Metrópole. A chegada da megarede de materiais para construção ao primeiro piso representa providencial sopro de esperança para os poucos lojistas que resistiram à deserção.
Se parcela expressiva dos R$ 300 milhões faturados pela Dicico no ano passado for absorvida pela nova loja é possível que o Golden espante o obituário e engate marcha da recuperação. A expectativa dos administradores é que o festejado inquilino gere fluxo suficiente para atrair novos lojistas, e, consequentemente, consumidores.
Best tem esperança
Esperança semelhante é cultivada pelos proprietários do prédio do Best Shopping, empreendimento que foi a pique em 1999, 12 anos após início das atividades. O prédio de 8,5 mil metros quadrados pode começar a ressuscitar ainda no primeiro semestre deste ano se ao menos um entre vários planos for concretizado: universidade, shopping oriental, maior aquário do Brasil e centro automotivo são algumas das possibilidades em negociação.
O piso loft do Shopping ABC foi inaugurado em 20 de janeiro com sete lojas das 15 previstas no projeto. Já o Marechal Plaza Shopping, de São Bernardo, amarga ociosidade superior a 60%, transcorrido mais de um mês da inauguração.
Apesar desses escorregões que, à primeira vista, sinalizam mercado mais espinhoso que o levado em conta nos planejamentos, duas diferenças estabelecem divisão clara nas condições de competitividade dos empreendimentos: o novo espaço do gigante Shopping ABC chegou incompleto, mas já dispõe de nomes engatilhados para ocupar a maior parte das áreas remanescentes. Já o pequenino Marechal Plaza não emite sinais claros de que a situação visivelmente delicada possa ser radicalmente transformada em curto prazo.
Salto adicional
Além disso, o piso loft significa salto adicional de empreendimento consolidado, com mais de 300 lojas e âncoras como C&A, Casas Bahia, Lojas Americanas, Renner e Riachuelo. Foi inaugurado em 20 de janeiro com oito espaços vazios e a complementação do mix é só questão de tempo, pouco tempo. “As lojas que faltam vão chegar em março” — assegura o superintendente Antonio Carlos Ferrite Sampaio, que confirma a presença da Arte do Oriente, Fragrance, Pelli & Capelli, Drogão, Comodoro Presentes e Tok & Stok. Essas marcas vão compor a nova ala com Peg & Faça, Sugoi Big Fish, Nivaldir, Café do Loft, Mix Móveis, ABC Dog e Caçula de Pneus, todas com as portas já abertas. Assim como as oito lojas retardatárias, o estacionamento vip com serviço de manobristas também deve entrar em operação apenas em março.
As novidades do Shopping ABC somam 7,5 mil metros quadrados de ABL (Área Bruta Locável) e elevam para 49 mil metros quadrados o total de área de vendas, patamar que consolida o empreendimento como o maior da região e um dos principais do País. O piso loft representa um shopping dentro do shopping. O espaço adicional de vendas é maior que a soma das áreas do Shopping do Coração, de São Bernardo, e do Shopping Santo André.
O tamanho das lojas é uma das principais diferenças do loft em relação aos demais pisos do Shopping ABC. A Sugoi Big Fish reúne 30 mil itens nas áreas de pesca, náutica, camping e turismo, de iscas artificiais e canivetes a motores de popa e botes infláveis. Igualmente superlativa é a Nivaldir, que vende de cine, foto e som a utilidades domésticas, presentes, brinquedos e artigos de informática e papelaria. São 12 check-outs (caixas) para agilizar o atendimento.
Simplicidade enriquecida
Simplicidade das instalações é peculiaridade dos lofts residenciais que os empreendedores do Shopping ABC procuraram transferir com pioneirismo à seara dos templos de consumo. Mas o conceito foi suavemente subvertido em benefício dos consumidores: pisos vitrificados com desenhos de peixes dão tom de sofisticação ao ambiente que ainda conta com aquário de seis metros de largura como vitrine na Sugoi Big Fish.
A inauguração do piso loft estava prevista para 12 de dezembro, mas atrasos nas obras levaram a administradora Deico a postergar a abertura. Assim, não foi possível aproveitar as vendas de dezembro, tradicionalmente o melhor mês para o comércio.
Marechal vulnerável
Caminho diferente foi escolhido pelo Marechal Plaza Shopping. Na ânsia de não perder faturamento irrigado pelo pagamento do 13º salário e o empuxo das vendas natalinas, os empreendedores autorizaram abertura com pequena parcela de lojas em operação em meados de dezembro. A ociosidade permanece alta.
A praça de alimentação do Marechal Plaza conta com apenas uma cafeteria. Há sete espaços à espera de interessados. Nas demais dependências do empreendimento instalado a apenas 100 metros do Shopping do Coração, o balanço é menos dramático, mas ainda insatisfatório. Praticamente metade dos 30 módulos dos dois pisos está desocupada. O estudo de viabilidade comercial e a administração do Marechal Plaza estão a cargo da paulistana Cia. Bandeirantes, contratada pela grupo proprietário WS Lazzuri.
Ociosidade preocupa
A ociosidade do mais recente centro planejado de compras de São Bernardo é preocupante na medida em que se insere em cenário regional repleto de mortos e feridos — como o Golden ávido por recuperação. No córner oposto de exemplares consolidados como Shopping ABC, ABC Plaza e Metrópole se encontram oponentes nocauteados como o Best Shopping, além de empreendimentos que buscaram saída ao se transformarem em centros de serviços, como o Shopping São Caetano e o Green Plaza, de Mauá.
O valente e tradicional Shopping do Coração continua firme em São Bernardo assim como o novato, porém bem estruturado, Mauá Plaza Shopping, pertencente ao Grupo Peralta.
O Shopping Santo André, instalado desde 1990 no centro da cidade, teve relativa recuperação. Em novembro do ano passado amargava um terço de ociosidade até que força-tarefa encabeçada pela administração e pela associação de lojistas se mobilizou para amenizar o quadro. O pavimento inferior com entradas pelas ruas Álvares de Azevedo e Elisa Fláquer continua com praticamente metade dos espaços vagos, mas o superior com acesso pelo calçadão comercial da rua Coronel Oliveira Lima ganhou novas opções e está quase completamente preenchido.
As dificuldades enfrentadas pelos empreendimentos de menor porte parecem não amainar o ímpeto de grupo de investidores brasileiros e estrangeiros decidido a tirar do papel o primeiro shopping de Diadema. O projeto para o centro da cidade prevê 89 mil metros quadrados de área construída com 220 operações entre lojas, salas de cinema, opções de alimentação e salas de serviço público. Demandará desembolso de R$ 80 milhões e só depende de autorização da Prefeitura para ser construído a partir de maio.
A viabilidade comercial de megashopping na cidade que ocupa a 64ª posição do ranking de potencial de consumo per capita do IEME (Instituto de Estudos Metropolitanos) foi colocada em xeque por representantes do comércio local. O presidente da Acid (Associação Comercial e Industrial de Diadema), José Manuel Vieira de Mendonça, teme que a chegada do centro de compras possa aprofundar ainda mais as dificuldades do comércio de rua, além de considerar que o shopping ocupará espaço comercialmente inviável no centro da cidade. Uma avaliação contestada pelos investidores.
A Prefeitura de São Caetano não se intimida com o desabamento do shop ping homônimo. Tanto que pretende atrair investidores para materializar projeto de centro de compras conectado à estação rodoferroviária. A intenção expressa de manter nos limites do próprio território os rendimentos amealhados pelo conjunto de 140 mil habitantes colide com a realidade explicitada por Raul Marcondes Furlan, administrador do antigo shopping convertido em centro de serviços para driblar a escassez crônica de consumidores. “Pesquisas indicaram que os moradores de São Caetano costumam frequentar shoppings da Capital em vez de consumir na própria cidade” — explicou o executivo, sobre a mudança de rota. Quem aposta que o empreendimento de perfil popular projetado pela Prefeitura pode reverter essa tendência?
Paradoxo
Pesquisa realizada pelo Instituto Brasmarket com exclusividade para o Diário do Grande ABC e LivreMercado revela paradoxo intrigante. Embora a região conte com shoppings em profusão, quase um terço dos consumidores ouvidos demonstraram preferência por centros de compras além dos limites do Grande ABC. Diante da pergunta Qual é o shopping que você considera como sendo o melhor da Grande São Paulo?, 30,3% dos entrevistados apontaram opções da Capital.
A lacuna qualitativa aferida pelo levantamento corrobora a tese de que empreendimentos regionais como Best e Golden Shop-ping de São Bernardo sucumbiram principalmente por conta da fragilidade inerente ao sistema de múltiplos proprietários — em contraste com administração independente em vigor nos melhores do ramo — e não apenas pelo acirramento da concorrência.
As cidades que contabilizam os maiores exércitos de consumidores seduzidos por shoppings da Capital são São Caetano e Diadema. Em São Caetano 51,7% dos entrevistados apontaram centros de consumo de São Paulo como melhores. Em Diadema o índice de 58,6% é ainda mais expressivo. O recado está dado: há uma lacuna de comércio planejado a ser preenchida por moradores da região e sobretudo dessas duas cidades, mas o desafio é enorme porque as expectativas estão sintonizadas nos melhores da categoria.
Entre os moradores de São Bernardo desponta o dado mais animador. Apenas 14,4% dos entrevistados lembram de shoppings paulistanos e 32,3% apontam o Metrópole como o melhor da Grande São Paulo.
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