Economia

Pequenos vão à
luta no exterior

WALTER VENTURINI - 10/02/2005

Dificilmente uma pequena empresa de autopeças do Grande ABC teria condições de montar departamento de comércio exterior e divulgar produtos em feiras internacionais. Essa constatação de ordem econômica foi o caldo de cultura que levou seis empresas do Grande ABC a aderirem à ATA (Autoparts Technologies Alliance), consórcio de exportação que serve de modelo para empreendedores dispostos a colocar produtos fora do Brasil. 


Altwin Eletric (Ribeirão Pires), Prats (Santo André), Presstécnica (São Bernardo), Proxyon (São Bernardo), Soumetal (São Caetano) e Tila (Diadema) são as representantes regionais do grupo de nove empresas que colhe os primeiros resultados das ainda raras iniciativas de associativismo industrial que saem do papel na região. Em um ano foram 10 participações em feiras internacionais de negócios, nove das quais fora do País.


A ATA é o primeiro consórcio de exportação de pequenas e médias empresas brasileiras tutelado pela Apex (Agência de Promoção de Exportações do Brasil) e reúne além das fábricas do Grande ABC, a Plimec (Hortolândia), Luciflex (Bragança Paulista) e Açopeças (Guabiruba, Santa Catarina). A agência patrocina mais de 200 consórcios em todo o País. Todos os integrantes da ATA são fornecedores de montadoras e sistemistas e empregam cerca de 1,2 mil funcionários. 


Vasta clientela 


Entre os clientes nacionais das filiadas estão General Motors, Volkswagen, Fiat, DaimlerChrysler, Scania, PSA, Renault, Honda, Toyota, Volvo, Magneti Marelli, Dana e Delphi, maior sistemista do mundo.


“As feiras setoriais são o ponto de partida do nosso trabalho” — afirma Geraldo Celso Feo Nunes, gerente comercial da ATA, pós-graduado em comércio exterior nos Estados Unidos com passagem pelo departamento de Comércio Exterior da Cofap, Eletromecânica Dina, Arteb, NWO e OIM, editora que publica o mais credenciado catálogo de exportação do Brasil. 


A participação individual em uma feira como a Automechanika, em Frankfurt, a maior do mundo no setor de autopeças, não sai por menos de US$ 10 mil, quantia acima das possibilidades de investimento de empresas de pequeno e médio porte. “Só a diária de um hotel três estrelas na cidade é de 280 euros” — conta Geraldo Nunes. Os participantes da ATA, no entanto, têm despesas de viagem e custos com material de divulgação assumidos pela Apex, que cumpre papel prospectivo semelhante ao dos governos da China e da Turquia no incentivo às exportações.


Estrutura enxuta


A estrutura do consórcio é enxuta. Além de Geraldo Nunes, outros dois técnicos trabalham em escritório no Centro de São Caetano e dão orientação às empresas. O gerente comercial conta que a ATA tem cerca de 60 negociações em curso com clientes internacionais. “Como somos fornecedores de componentes para montadoras e sistemistas, não temos o produto no balcão. Entre promover, receber o pedido, embarcar e receber, o processo é longo, de um ano e meio a dois anos. Por isso, precisamos de mais algum tempo para fazer um balanço de nosso desempenho” — argumenta Geraldo Nunes. A participação das exportações no faturamento das empresas varia de 5% a 15%.


O executivo avalia que o País precisa aprimorar mecanismos de exportação. “Fala-se que o Brasil é competitivo. É verdade, mas no nosso segmento a concorrência é fortíssima com países como a China, a Índia e a Turquia. É uma disputa feita junto a clientes que não nos conhecem” — lembra Geraldo Nunes. Por isso, as empresas da ATA sequer podem admitir falhas nas certificações ISO 9000, QS 9000, TS 16949 e ISO 14000. Os concorrentes chineses e turcos, por exemplo, têm o mesmo grau de qualidade.


Para colocar as empresas brasileiras em melhor posição na arena da concorrência global, o gerente da ATA avalia que ainda é preciso fazer algumas lições de casa, como reduzir despesas de exportação. “O custo dos portos no Brasil é caro, mas existe esforço do governo para racionalizar o transporte. Em alguns casos, o custo de enviar carga até Santos é o mesmo do deslocamento para a Argentina. Mas agora já conseguimos negociar fretes em melhores condições” — conta Geraldo Nunes. Porém, a agilidade dos chineses na hora da negociação ainda incomoda o executivo. Ele revela que as empresas asiáticas conseguem responder a pedidos de cotação de preço em 48 horas. Quase metade do tempo gasto pelos concorrentes.


A ATA foi criada justamente para fazer frente às disparidades da economia brasileira; principalmente o fato de pequenas e médias empresas nacionais estarem alijadas do mercado internacional. A iniciativa surgiu após a discussão dos consórcios de exportação terem sido incluídos na ordem do dia em 2000, a partir da gestão da ex-ministra Dorothéa Werneck na Apex, ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A ATA é responsável pela fase da negociação, mas também orienta em operações de embarque. “Nessa área, damos idéias, mas não fazemos o gerenciamento. Somos um escritório de promoções e vendas” — explica Geraldo Nunes. 


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