Minha sugestão aos leitores é que se sentem antes de tomarem conhecimento de dados inéditos que vou expor. Se os leitores têm preocupação com o futuro da região, já que não é mais possível alterar o passado, então a cautela deve ser redobrada. É melhor passar a mão numa poltrona, geralmente mais macia.
Perdemos como região deste 1970 -- ano em que o Brasil foi tricampeão mundial e contávamos com 90 milhões de habitantes -- metade da importância que tínhamos no PIB Nacional. São 51,77% de destroços. Não pensem que muitos outros municípios com os quais concorremos no G-22, o grupo dos 20 maiores endereços do Estado, além de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra e exceto a Capita, passaram pelo mesmo transtorno.
Sofremos no G-22 quase que isoladamente os efeitos macroeconômicos e microeconômicos. Não nos preparamos para o futuro que chegou em forma de presente e teimamos, como se sabe, em subestimar o futuro que haverá de chegar. Nossa capacidade de postergar soluções econômicas é semelhante à teimosia em acreditar que tudo se resolverá num passe de mágica por conta de fluídos de glórias passadas. Nada mais imbecilizado.
Futuro próximo pior
A última vez que medimos as perdas do PIB da região a partir da base de 1970 foi numa Reportagem de Capa da revista LivreMercado em 2001. Capturamos naquele estudo o desastre entre 1970 e 1996. Retomamos agora a medição de um período mais extenso. Começa de novo em 1970 e se encerra em 2014, cujos dados são os mais atualizados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Quando 2015 e 2016 chegarem, tudo será ainda mais dramático. Caímos pelas tabelas nas duas últimas temporadas como poucas localidades no País.
São, por enquanto, 44 anos de uma maratona que não deixa dúvida sobre os danos colaterais da desindustrialização provocou ao conjunto de moradores da região.
Produto Interno Bruto conta com série de restrições avaliativas, segundo os especialistas, mas é semelhante à democracia para o sistema político: não se conhece nada melhor para aferir o que se passa nos municípios quando o assunto é geração de riqueza.
A maior dificuldade para retratar em valores monetários as perdas e os ganhos no PIB Nacional foram muitas trocas de moedas metralhadas pela inflação. Mas o essencial não sofre avarias de fundamentação e credibilidade: a participação relativa no bolo nacional emite sinais claríssimos de quem ganhou e de quem perdeu. E nós, Província do Grande ABC, apanhamos muito.
Apenas Diadema se salva
Dos sete municípios da região apenas e concretamente o único que aumentou participação no PIB Nacional foi Diadema. Em 1970 o Município que elegeu seguidamente candidatos do Partido dos Trabalhadores contava com 0,167% do PIB Nacional. Em 2014, subiu para 0,242% -- avanço de 15,68%. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra têm participação inexpressiva nas duas pontas do novelo de complicações e por isso mesmo os números pouco importam. Se Ribeirão Pires não passa de 2,00% e Rio Grande da Serra de 0,2% do PIB Regional, o que significaria cada Município e mesmo os dois juntos quando o PIB Regional no bola do PIB Nacional mal ultrapassa a 2,00%? Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra estão no seletivo agrupamento do G-22 para completar o time regional, que conta com cinco participantes.
Por conta disso é melhor se preparem para os dados do trio de ferro enferrujado da região -- Santo André, São Bernardo e São Caetano. Antes, disso, claro, tem Mauá, cuja participação nacional é semelhante à de Diadema. Mauá caiu de 0,320% para 0,205%, com perda relativa de 35,93% nos 44 anos. O Polo Petroquímico carrega Mauá nas costas de enriquecimento do PIB. Tanto quanto a indústria automotiva em São Bernardo.
São Caetano lidera perdas
De onde, então, explodiram os 51,77% perdidos pela Província do Grande ABC no PIB Nacional entre 1970 e 2014? A maior parcela foi retirada de São Caetano, que caiu 69,20%. Depois vem Santo André, com queda de 62,40%. São Bernardo é o terceiro na escala regional com 48,47% no período. Como o peso da economia de São Bernardo é bem maior que o de Santo André e de São Caetano, mesmo perdendo relativamente menos, o prejuízo foi bem maior.
A participação relativa do PIB de São Bernardo no PIB da Província do Grande ABC em 1970 era de 36,94%. Na ponta da pesquisa, em 2014, passou a 39,49%. Ou seja: praticamente não se moveu -- mesmo perdendo relativamente menos que Santo André e São Caetano no período. No caso da Capital Econômica da região, menos pode significar mais. Ou mesmo empate técnico. Qualquer reação de São Bernardo no PIB Nacional tem potencial de recuperar o PIB Regional.
Do G-22, apenas dois municípios fora da Província do Grande ABC registraram perda. Santos é segunda colocada no geral, com queda do PIB de 67,55%. Portanto, só perde para São Caetano. Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana de São Paulo, caiu 15,68%.
A origem dos novos cálculos que atualizam a movimentação do PIB dos municípios mais importantes do Estado de São Paulo foram os dados publicados na revista LivreMercado do começo deste século passado. Ali, com apoio de um parceiro de muitas jornadas, o empresário Marcos Pazzini, dirigente da Consultoria IPC Marketing, especializada em potencial de consumo, fizemos um ranking que uniu as pontas dos anos 1970 e 1966. Os valores foram traduzidos em dólares de 1998.
O lado oposto da região
Transportar e atualizar aquela metodologia para 2014, extremo da medição do PIB dos Municípios, foi uma jornada sem atropelos. Fixamo-nos no percentual relativo de participação de cada Município. Por isso que, mais que valores monetários, em dólar ou em Real, o que interessa nesse novo estudo é o quanto cada Município respondeu no PIB Nacional. Vem daí, portanto, a conclusão geral da derrocada da Província do Grande ABC.
Durante quase esse meio século mudou-se tanta coisa na economia paulista que, mesmo os chamados especialistas, não deixaram de cair do cavalo das limitações interpretativas. Querem um exemplo? Quantos economistas e consultores não cansaram de afirmar em meados da última década do século passado que a Região Metropolitana de São Paulo estava fadada a grandes perdas econômicas por conta de uma expressão que eles utilizaram à exaustão: “deseconomia de escala”. Era com esse esnobismo linguístico que eles procuravam justificar, quando não a colocar panos quentes, nos contínuos vazamentos da economia da Província do Grande ABC.
Numa tradução simples e objetiva, o que os especialistas queriam dizer -- e diziam com certeza dos intocáveis -- é que não deveríamos nos preocupar com a retirada das indústrias. Não seria possível fazer nada em contrário e, além do mais, ganharíamos em qualidade de vida com a debandada de chaminés.
O conceito destruidor de deseconomia de escala valeu para a Província do Grande ABC. De fato, o rebaixamento da qualidade de vida em forma de trânsito caótico, poluição, caos habitacional, segurança pública depauperada e tantos outros fatores afastaram os investimentos produtivos. Nesse ponto, os acadêmicos acertaram em cheio.
Entretanto, foi um gol que nada valeu em forma de teoria econômica. Do outro lado da Província do Grande ABC, à Leste e a Oeste da Grande São Paulo, com Guarulhos, Barueri e Osasco, além do entorno de municípios, deu-se o contrário: o PIB aumentou substantivamente. Boa parte dessa riqueza saiu da Província para jamais voltar. E também saiu da própria Capital do Estado, vizinha de todos esses municípios e âncora maior do PIB Paulista.
Liderança derretida
Quando 1970 terminou e foi possível medir o tamanho do PIB Nacional, os três municípios à Leste e à Oeste da Região Metropolitana de São Paulo contavam com participação relativa de 1,170%. O PIB de então da Província do Grande ABC era 286% superior. Já na ponta extrema de 2014, o PIB de Barueri, Osasco e Guarulhos superava o da Província do Grande ABC em 29,86%.
Enquanto a Província caia de 4,520% para 2,180%, Barueri, Guarulhos e Osasco subiam 141,96% para 2,831% do PIB Nacional. O contraste entre os dois blocos de municípios tão próximos condensa as intempéries logísticas e ambientais, entre tantas outras, da Província do Grande ABC para absorver investimentos produtivos -- ao contrário do que poderia ser chamado de G-3 Metropolitano.
Sempre no período de 44 anos, Osasco teve participação no PIB Nacional aumentada em 68,41% (o índice de 0,511% de 1970 subiu para 1.061% em 1970), Barueri cresceu exatamente 2.793,10% ao partir de participação relativa de 0,003 em 1970 para 0,839% em 2014, enquanto Guarulhos avançou 47,77%, ao registrar 0,630 em 1970 e 0,931 em 2014.
Em termos monetários, a Província do Grande ABC anotou em 2014 o PIB de 120.188.959 bilhões, contra R$ 156.107.675 bilhões da soma de Osasco, Guarulhos e Barueri. É essa soma que representa 2,831% do PIB Nacional. E é a soma dos sete municípios da região que significa 2,180% do PIB Nacional. Caso a Província do Grande ABC mantivesse em 2014 a participação no PIB Nacional de 1970, o valor seria de R$ 249.560.744 bilhões – ou seja, o PIB Nacional de R$ 5.521.256 trilhões multiplicado pela participação regional de 4,520%. Para ser mais preciso ainda: a Província do Grande ABC sofreu impacto de R$ 129.371.785 bilhões ao derreter a participação relativa no PIB Nacional. Diferente de Osasco, Guarulhos e Barueri que, em conjunto, obtiveram ganho de R$ 91.708.062,56 bilhões ao aumentarem participação relativa de 1,170% para 2,831% do bolo nacional.
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