Economia

Cotação imobiliária
é reflexo da riqueza

ANDRE MARCEL DE LIMA - 27/07/2005

O poder aquisitivo dos moradores de São Caetano é diretamente proporcional à valorização imobiliária: o preço médio dos imóveis é consideravelmente mais elevado do que nas demais cidades do Grande ABC e atinge patamar de bairros paulistanos de alto nível como Vila Mariana, Aclimação, Campo Belo, Saúde e Chácara Klabin. 

A constatação ao alcance de qualquer leitor de anúncios classificados de jornal é confirmada por Aparecido Viana, empresário do ramo imobiliário responsável por boa parte dos lançamentos no Município. “O custo por metro quadrado construído em São Caetano varia de R$ 2 mil a R$ 4 mil, dependendo do bairro e das características do empreendimento. Um apartamento novo de 66 metros quadrados no Bairro Santa Paula é cotado a R$ 165 mil, valor suficiente para aquisição de imóvel muito maior em bairros de padrão semelhante em São Bernardo e Santo André. A diferença é tão grande que imóveis usados chegam a valer mais que similares novos em outras cidades da região” — explica o empresário.  

O descolamento da realidade imobiliária do Grande ABC tem algumas explicações claras. Em primeiro lugar desponta a exiguidade territorial. Com apenas 15 quilômetros quadrados — tamanho do aeroporto de Cumbica — São Caetano é como pequenos frascos de perfume que valem na proporção inversa de quanto pesam. “Como a oferta de áreas para construção é reduzida, os poucos terrenos disponíveis atingem preços mais altos e puxam para cima o custo dos produtos” — observa Aparecido Viana.

Valores agregados  

Tão ou mais importante que a apreciação na contramão da disponibilidade é a valorização como resultado de atributos tangíveis e intangíveis associados à São Caetano. Campeã nacional do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU (Organização das Nações Unidas), bem cuidada do ponto de vista urbanístico e paisagístico, além de livre de favelas que mutilam os centros urbanos, a cidade assume ares de produto especial na prateleira do supermercado imobiliário metropolitano.  

Assim como apaixonados por carros aspiram uma BMW e amantes de relógios sonham com um Rolex, morar em São Caetano é sinônimo de status, estilo e qualidade de vida para muita gente. “São Caetano é o que se pode chamar de sonho de consumo residencial” — sintetiza Aparecido Viana. 

Ele afirma que apenas 10% de casas e apartamentos lançados pela imobiliária que administra na cidade são adquiridos por clientes em busca do primeiro teto. Significa que 90% da carteira vão morar na cidade depois de ter vivido em imóveis próprios localizados em outros municípios. “A primeira moradia normalmente é escolhida com base em critérios exclusivamente financeiros. Os proprietários compram onde o bolso permite. Conforme o tempo passa e se tornam financeiramente estáveis, tendem a procurar imóvel com base no que realmente gostam, levando em conta principalmente a localização. Por isso é tão pequeno o contingente de primeiros proprietários e tão esmagador o percentual dos que viviam em outros locais e se mudaram para São Caetano” — explica Aparecido Viana.  

Os imigrantes, como ele chama de forma bem humorada, não vêm apenas de outras cidades do Grande ABC, mas de bairros paulistanos próximos como Mooca, Vila Prudente e Ipiranga. Nesse ponto, chega-se ao terceiro vértice que converte São Caetano em produto imobiliário premium, ao lado da escassez territorial e da alta cotação da marca municipal construída ao longo de décadas: a localização. A cidade encravada entre Santo André e São Bernardo usufrui de proximidade com a Capital. “É o que no jargão do setor chamamos de centro de região” — conclui Aparecido Viana. 

Com tantos apelos, não causa surpresa o fato de algumas das maiores incorporadoras do País orientarem a bússola de investimentos para a cidade. Como a paulistana Setin, que acaba de lançar o edifício Unique com apartamentos de R$ 470 mil no Jardim São Caetano, tradicional reduto de mansões. 

Presenteada pela fábrica da General Motos, pela sede nacional das Casas Bahia e geograficamente blindada à explosão demográfica de décadas passadas, São Caetano continua abençoada por ciclo virtuoso que lembra o dilema de Tostines: a seletividade do mercado imobiliário atrai público mais aquinhoado que torna a cidade mais rica e desejada.



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