Cercado pelos gigantes Shopping ABC e ABC Plaza, instalados a menos de mil metros, o Shopping Santo André comemora a chegada de aliado valioso na luta pela sobrevivência: a Lojas Americanas vai aterrissar no piso térreo com unidade de 1,5 mil metros quadrados. Obras de infra-estrutura estão em fase avançada e a inauguração está prevista para meados de novembro — a tempo de aproveitar a maré alta do Natal. “Foram dois anos de negociações até a assinatura do contrato, mas valeu a pena. A Americanas está de volta ao centro da cidade” — comenta o administrador Milton Collavini.
A afirmação do executivo é carregada de significado. A loja que a Americanas manteve por muitos anos no calçadão da Oliveira Lima atraia batalhões de consumidores e pontificava como espécie de símbolo do vigor da área central. O fechamento há cerca de seis anos foi igualmente sintomático da decadência do comércio a céu aberto no embate com grandes shoppings que polarizaram consumidores mais exigentes e de maior poder aquisitivo num contexto de perdas econômicas geradas pela desindustrialização.
Coincidência ou não, a Americanas volta ao centro de Santo André em momento econômico favorável já que, nos últimos dois anos, o Grande ABC recuperou quase 14% dos 39% de Valor Adicionado evaporados no governo Fernando Henrique, reduzindo para 25,75% o débito nos últimos 10 anos.
Esquinas opostas
A relativa recuperação irradiada principalmente das exportações automotivas não subverte o quadro de apartheidização que coloca comércio de rua das áreas centrais e grandes shoppings — ABC, ABC Plaza e Metrópole, em São Bernardo — em esquinas opostas em relação ao perfil do consumo. No espaço que já foi ocupado pela Americanas na Oliveira Lima está instalada a Mundial Calçados, uma das poucas lojas do calçadão que oferecem variedade de produtos à metade superior da pirâmide social.
Assim como a Marechal Deodoro, principal eixo comercial de São Bernardo, o calçadão é predominantemente ocupado por estabelecimentos com produtos de baixo valor agregado. São lojões de bancada, lojas que oferecem produtos por R$ 1 e centros de boxes que aglutinam dezenas de comerciantes em espaços reduzidos.
O outro significado latente da observação de Milton Collavini, ao lado do reaquecimento do comércio popular simbolizado pela chegada da Americanas, é a constatação de que o Shopping Santo André é observado pela administração como extensão do centro da cidade. “O Shopping Santo André está acoplado à rua e alinhado à necessidade de oferecer produtos mais acessíveis que os encontrados nos grandes shoppings” — considera Collavini. Ele lembra que o calçadão registra fluxo diário de 80 mil consumidores potenciais e, desse total, cerca de quatro mil visitam o Shopping Santo André, que também tem entradas pelas ruas Álvares de Azevedo e Elisa Fláquer.
A estratégia de identificação com o entorno é semelhante à adotada pelo Shopping do Coração, que também moldou o mix ao perfil do centro de São Bernardo e oferece acesso tanto pela rua Marechal Deodoro quanto pela Faria Lima. Já o concorrente Marechal Plaza parece viver crise de identidade. Está encravado no centro predominantemente popular, mas acena com instalações sofisticadas dignas dos maiores shoppings da região, embora em dimensões compactas.
A simbiose entre o Shopping Santo André e a região central é a explicação, inclusive, para a cobrança de estacionamento, que tanta polêmica causa nos últimos meses. “Se não cobramos, corremos risco de não ter vagas para clientes, porque muita gente que trabalha nas imediações se sentiria à vontade para deixar o carro aqui” — afirma Collavini.
A argumentação, ao ser invertida, é favorável ao shopping: as receitas com o estacionamento bem localizado certamente configuram contribuição providencial ao caixa. Afinal, conforme explica Collavini, as 260 vagas fixas representam, na prática, 2,6 mil vagas rotativas, pela média de uma hora de permanência ao longo de 10 horas diárias. Fonte de recursos que até foi aperfeiçoada com implantação de sistema eletrônico comum nos gigantes da categoria. Diferentemente dos grandes concorrentes, entretanto, no Shopping Santo André a maioria das 90 lojas oferece selos que isentam consumidores de pagamento de estacionamento a cada R$ 10,00 em compras.
O Shopping Santo André precisou de intervenções físicas para atrair a Lojas Americanas. Módulos pequenos e parte do corredor foram extintos para dar espaço à âncora de 1,5 mil metros quadrados. A administração espera que a novidade engrosse o público e potencialize o interesse de lojistas, já que há vários módulos ociosos principalmente no piso térreo.
Collavini reluta em divulgar detalhes, mas garante que negocia a transformação do espaço atualmente ocupado pela praça de alimentação em espécie de alameda de múltiplos serviços que, segundo ele, tem potencial de atração de público ainda maior que o representado pela Americanas.
As opções da praça de alimentação seriam transferidas para outro canto do shopping para que o plano seja executado no início do ano que vem. São sinais evidentes de que o empreendimento lançado em 1990 não está disposto a entregar os pontos na batalha do varejo regional.
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