Economia

Quem não quer
trabalhar aqui?

ANDRE MARCEL DE LIMA - 05/11/2005

A Petroquímica União comemora feito inédito no campo dos recursos humanos: a central de matérias-primas do Pólo Petroquímico de Capuava integra o rol das 150 melhores empresas brasileiras para trabalhar listadas no mais recente guia anual editado pela revista Exame, do Grupo Abril, em parceria com o Great Place to Work Institute. Isso significa que, além de irradiar riquezas ao transformar nafta em insumos para as cadeias de segunda e terceira geração, a PQU consolida imagem de ótima empregadora a 572 funcionários, além de perto de 500 terceirizados em setores tangenciais como segurança, jardinagem, limpeza, manutenção e alimentação. 

A inclusão da PQU na listagem de elite compilada pela revista Exame é resultado de pesquisa realizada em duas etapas. Na primeira, em abril, a PQU e outras quase 500 empresas que se candidataram ao guia foram submetidas a questionário com 24 perguntas sobre diversas questões relacionadas ao bem-estar no ambiente de trabalho, da qualidade da comunicação entre os níveis hierárquicos aos planos de carreira, passando pela avaliação dos benefícios e pelas estratégias voltadas à saúde ocupacional. 

Na segunda etapa 380 colaboradores responderam questionários e por último, pesquisadores foram até a empresa para entrevistar trabalhadores e conferir, in loco, se as informações detalhadas em relatório condiziam com a realidade. “Primeiro descrevemos as práticas e depois eles vieram conferir” — sintetiza Carlos Kiss, gerente de Recursos Humanos. “Sabemos que há empresas do segmento petroquímico que já se inscreveram várias vezes e nunca conseguiram entrar no guia. Tivemos sucesso logo na primeira vez em que nos candidatamos”.

Complexidade de ações 

O que faz a PQU, afinal, para merecer distinção entre as empresas mais cobiçadas pelos trabalhadores no Brasil? Um conjunto complexo de ações e condições que impossibilita a adoção de resposta simplificada ou categórica. 

Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que, ao lado das montadoras de veículos, de algumas sistemistas de autopeças e de poucas empresas petroquímicas integrantes da nata do setor, a PQU ocupa o restrito grupo das grandes organizações que acenam com salários e benefícios muito acima da média no Grande ABC historicamente sindical. E o fato de pagar relativamente mais e melhor pela elevada especialização intrínseca aos processos petroquímicos, explica muito da performance, porém sempre atenta aos impactos na planilha de custos e na competitividade com as outras duas centrais de matérias-primas petroquímicas do Brasil, a Copesul, no Rio Grande do Sul e a Braskem, na Bahia. 

Carlos Kiss enche a boca para falar dos salários e benefícios que convertem os 572 funcionários em ilha de privilegiados no oceano de precarização do trabalho no Brasil, em geral, e no Grande ABC, em especial: o plano de assistência médica administrado pelo Bradesco é digno de sonho num País em que o cidadão comum é obrigado a optar entre a ineficiência do sistema público e os altos custos e as restrições do sistema privado: oferece internações em apartamento a funcionários de todos os níveis hierárquicos, livre escolha de médicos com possibilidade de reembolso, hospitais de primeira linha, além de cobertura para terapias como fonoaudiologia e psicologia. 

Valores flutuantes 

O valor descontado na folha de pagamento varia de acordo com o número de dependentes e da faixa salarial, mas é sempre residual. “No meu caso o desconto pouco inferior a R$ 100 garante atendimento extensivo à minha esposa. Se fôssemos contratar plano similar sem o suporte da empresa desembolsaríamos pelo menos R$ 1,5 mil” — exemplifica Carlos Kiss. 

A exemplo do plano médico, a cesta básica de básica só tem o nome. Seu conteúdo representa cerca de R$ 200 e pode ser moldado de acordo com o gosto do freguês. “Os funcionários escolhem entre configurações pré-determinadas de acordo com o perfil de consumo. Quem é solteiro e mora sozinho tem necessidades diferentes de quem é casado e tem filhos pequenos” — explica Carlos Kiss.

Quem ostenta a logomarca da PQU na carteira de trabalho também não precisa se preocupar em ir e voltar à empresa, já que ônibus fretados atendem a 80% dos funcionários. O salário médio da produção está acima dos padrões nacionais, mas a remuneração vai além. A companhia adota política agressiva de bonificação por resultados que pode representar até cinco salários adicionais ao longo do ano a título de PLR. “Nos últimos quatro anos a média tem sido de 3,2 salários a mais por funcionário” — explica Carlos Kiss. Além disso, a PQU concede abono integral de férias, que representa outro salário adicional. E oferece plano de previdência complementar cuja atratividade é explicitada pela adesão de quase 100%. 

Bem-estar

Ufa! Os ganhos diretos e indiretos são relativamente tão generosos que praticamente dão conta dos motivos que conduziram a PQU às páginas do anuário. Mas, tão ou ainda mais importante do que ganhar bem é sentir-se valorizado e encaixado no ambiente de trabalho, porque o bem-estar psicológico e a saúde física não têm preço. Por isso a PQU se esforça para desobstruir canais de comunicação, estabelecer boas práticas e coibir ações reprováveis, além de promover medidas de qualidade de vida e manter o clima organizacional sob monitoramento contínuo. 

A exemplo da Bridgestone/Firestone e de outras poucas empresas modelares em recursos humanos, a PQU também dispõe de código de conduta para balizar ações de responsabilidade e respeitabilidade. Trata-se de cartilha sucinta, sintomaticamente produzida em papel reciclado. Colaboradores encontram síntese dos valores éticos amalgamados na cultura corporativa, além de parâmetros que determinam relações com clientes, fornecedores, acionistas, governos, comunidade, mídia, sindicatos e até com os concorrentes.

No tópico valorização das pessoas, por exemplo, é ressaltada a importância de respeitar individualidades e valorizar talentos, já que a capacidade de realização da empresa está diretamente ligada ao potencial dos colaboradores. E essa constatação não contradiz o tópico sobre espírito de equipe, que reconhece a importância de incentivar esforços coletivos e o compartilhamento de conhecimentos para obter melhores resultados e tomar decisões mais consistentes.

Humanismo presente

O simples fato de disseminar guia de conduta é positivo na medida em que permite esclarecer oficialmente os tipos de ações e comportamentos esperados dos colaboradores. E não se trata de interferência no modo de ser ou na vida pessoal, como podem imaginar os mais apressados, porque a administração moderna exige que competência profissional e atributos humanos de dignidade e caráter andem de mãos dadas.

Cada funcionário da PQU assume compromisso de zelar pelo conteúdo da cartilha e informar eventuais violações ao comitê de conduta, formado por colaboradores de diversos setores. O comitê garante sigilo da identidade dos denunciantes e recomenda providências à diretoria em casos de caracterização de conflitos de interesses. Caso a ocorrência não esteja prevista no código, o comitê se compromete a analisar e deliberar no prazo máximo de 30 dias. 

A preocupação em oferecer instrumentos de qualidade de vida é outro quesito que pesou na balança dos analistas do guia das melhores empresas brasileiras para trabalhar. Todos os dias, os funcionários interrompem atividades por 10 minutos para sessão de ginástica laboral com orientação de profissionais de educação física. 

Da recepção à operação dos processos produtivos, todos param para esticar braços e ombros e respirar profundamente para relaxar, evitar lesões e colocar em ordem o sistema músculo-esquelético. A importância atribuída à ginástica laboral gera até situações inusitadas: se o visitante chegar à empresa bem na hora da sessão, e se puder, espera até que todos cumpram o ritual. 

A consciência de que a saúde dos colaboradores reflete na produtividade também se faz notar em programas anti-drogas e de saúde da mulher. O programa anti-tabagismo merece atenção especial de Carlos Kiss: dos 23 participantes, 14 abandonaram totalmente o vício e sete reduziram substancialmente a quantidade de cigarros. Apenas dois não mudaram de atitude em relação ao mal que lidera o ranking dos fatores de risco de doenças cardiovasculares. O programa atuou tanto na parte psíquica como bioquímica. Além de trazer especialistas, a PQU custeou 70% do valor dos medicamentos necessários. 

Em alguns meses os colaboradores terão mais motivação para levar vida saudável. A ADC (Associação Desportiva Classista), instalada bem em frente à companhia, passa por reforma geral. O investimento atinge R$ 3 milhões e envolve construção de atrativos como campo de futebol society, quadra de tênis, academia de ginástica, novos vestiários e áreas de convivência. 

O conjunto de ações em recursos humanos é responsável pela melhoria constante do ambiente organizacional. Na pesquisa mais recente, realizada no final de 2004, o índice de satisfação atingiu 68%. Significa que quase sete em cada 10 funcionários consideraram condições de trabalho boas ou ótimas. Em 2003 o índice de satisfação era de 63,7% e em 2002 atingiu 59,4%. “Evoluir em clima organizacional não é fácil, porque é questão de percepção, intangível” — pondera Carlos Kiss.

Diante de tantos esforços, a relação entre companhia e empregados se consolida como parceria duradoura. Nada menos que 39% dos funcionários estão na PQU entre 11 e 15 anos, 17% trabalham na empresa entre 16 e 20 anos e 16% completaram mais de duas décadas. Em contraposição, apenas 6% foram contratados há menos de dois anos, 14% entre dois e cinco anos e 8% entre seis e 10 anos. “Quarenta e cinco vagas foram preenchidas por funcionários da própria empresa nos últimos três anos. Sempre que possível, prestigiamos pratas-da-casa em vez buscar fora” — explica Carlos Kiss. 

O mapa educacional também está à altura do alto grau de especialização exigido na indústria de insumos petroquímicos: 25% dos funcionários têm Ensino Superior completo, 16% estão com o Superior incompleto, 46% concluíram o Ensino Médio, 6% têm o Médio incompleto e 7% terminaram apenas o Ensino Fundamental. A PQU investiu R$ 1,350 milhão em treinamento em 2004. A média aplicada a cada funcionário atingiu 88 horas.



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