A General Motors enfrenta paradoxo que simboliza o maior drama da indústria automobilística no Brasil: a montadora sediada em São Caetano é uma das líderes de vendas no País, mas amarga prejuízo desde 1997, de acordo com o diretor de Assuntos Institucionais, Luiz Moan. Há pelo menos duas razões estruturais para o fiasco financeiro. A primeira é a alta ociosidade.
O parque nacional instalado tem capacidade para 3,2 milhões de veículos, volume muito superior aos 2,2 milhões que saíram das linhas de montagem das montadoras no ano passado. Para complicar, a maior parte das vendas trafega na faixa dos populares, como são chamados os produtos mais simples, de baixa motorização e rentabilidade apertada.
Conclusão: além de digladiarem entre si, as montadoras precisam lutar contra a baixa elasticidade do mercado interno deprimido pela baixa renda per capta e alta taxa de juros, além de rezar para que o câmbio melhore e proporcione mais fôlego às exportações.
Dado o contexto nacional da indústria mais competitiva do planeta, fica mais fácil compreender as intenções da GM com o novo Vectra. Diferentemente do Celta, da própria GM, Gol e Fox, da Volks, Uno, da Fiat, ou Fiesta, da Ford, a novidade da fábrica de São Caetano embute motor potente, conforto, sofisticação e se destina a público mais aquinhoado, capaz de desembolsar R$ 59.990 pela versão mais econômica — o dobro do preço de um automóvel de entrada.
Carta na manga
O novo Vectra embute maior valor agregado, mais rentabilidade e, por isso, tem potencial para se converter em espécie de carta na manga da montadora em busca do azul financeiro. A projeção de vendas é de 3,5 mil unidades por mês. Nada mal para produto destinado à faixa superior da pirâmide social.
Para que o plano se transforme em realidade, o novo Vectra terá de desbancar concorrente que nada de braçadas no apetitoso nicho dos sedans médios: o Corolla, fabricado pela japonesa Toyota em Indaiatuba, na Grande Campinas. O Corolla marcou a inauguração da fábrica no Interior de São Paulo em setembro de 1998 e se consolidou como líder absoluto de vendas no segmento desde que foi totalmente reestilizado e teve a capacidade produtiva triplicada, em junho de 2002. Foram 37.305 unidades vendidas no Brasil em 2004 e 25.723 entre janeiro e setembro deste ano.
O sucesso do automóvel global com mais de 30 milhões de unidades vendidas no mundo levou a subsidiária brasileira a replicar o conceito no mix com o lançamento da perua Corolla Fielder, em 2004. Outra aposta bem-sucedida. A Fielder lidera a corrida na pista das station wagons com 9.553 unidades vendidas nos primeiros nove meses deste ano.
Tiro Certo
Com portfólio restrito a dois veículos meticulosamente planejados de olho no retorno financeiro, e não da participação de mercado, a montadora japonesa é uma das poucas que se orgulha de ostentar balanço positivo no Brasil, conforme revelou recentemente o presidente Hiroyuki Okabe. Cautelosa, a Toyota trafega na mão oposta da GM e de outras fabricantes em larga escala que procuram preencher todas as categorias, dos populares às picapes, na esperança de que o mercado doméstico justifique investimentos num futuro não muito distante.
E enquanto o milagre da multiplicação de consumidores não se concretiza, as montadoras amortizam custos fixos com exportações. Mesmo em tempos de rentabilidade comprometida por conta da apreciação cambial.
O novo Vectra demandou investimentos de R$ 500 milhões na planta de São Caetano, além de R$ 100 milhões na fábrica de motores em São José dos Campos. Os valores correspondem à terceira atualização do modelo, lançado em 1993 e remoçado em 1999. O Vectra agonizava vendas pífias até que a GM resolveu dar um banho de design a fim de reanimar o modelo e, de quebra, do rival japonês.
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22/11/2024 SÍNDROME DA CHINA AMEAÇA GRANDE ABC